Nos últimos anos, o cinema viu uma nova era de filmes de horror surgir no cenário brasileiro. Não que o cinema nacional de horror já não fosse um mar de ótimas produções, basta lembrar o primeiro filme de horror: À Meia-noite Levarei Sua Alma (1964) de José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão. Porém, há quem diga que tempos sombrios rendem filmes sombrios.
Nesse sentido, o cinema de horror sempre foi um porta voz do seu tempo. Parece natural que esses filmes representem o contexto social atual com produções repletas de alegorias e conceitos que buscam tratar da violência do dia a dia. Logo, é interessante ver que nem sempre esses filmes irão falar do terror que se conhece dos filmes de Hollywood, aqui busca-se o novo.
Essa nova onda de filmes de horror no cinema nacional vêm de uma nova geração de jovens cineastas que querem dar voz a uma linguagem própria e autoral. Sendo assim, o cinema de horror no Brasil cresce cada vez mais e se torna único na medida que esses jovens não se preocupam em imitar os filmes norte-americanos.
Por muitas vezes essas produções vão além do horror ou simplesmente, o usam como recurso para expressar outras preocupações. É o fato de não limitar as produções que contribui para uma vasta gama de filmes.
Dessa maneira, tem o terror tradicional com Morto Não Fala, o de slasher com O Animal Cordial, o existencialista com A Noite Amarela, o sanguinolento com O Clube dos Canibais e o de monstro com As Boas Maneiras. São produções distintas, mas que se apoiam em um único ponto: O Brasil.
Conheça cada um dos filmes para não perder essa Era de Ouro do cinema nacional!
AS BOAS MANEIRAS (2017)
As Boas Maneiras é um filme único em todo cenário de horror mundial, a mistura de fábula com temas como desigualdade revelam a potência deste filme que não pretende se apegar a uma definição.
É fato que os diretores, Juliana Rojas e Marco Dutra buscaram trazer um aspecto lúdico contando uma história de lobisomem. Porém, o que acontece em As Boas Maneiras é a vivência e o amparo entre mulheres, a responsabilidade e o medo de ser mãe e a raiva pelo desconhecido.
Desse modo, sua narrativa constrói uma experiência bem forte com as aparições do lobisomem. O CGI não é uma técnica muito usada no Brasil, talvez por isso, a beleza do filme está em não poupar esforços. Com atuações magníficas e um clima tenebroso, o sentimento de angústia e solidão chega ao espectador.
O ANIMAL CORDIAL (2017)
Anotem esse nome: Gabriela Amaral Almeida. Em O Animal Cordial, a diretora e roteirista dá um show de simbolismo e tensão social. O longa pode confundir a primeira vista com os slashers americanos dos anos 80, contudo, sua trama se foca na construção de personagens totalmente contrários uns aos outros.
Existe uma crítica a classe social, etnia e gênero, mas Almeida conduz o debate de forma exemplar, o não dito se transforma em olhares e gestos. O clímax do filme está na coragem de potencializar seus personagens ao máximo. Dessa maneira, o sabor do amargo que permeia o longa até sua conclusão não é algo bonito, é repulsante, mas ao mesmo tempo hipnotizante.
A NOITE AMARELA (2019)
A Noite Amarela pode entrar naquelas caixinhas de filme existencialista que beira a fala de “filme de arte”. Entretanto, o longa oferece muito mais do que um discurso raso, é acima de tudo uma história sobre medo do futuro. O fim do ciclo da adolescência é visto como fantasmagórico no longa e mesmo se passando em uma praia, a sensação é claustrofóbica.
Desde o momento que os personagens chegam na ilha a imagética é totalmente posta a prova. A montagem contribui muito para o sentimento que o filme deseja passar, nos dois primeiros atos a inserção do irreal é sutil para que no terceiro ato acerte em cheio, construindo suspense e acima de tudo, medo do inevitável.
MORTO NÃO FALA (2019)
O longa de Dennison Ramalho poderia se encaixar nos típicos filmes de fantasmas que trazem sustos e atormentam os personagens. Contudo, em Morto Não Fala, o thriller sobrenatural é ditado pelas experiências e consequências dos atos de Stênio. Ao quebrar uma de suas regras para não se envolver demais nas conversas dos mortos, ele cai em desgraça.
O filme é uma afirmação a Era de Ouro no cinema nacional. Visto que, o tema sobrenatural configura como pano de fundo para mostrar um homem fraco com problemas familiares. A ambientação na periferia de São Paulo, uma cidade extremamente dura, trás o explícito da violência cotidiana.
O CLUBE DOS CANIBAIS (2019)
Com O Clube dos Canibais o gore renasce no cinema nacional. A extrema violência por diversão sempre traz um desconforto no público e não à toa, neste filme a sanguinolência é atrelada a uma crítica social. No Clube dos Canibais os patrões literalmente comem seus funcionários, é a mistura entre poder, sadismo e prazer que constrói a elite brasileira.
Logo, a representação do Brasil dos ricos é levado ao máximo, eles fazem o que fazem simplesmente porque podem. Porém, o filme implica em satirizar a classe rica e leva o longa para um momento que pode parecer clichê, mas que traz um certo alívio. De fato, O Clube dos Canibais reafirma que o Brasil não é para iniciantes.
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