Vila Mimosa é a área de prostituição mais conhecida do Rio de Janeiro. Sua fama a precede, sendo considerada quase um ponto turístico – e exótico – da Cidade Maravilhosa. Porém, é nos relatos das profissionais que fazem da “VM” sua casa que se encontram as histórias mais profundas. Histórias de solidão, de sobrevivência, de luta. Este é o viés do premiado curta-metragem Mercadoria, dirigido por Carla Villa-Lobos.
Selecionado em mais de 50 festivais ao redor do mundo, Mercadoria conta a história de seis mulheres que trabalham como prostitutas na Vila Mimosa. Num modelo que transita entre o documental e a ficção, a produção retrata, por meio de relatos e situações, a visão de mulheres de diferentes idades e perfis sobre o seu trabalho e os desafios diários que elas passam nessa profissão.
Usando como base a história ficcional de uma jovem que chega para trabalhar em uma das casas de prostituição, o curta utiliza seus 15 minutos para intercalar as descobertas da novata com relatos reais de mulheres que trabalham na VM. Ao analisarmos e sermos impactados pelas histórias expostas em tela, é perceptível o tamanho da solidão e tristeza que muitas dessas mulheres passam todos os dias.
Algumas das profissionais reconhecem o seu trabalho e tiram disso o melhor possível. Não pensam em sair, tampouco imaginam uma vida longe daquela realidade. A VM se tornou sua vida. Outras trabalham por não existir outra alternativa, por não possuírem outra forma de sustentar sua família – que não sabe nada sobre o trabalho – e suas dívidas. É quase como viver em um universo paralelo: ninguém sabe sobre a sua história, assim como não há com quem conversar sobre ela.
É destes casos que surgem os relatos mais profundos e pesados. “A gente não é nada, ninguém lembra da gente, ninguém sabe que a gente existe”, cita uma das entrevistadas. Outra profissional afirma que, ao término do dia, chega em casa e chora. Chora por se sentir suja, chora por não ter opção. O abandono destas mulheres que encontram em seu corpo a única solução para sustentar suas famílias é escancarado e não pode ser ignorado.
Mercadoria abre espaço para o debate e a reflexão sobre o local e a voz dessas mulheres na sociedade. Expondo o descaso, a dor, o esquecimento e, principalmente, o preconceito sofrido por simplesmente terem a profissão que têm. Desde a falta de oportunidade até as agressões físicas e psicológicas que sofrem dos clientes , o que encontram é um beco que parece sem saída. Mesmo nestas condições, a maioria delas não parece perder as esperanças de dias melhores — e de que todo o sacrifício, um dia, terá fim.
Confira o teaser do curta-metragem: