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CRÍTICA – A Cabeça de Gumercindo Saraiva (2018, Tabajara Ruas)

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Estreia nacional, A Cabeça de Gumercindo Saraiva, vai além de um filme de época e levanta questões políticas e sociais atuais.

Longa do diretor Tabajara Ruas narra a disputa entre o militar Ramiro de Oliveira e o Maragato Francisco Saraiva pela cabeça do líder revolucionário Gumercindo Saraiva.

A que se deve a guerra e o discurso de ódio? Quanto vale a vida e os princípios do outro, especialmente se eles vão contra o que eu mesma tomo como verdade absoluta? Questões que fazem eco desde que assisti à pré-estreia de A Cabeça de Gumercindo Saraiva, na última segunda-feira (22/10).

Ao se distanciar, em tempo e lugar, do calor apaixonado dessas eleições polarizadas, a produção oferece fôlego para auxiliar na reflexão sobre valores sócio-comportamentais e políticos que são atemporais. O longa é uma ficção baseada no livro Gumercindo, do diretor e roteirista Tabajara Ruas. Um verdadeiro brinde à chance de exercitar o senso crítico.

A trama convida o expectador a revisitar seus conceitos de poder, honra, justiça e propósito. A fotografia e ambientação lembram a série A Casa das Sete Mulheres, exibida pela TV Globo (2003) e que também se passa no final do Séc XIX, no Sul do Brasil. As cenas aéreas com paisagens das serras gaúchas modernizam a estética da produção de época.

Em meio da Revolução Legalista, de um lado, rebeldes conhecidos como Maragatos e do outro, os militares Legalistas. Em comum, a certeza de que a justiça lhes era devida. O objetivo inicial da batalha se desfigura quando o líder revolucionário Gumercindo Saraiva, após morto, tem sua cabeça roubada pelos legalistas. A partir deste ponto, se inicia a saga do Major Ramiro (Murilo Rosa) e seus dois ajudantes para entregar o troféu em decomposição ao então governador do Rio Grande do Sul. No caminho até Porto Alegre, os principais rivais do trio são a família do morto, liderada por seu filho Francisco Saraiva (Leonardo Machado), que quer reaver o membro para enterrar junto ao corpo.

Mais do que um filme sobre uma guerra, a trama desperta questões morais e comportamentais presentes nos mais diversos cenários cotidianos. A produção se distancia do glamour ao retratar as cenas de luta e execução, a ausência de efeitos especiais digitais acaba aproximando muito mais quem assiste dos horrores do confronto homem a homem. O retrato é de uma luta cega em que os próprios envolvidos, há muito já se esqueceram o porque brigam. Uma excelente metáfora para relações humanas que não dependem de um campo de batalha no sentido literal da palavra.

Tanto faz se o lado é dos rebeldes ou dos militares, uns lutam cegamente, como peões em um tabuleiro de xadrez, com movimentos pré-formatados e objetivos sem envolvimento emocional algum. Matar ou morrer é apenas mais uma tarefa. Enquanto outros fazem da honra e da reputação os maiores combustíveis para seguir na batalha. Seja por viés pessoal, ou cumprindo ordens, matando ou morrendo, duas certezas prevalecem: o seu exército é sempre o certo, portanto, Deus também está deste lado.

Questões como o valor de uma vida humana e o limite a partir de onde passa a ser válido torturar, agredir e matar são postos diante do espectador. O filme segue embalado por diálogos que combinam português com sotaque gaúcho e espanhol para marcar as fronteiras culturais da região. Os textos profundos trazem questionamentos filosóficos sobre fé, família, patriotismo e lealdade.

Avaliação: Ótimo

Confira o trailer:

A nova trama do cinema nacional, que chega ao público nas telonas nesta quinta-feira (25/10), se torna ainda mais oportuna diante do atual cenário político-social do país. E você, o que achou da crítica? Deixe seu comentário e lembre-se de nos acompanhar nas principais redes sociais!

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