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CRÍTICA – A Vida Invisível (2019, Karim Aïnouz)

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Ser uma família é algo maior do que apenas fazer parte de uma mesma linhagem sanguínea. É necessário que um elo se forme entre essas pessoas, tornando a ligação inquebrável independente do que aconteça. A Vida Invisível, indicação do Brasil para o Oscar 2020, retrata a história de Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler), irmãs que nem o tempo consegue separar.

A trama de A Vida Invisível inicia nos anos 1950, no Rio de Janeiro, quando vemos Eurídice e Guida morando juntas na casa de seus pais. A família portuguesa na qual elas fazem parte é extremamente rígida, reflexo de um tempo conservador e machista. Em uma certa noite, Guida resolve ir a uma festa escondida para encontrar um marinheiro grego. Eurídice ajuda Guida em sua aventura, mas a irmã resolve não voltar para casa.

Durante todo o longa, acompanhamos os acontecimentos da vida de Eurídice e Guida separadamente, presenciando suas escolhas e vivenciando, junto às personagens, a tristeza de ser uma mulher – em qualquer era. O nome Vida Invisível, que dá título ao filme, não poderia ser mais certeiro ao retratar a vida de ambas as mulheres: suas existências não valem nada aos olhos dos outros.

Eurídice e Guida não tem o direito de ter vontades ou necessidades. É angustiante e extremamente doloroso acompanhar cada passo dado pelas personagens, percebendo que a cada novo caminho, mais longe elas estão de suas vontades e objetivos. O papel de ser mulher na sociedade e ser vista apenas como alguém que deve reproduzir e servir à família é tortuoso.

A direção de Karim Aïnouz é esplêndida. A forma como o diretor conduz Carol, Julia, Bárbara Santos (que interpreta Filomena) e Fernanda Montenegro, dando espaço para que as atrizes tragam para tela todo seu potencial é fantástica. A fotografia de Hélène Louvart é outro ponto técnico que merece reconhecimento, assim como a montagem de Heike Parpiles.

Inúmeras cenas de A Vida Invisível refletem – até mesmo sem palavras – o silenciamento e a melancolia que permeia a história das duas irmãs. Os cômodos pequenos e pobres, o enclausuramento de almas que sonham em serem livres, a falta de cor na vida de todas as mulheres do longa. Um trabalho irretocável.



Tudo no longa reflete a época em que o filme se passa, porém, muitos elementos ainda fazem parte da vida das mulheres nos dias atuais. O machismo e patriarcado em que vivemos, o eterno julgamento das escolhas feitas pelas mulheres – e que não são julgadas da mesma forma quando feitas por homens -, a falta de controle sobre suas vidas e, principalmente, sobre seu corpo. Lutas tão reais e diárias ainda nos anos atuais.

O final agridoce de A Vida Invisível é dilacerador. Simples e extremamente emocionante, o último arco é engolido pela atuação de Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes brasileiras. Apesar de ter poucos minutos de tela, Fernanda consegue levar os espectadores às lágrimas, deixando-os sem saber o que fazer com suas vidas após o término do longa.

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A Vida Invisível é um filme que não tem medo de retratar a verdade crua e triste. Todos os acontecimentos são objetivos e seus desfechos (imprevisíveis), poderiam ser facilmente relatados por uma pessoa próxima em um dia qualquer. Além do silenciamento das mulheres, saber que qualquer um desses pontos ficcionais da trama podem acontecer, todos os dias, em alguma casinha numa rua qualquer, traz para a produção uma verdade difícil de ignorar.



O longa é uma das melhores escolhas feitas pelo Brasil para concorrer ao Oscar. Mesmo com outras produções grandiosas já certas para concorrer na categoria, seria incrível ver Fernanda Montenegro e A Vida Invisível entre um dos indicados da premiação.

A Vida Invisível estreia nos cinemas no dia 21 de Novembro. Não esqueça de deixar sua avaliação sobre o longa:

Confira o trailer:

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