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CRÍTICA – Cidade de Mentiras (2021, Brad Furman)

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CRÍTICA – Cidade de Mentiras (2021, Brad Furman)

Cidade de Mentiras (City of Lies) estreou em todas as plataformas digitais, para compra e aluguel, no dia 26 de maio. Baseado na obra não-ficcional LAbyrinth, de Randall Sullivan, e estrelado por Johnny Depp e Forest Whitaker, o longa teve seu lançamento cancelado em 2018 e só chegou ao grande público agora, três anos depois.

SINOPSE

Russell Poole (Johnny Depp) é um detetive da polícia de Los Angeles incumbido de resolver um dos casos mais emblemáticos de violência dos Estados Unidos: a morte dos famosos rappers Notorious B.I.G. e Tupac Shakur.

ANÁLISE

Cidade de Mentiras se vende como um filme ficcional, mas baseado em fatos reais, que reconstrói a história do assassinato de Christopher Wallace (mais conhecido pelo nome artístico Notorious B.I.G.) e Tupac Shakur. Entretanto, o longa dirigido por Brad Furman e roteirizado por Christian Contreras falha em seu único objetivo, criando um emaranhado de ideias incompreensíveis para o grande público.

Na história acompanhamos o jornalista Jack Jackson (Forest Whitaker), um profissional que, muitos anos antes, criou uma fake news de que Notorious B.I.G teria sido responsável pela morte de Tupac. Décadas depois, Jack é encarregado de produzir uma matéria retrospectiva sobre a morte de Biggie, o que acaba o levando a entrevistar Russell Poole (Depp), um detetive aposentado que passou sua vida toda tentando provar quem era o responsável pela morte do rapper mais famoso do mundo.

A partir daqui, a montagem do filme mescla diversas cenas entre passado e presente, tentando criar uma narrativa entre os acontecimentos da vida de Russell e a tal matéria especial que Jack precisa montar. Durante os 112 minutos de filme, acompanhamos cortes abruptos entre cenas que, salvo as que se passam no passado, parecem ser todas filmadas no mesmo dia.

A precariedade na construção de Cidade de Mentiras é espantosa para uma história tão cheia de nuances como essa. Afinal, estamos falando apenas do assassinato de uma lenda do rap e cujo caso continua em aberto até os dias atuais. É frustrante como um material tão importante, e que possui um conteúdo tão rico a ser explorado, pode ter sido tratado de forma tão estranha.

A falta de foco na condução da narrativa é estarrecedora, pois na ânsia de criar uma história de ficção baseada em fatos reais, o longa se perde em seu próprio objetivo, não entregando nem ficção e nem algo documental.

É impossível dizer que o longa foca em seus personagens principais, pois tirando o assassinato de Notorious B.I.G, nós não sabemos mais nada sobre os dois. Poole possui um filho e eles não se dão bem, mas em nenhum momento conseguimos entender por que essa relação é importante na história ou por que eles não se falam. Não existe nenhuma pretensão de aprofundar o personagem e nem de finalizar suas situações em aberto.

O personagem Jack, então, nem se fala. Sabemos que ele é um jornalista e que ele criou uma teoria uma vez, em algum tempo. Além disso, mais nada. Em poucos diálogos com Poole, ele se torna esse grande justiceiro instantâneo tentando descobrir a verdade.

É perceptível que alguma coisa aconteceu com a montagem de Cidade de Mentiras, pois diversas cenas parecem ter sido tiradas de partes anteriores da trama e acrescentadas mais para frente, próximo do fim do longa. É impossível ter uma noção de tempo durante a condução do filme, pois além dos personagens estarem quase sempre com as mesmas roupas, os cenários e situações parecem se repetir constantemente.

No fim, a experiência passa a impressão de que uma grande parte do filme ficou na sala de edição, faltando cenas de transição entre as situações e tornando todo o desenrolar estranho e corrido.

Cidade de Mentiras funcionaria muito melhor como um documentário, contando a história na perspectiva do autor do livro e trazendo todos os fatos do suposto envolvimento da polícia de Los Angeles no assassinato de Biggie. Um bom exemplo de adaptação do tipo é a série Os Filhos de Sam, que mostra a fixação de Maury Terry nos casos de assassinatos ocorridos em Nova Iorque nos anos de 1970.

Além do confuso roteiro e da desastrosa edição, a direção de Furman não ajuda. A condução não parece segura, fazendo com que Whitaker esteja em um tom de atuação completamente diferente de Depp. Apesar do longa tentar o tempo todo nos vender uma química de “parceiros” entre os dois, é impossível comprar essa experiência, tornando todo o confronto deles no terceiro ato algo completamente banal.

VEREDITO

Cidade de Mentiras perde a chance de fazer justiça à história que se propõe a contar. Em um misto de ficção e realidade, o longa não acerta em nenhuma de suas escolhas, entregando um projeto simplista e aquém do esperado.

1,0/5,0

Assista ao trailer

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