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CRÍTICA – Marte Um (2022, Gabriel Martins)

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Marte Um

Marte Um é um filme de ficção dramático que conta a história de uma família da periferia de Contagem, Minas Gerais. O longa que fala sobre a importância de sonhar e nunca desistir foi exibido pela primeira vez em janeiro, no Festival Sundance, onde foi aplaudido de pé pelos espectadores.

Ainda que muitos críticos especializados tentem categorizar o longa como “estética de quintal”, ou uma espécie de “cinema proletário”, a produção foge de qualquer caixa que os críticos mais tradicionais o tente encaixar e brilha ao exprimir pequenas angústias diárias e temores que uma grande parte da sociedade vive e ajudam a compor o incômodo que se instala em grande parte dos habitantes das regiões periféricas.

O longa independente foi produzido pela Filmes de Plástico, de Contagem, e ganhou 4 prêmios no 50º Festival de Gramado. Ainda que faça diversas críticas ao atual sistema capitalista que se sustenta em um tardio resultado da escravidão, Marte Um é um filme sobre esperança e sonhos.

SINOPSE

Uma família negra da periferia de Contagem, Minas Gerais, busca seguir seus sonhos em um país que acaba de eleger como presidente um homem de extrema-direita, que representa o contrário de tudo que eles são.

ANÁLISE

Marte Um pegou esse que vos escreve de surpresa, com a guarda baixa, por assim dizer. Enquanto esperava um filme otimista, e leve, fui arrebatado com o peso de uma trama identificável para qualquer habitante de uma região periférica brasileira. Ainda que aborde temas diretamente ligados às mais diferentes vivências, o filme faz uma crítica contundente enquanto prioriza em sua trama a força dos personagens que precisaram se encaixar em um mundo que o tempo todo parecem não pertencer.

As angústias alimentadas pelo roteiro do filme, nos fazem viajar pelos diversos núcleos da trama, enquanto o personagem mais jovem daquela família, parece ser ambientado à apenas seu núcleo familiar, ou seja, enquanto a mãe Tércia (Rejane Faria), o pai Wellington (Carlos Francisco) e a irmã mais velha de Deivinho (Cícero Lucas), Eunice (Camilla Damião) tem funções à desempenhar para a manutenção daquele núcleo, Deivid só precisa jogar bola e “cumprir” o sonho de seu pai.

Enquanto entram em uma espiral de acontecimentos e crescimento que mudam completamente o panorama daquela família, Marte Um fala em seus momentos mais profundos sobre abnegação, egoísmo, sofrimento e traumas. Em seus momentos mais leves, sopra vento por debaixo das asas de seus protagonistas e os lançam em cenas cotidianas com um ar de tirar o fôlego.

O papel de Marte Um diante do atual cenário audiovisual brasileiro é jogar luz por sobre a falta de programas de incentivo, e não negar que existem tramas reais, dificuldades diárias e histórias a serem contadas. O que é ser humano e a condição de ser humano é um dos elementos que mais se destacam em longa-metragens, e o atual cenário cultural brasileiro ainda possui muitas histórias a contar, principalmente depois de tanto tempo sem espaço e sem voz.

VEREDITO

Marte Um é um filme contundente e que vai te emocionar. Ambientado nos últimos meses de 2018, embarcamos em uma viagem a um Brasil prestes a se tornar o que é hoje, com a subida do neofacismo ao poder, o filme se espalha pelas camadas que deve se espalhar, e enquanto a fina linha separar os problemas da trama do mundo real se misturam, o filme cresce e não há nada que o faça se tornar diminuto e tímido como em seu início.

Marte Um é o segundo filme dirigido por Gabriel Martins, tendo sido o primeiro No Coração do Mundo (2018), o diretor apresenta problemas cotidianos, relativos à vivência e à rotina de Contagem.

Marte Um estreia nos cinemas de todo o Brasil no dia 25 de agosto e merece ser assistido no primeiro final de semana.

5,0 / 5,0

Confira o trailer do filme:

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