Seja você é uma pessoa que ama futebol ou entusiasta apenas em época de Copa do Mundo, certamente conhece Roberto Baggio. Sim, o atacante italiano que errou o pênalti contra o Brasil na final de 1994 e sagrou a seleção brasileira tetracampeã do mundo.
O que talvez você não conheça são as facetas pessoal, intimista e religiosa do atleta – tudo exibido em O Divino Baggio.
Dirigido por Letizia Lamartire, o documentário italiano é um Original Netflix desenvolvido pela Fabula Pictures. A produção estreou no streaming em 26 de maio de 2021.
SINOPSE
Sucesso na carreira, lesões e budismo: conheça a história de Roberto Baggio, um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos.
ANÁLISE DE O DIVINO BAGGIO
Assim que vi O Divino Baggio na lista de lançamentos da Netflix em maio tive vontade de assistir. Logo lembrei do documentário Becoming Zlatan, que no passado assisti no mesmo serviço de streaming e atualmente está disponível no Prime Video. A produção sobre a carreira de Zlatan Ibrahimovic é muito boa e me fez ter interesse por documentários de jogadores de futebol.
Acontece que O Divino Baggio não tem nada a ver com o material sobre o Ibra. Isso porque a nova produção da Netflix é, na verdade, um documentário dramatizado – algo interessante de ver em um projeto sobre futebol.
Aqui, Roberto Baggio – carinhosamente chamado de Roby – é bem interpretado por Andrea Arcangeli.
A produção inicia traçando um paralelo entre a infância de Baggio e o momento mais lembrado da carreira do jogador. Bem, ao menos o mais lembrado pelo povo brasileiro.
A montagem é competente ao usar uma dramatização da infância para remeter ao pênalti perdido logo no começo. A forma como a transição de tempo é feita após essa cena destaca que a vida de Roberto Baggio não se limita ao pênalti perdido na final de 1994.
O Divino Baggio conta a história do ícone com objetividade. A relação complicada do atleta com o pai, Florindo (Andrea Pennacchi), em uma família com mais sete irmãos, é explicada em cenas rápidas e fáceis de entender o contexto.
A produção da Netflix retrata a carreira de Roberto Baggio desde os 17 anos, quando jogava no Vicenza, clube da 3ª divisão italiana. Foi onde ele se destacou a ponto de ser comprado pela Fiorentina, da Série A.
A derrota na Copa do Mundo de 1994 não é o único drama vivido por Roby. Desde jovem, quando já era visto como um jogador diferenciado, ele sofre com graves lesões.
É por causa de uma lesão em sua chegada à Fiorentina que se dá o vínculo com o budismo. O que de início foi como uma tentativa sem muita fé acaba se tornando uma forte devoção, a ponto de ser reconhecida entre a comunidade budista.
O tripé família – futebol – budismo permeia toda sua trajetória. Todos são vínculos muito fortes na vida e nas decisões de Roberto Baggio.
Poucas imagens históricas
A diretora Letizia Lamartire optou por dramatizar diversos acontecimentos, inclusive a final contra o Brasil, ao invés de usar vídeos históricos. Isso me causou um certo estranhamento, por vezes um incômodo, mas que ao término do documentário considerei satisfatório.
Eu acredito que a falta de imagens de acervo, especialmente no início de O Divino Baggio, possa afastar pessoas interessadas na produção. No entanto, se esse for o seu caso, recomendo que você dê uma chance e assista até o fim, pois vale a experiência.
Baggio e a Copa do Mundo de 1994
Em termos de futebol, o ponto alto do documentário são os bastidores da Itália de Baggio durante a Copa do Mundo nos Estados Unidos, em 1994. É quando a dramatização das jogadas se destacam, inclusive com a recriação dos gols do jogador.
É verdade que para nós, brasileiras e brasileiros, fica um pouco aquém a dramatização contra o Brasil, pois nitidamente os atores que interpretam os atletas brasileiros, entre eles Dunga e Taffarel, não ficaram parecidos. Entretanto, o design de produção recriando todos os uniformes presentes no documentário é de encher os olhos até mesmo dos colecionadores de camisas de futebol.
Outro ponto positivo das cenas na Copa do Mundo é a relação de Baggio com o lendário treinador Arrigo Sacchi, interpretado por Antonio Zavatteri. Ambos estão em constante atrito, deixando claro que o comportamento de Baggio tem ligação direta com o seu relacionamento com o próprio pai.
O Divino Baggio é maior que as derrotas
A escolha por contar a história de Roberto Baggio dramatizada é diferente, talvez até inusitada, e entendo que funcionou muito bem.
Em um momento como o atual, em que percebemos a idolatria de jogadores que constantemente quebram recordes e levantam taças, pode soar estranho o título de divino para um atleta que conquistou poucos títulos dentro de campo.
É verdade que individualmente Baggio foi exemplar e recebeu dezenas de honrarias. A principal delas foi a eleição como Melhor Jogador do Mundo pela FIFA em 1993. Mas pode ocorrer um estranhamento, especialmente para gerações mais jovens, acostumadas a máquinas humanas como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, que constantemente quebram recordes individuais e em seus times.
E acredito que o forte so documentário é justamente mostrar que sim, Roberto Baggio é divino. A divindade de Roby advém da superação de desafios e lesões, que acarretaram também em pesadas dúvidas que fariam muitas pessoas desistirem dos próprios sonhos.
Acima de tudo, O Divino Baggio constrói bem a narrativa para comprovar que o jogador é especial por ser humano. Humano com falhas, erros, dúvidas… e capacidade de levantar a cabeça, perdoar e seguir em frente tendo por perto tudo o que é importante para si – amigos, família e religião, no caso dele.
VEREDITO
O Divino Baggio é uma produção diferente e até inesperada de se ver no meio esportivo. Particularmente, minha expectativa era de assistir a um documentário sobre a trajetória dele dentro de campo, com rico acervo histórico de fotos e vídeos.
Entretanto, fui positivamente surpreendido com um filme bem feito e emocionante, que foca no lado humano, pessoal e introspectivo do lendário italiano. Sem dúvidas, uma experiência que merece ser assistida por amantes do futebol e pessoas interessadas em conhecer ícones mundiais.
4,0 / 5,0
Assista ao trailer de O Divino Baggio:
Curte nosso trabalho? Que tal nos ajudar a mantê-lo?
Ser um site independente no Brasil não é fácil. Nossa equipe que trabalha – de forma colaborativa e com muito amor – para trazer conteúdos para você todos os dias, será imensamente grata pela sua colaboração. Conheça mais da nossa campanha no Apoia.se e nos ajude com sua contribuição.