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CRÍTICA – O Último Duelo (2021, Ridley Scott)

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CRÍTICA - O Último Duelo (2021, Ridley Scott)

O filme O Último Duelo, que possui direção de Ridley Scott e roteiro de Nicole Holofcener, Matt Damon e Ben Affleck, já está disponível no Star+. O longa é uma adaptação do livro homônimo de Eric Jager, e também conta em seu elenco com os atores Adam Driver e Jodie Comer.

Confira nossa análise da produção.

SINOPSE

O escudeiro Jacques Le Gris (Adam Driver) ataca Marguerite de Thibouville (Jodie Comer), esposa de Jean de Carrouge (Matt Damon), um respeitado cavaleiro. Ela o denuncia, em um ato de coragem que põe sua vida em risco. O julgamento por combate, um duelo até a morte, coloca o destino dos três nas mãos de Deus.

ANÁLISE

Um crime com três versões, um conto medieval, um filme épico, um acontecimento histórico. O Último Duelo de Ridley Scott tem múltiplas facetas que, tal como sua narrativa inicial, deseja ludibriar o espectador para entregar somente no último ato um filme íntegro e honesto. 

Dividido em três partes, o longa relata os acontecimentos de janeiro de 1386 na França. Marguerite de Thibouville, esposa do cavaleiro Jean de Carrouges, foi atacada e violentada pelo escudeiro Jaques Le Gris, em sua própria casa. O crime levou o cavaleiro e escudeiro a protagonizarem o último julgamento por duelo mortal na Idade Média e também trouxe uma das poucas vezes em que houve uma denuncia de estupro na época. Essa história real está registrada no livro do especialista em literatura medieval, Eric Jaeger, o qual serviu de base para o filme de Scott. 

A partir disso, O Último Duelo é criativo ao apresentar percepções diferentes do mesmo acontecimento: a primeira contada por Carrouges; a segunda por Le Gris e a terceira e verdadeira por Marguerite. A relação com o conceito de Rashomon de Akira Kurasawa (recentemente foi nosso TBT) é evidente, não só existem perspectivas diferentes, como também põe em prova símbolos de uma época.

Dessa maneira, O Último Duelo questiona o conceito da honra e invoca o falso moralismo da era medieval. Logo, a fachada sobre uma Idade Média regada por histórias de cavaleiros nobres e a salvação pela igreja cai no momento em que Marguerite ousa denunciar seu estuprador. 

Jodie Comer faz uma contida e certeira atuação que contrasta muito bem com o explosivo personagem de Matt Damon e o irreverente personagem de Adam Driver, e cada qual traz a sua versão perante suas próprias percepções. Carrouges acredita fielmente que seu ato foi consensual, assim como Le Gris julga e desconfia da esposa. Mas, Scott deixa nítido que a versão de Marguerite é sem dúvida a verdadeira. 

Por isso, mesmo que o filme pareça ter uma narrativa ambígua, o final busca de volta o sentimento de honra da época. Mas, há que preço? A montagem excepcional desenvolvida pela editora Claire Simpson é justa ao mostrar como Marguerite foi subjugada pelo marido, por Carrouges, pela sociedade e pela igreja. Provavelmente, a edição de Simpson seja o ponto alto do longa, visto que, Scott apresenta uma filmagem mais retraída e a mercê do roteiro. Somente na cena do duelo final o diretor consegue mostrar todo seu potencial.

Ainda assim, o filme pode soar repetitivo ao público, já que muitas cenas são repetidas durante as três versões com um ou dois detalhes a mais ou a menos. Porém, acredito que seja isso que torne o filme tão emblemático, os pormenores dizem muito dos personagens e da história que Scott deseja contar. 

O roteiro escrito por Nicole Holofcener, Matt Damon e Ben Affleck desconstrói o gênero épico medieval com uma narrativa que evidencia ainda mais a montagem. Consequentemente, O Último Duelo é um filme sobre uma justiça que duvida de sua vítima, que é infelizmente atual para muitas mulheres.  

VEREDITO

Ridley Scott volta ao cinema com um filme envolvente, discutindo questões atemporais através de uma época onde se negligenciava a figura feminina. O Último Duelo encontra-se nas sombras de Casa Gucci, lançado pelo diretor no mesmo ano, porém é incrivelmente superior tanto em produção, como em impacto. 

4,5 / 5,0

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