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CRÍTICA – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing (2022, Rory Kennedy)

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Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing é um documentário da Netflix que aborda os acidentes fatais com o Boeing 737 MAX em 2018 e 2019

Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing (DOWNFALL: The Case Against Boeing) é mais um documentário original da Netflix lançado no começo deste ano. Dirigida por Rory Kennedy, a produção de 1h29min de duração chegou ao serviço de streaming em 18 de fevereiro de 2022.

O documentário teve seu lançamento mundial no Sundance Film Festival 2022, em janeiro deste ano. Confira nossa análise a seguir.

SINOPSE DE QUEDA LIVRE: A TRAGÉDIA DO CASO BOEING

Investigadores revelam como a Boeing pode ter sido responsável por dois acidentes catastróficos seguidos ao priorizar o lucro em detrimento da segurança.

Dos produtores Brian Grazer e Ron Howard, este filme é dirigido por Rory Kennedy, ganhadora do Emmy e indicada ao Oscar.

ANÁLISE

Um disclaimer importante que não consta na produção, mas deveria: Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing pode ser um gatilho psicológico negativo. Evite assistir ao documentário se você tem receio de voar de avião. O aviso é pertinente não por conta do uso de imagens chocantes dos acidentes, mas sim porque o que os investigadores mostram pode despertar uma forte sensação de insegurança.

Dito isso, vamos para a análise.

Rory Kennedy possui uma sólida carreira dirigindo documentários. Entre seus feitos convém destacar a vitória no Emmy 2007 pela direção de Fantasmas de Abu Ghraib, a indicação ao Oscar 2015 por Vietnã: Batendo em Retirada (2014) e o trabalho em Ethel (2012) que rendeu indicações ao Emmy do ano seguinte e a conquista de outras premiações daquela temporada.

Ao longo da carreira, a diretora trabalhou de modo consistente com os mesmos profissionais em diferentes ocasiões. Em Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing não foi diferente. Os roteiristas Mark Bailey e Keven McAlester estão presentes aqui, já tendo trabalhado com Rory Kennedy em diferentes produções de sucesso.

Tudo isso certamente a credenciou para que a Netflix investisse em uma produção ousada e que bate de frente com uma das empresas mais importantes e poderosas da aviação mundial. E os riscos assumidos valeram a pena.

Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing possui uma montagem excelente que divide o documentário em três momentos.

A produção inicia contextualizando o cenário da aviação na última década, sendo 2017 o auge em termos de segurança, ano em que não houve acidente fatal com aviões comerciais. Logo, começa a contar sobre as quedas dos aviões da Lion Air na Indonésia, em outubro de 2018; e da Ethiopian Airlines, na Etiópia, nove meses após o acidente anterior.

Ambos guardam diversas semelhanças em comum, sendo as principais: o acidente ocorreu pouco tempo após a decolagem, e ambos foram com aeronaves Boeing 737 MAX.

É fato mais do que consumado que o mundo todo sabe sobre ambos acidentes, que juntos resultaram em quase 350 mortes. O documentário acerta ao focar mais no lado humano das estatísticas, dando espaço para que familiares das vítimas relatem sobre a rotina nos dias fatídicos.

Imagem de familiares das vítimas reunidos em sessão do Congresso dos Estados Unidos

Uma das pessoas entrevistadas é a esposa do piloto da Lion Air, que foi um dos primeiros alvos de julgamentos da imprensa e de lobistas pouco tempo após o acidente, quando ainda não se tinha indicações de qual seria a causa. Ela destaca que todas as críticas foram injustas, inclusive informando que a conclusão do treinamento do marido foi nos Estados Unidos. Parte das críticas contra o piloto indonésio era de que ele não era suficientemente capacitado, pois não teria sido treinado na terra da Boeing.

O segundo momento do documentário é uma volta ao passado, conduzida principalmente por entrevistas com ex-engenheiros da Boeing, para que a audiência compreenda o quão confiável a empresa era, e como a cultura corporativa e os valores focados em segurança e inovação eram motivo de orgulho para todos os estadunidenses. É nessa parte da produção que tudo fica muito mais interessante, pois escancara que a negligência que causou os acidentes de 2018 e 2019 na verdade se iniciou ainda na década de 1990.

Na reta final de Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing, o documentário volta à década passada para mostrar principalmente os esforços conduzidos pelo Congresso dos Estados Unidos, uma espécie de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Boeing. As descobertas dos investigadores são assustadoras, pois comprovam que a negligência da empresa foi motivada pela ganância e pelo constante desejo de agradar aos acionistas da Wall Street.

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Tudo se sustenta tão bem no documentário por dois motivos: a narrativa é completamente conduzida pelas falas dos entrevistados, sem qualquer uso de voiceover; e as conclusões são fundamentadas em provas sólidas, muito bem complementadas com as explicações de fontes como pilotos aposentados, analistas de aviação e um jornalista do Wall Street Journal especializado no ramo.

O documentário também se vale de reconstituições digitais para tornar as explicações técnicas mais acessíveis ao grande público. Embora visualmente simples, elas são efetivas para complementar o que as fontes estão explicando a respeito do Maneuvering Characteristics Augmentation System (MCAS), o sistema criado especialmente para o Boeing 737 MAX e, como os documentos e as análises comprovam, foi o que causou os acidentes fatais.

VEREDITO

Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing se consolida no catálogo da Netflix como mais um documentário original que merece ser assistido (se você não tiver receio de voar de avião). Com fontes capacitadas, uma narrativa fácil de entender mesmo que você seja leigo no assunto e, principalmente, provas sólidas de que a ganância da Boeing fez a empresa ser negligente, a produção ainda conta com a direção precisa da experiente Rory Kennedy e uma montagem que valoriza ainda mais a história.

5,0 / 5,0

Assista ao trailer de Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

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