“Na minha cultura, a morte não é o fim, ela é como um ponto de partida. Se você esticar os braços Bast e Sekhmet levarão você até os campos verdes, onde poderá correr para sempre.” Rei T’Challa, Pantera Negra (2018).
Você que é negro, me responde uma coisa: quantas vezes já se enxergou como rei ou rainha? Quase nunca, não é mesmo? Eu sei, é difícil se ver dessa forma quando os nossos estão morrendo diariamente em um país onde o negro lidera o ranking de vítimas de assassinatos. É difícil! E se torna ainda mais complicado quando não nos vemos em lugar de destaque, seja em qualquer segmento.
Por conta disso, pautamos tanto a questão da representatividade positiva. Precisamos disso. Precisamos ver negros em cargos de liderança, na política, na arte, nas universidades, na mídia – não nos noticiários de polícia, mas levando um fio de esperança para os seus iguais, assim como fez o Chadwick Boseman, intérprete do Rei T’Challa, do filme Pantera Negra, que faleceu na última sexta-feira (28), aos 43 anos, após quatro anos lutando contra um câncer de cólon.
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Com o lançamento desta película em 2018, milhares de pessoas negras ao redor do mundo conseguiram se sentir representadas pela primeira vez. Elas estavam vendo um dos deles governando Wakanda, a nação ficcional mais tecnologicamente avançada do mundo. Elas estavam vendo um rei. Um rei negro.
Um rei que motivou campanhas e vaquinhas de arrecadação online para levar crianças da periferia ao cinema pela primeira vez. Um rei que preencheu o imaginário desses pequenos – e dos grandes também – com um poder inigualável: o da autoconfiança. “Se ele pode chegar lá, porque eu não posso?“. Olhar para uma tela a nossa frente e conseguir se identificar com o que está sendo mostrado nela sempre foi, e ainda continua sendo – infelizmente – um privilégio branco. E isso tem que ser mudado.
Ao longo dos anos, tentaram apagar as nossas histórias, conquistas e êxitos. Ainda somos subjugados, desacreditados, e continuam nos matando. Andamos com uma mira apontada para as nossas cabeças diariamente. As estatísticas estão aí: 75,7% das vítimas de assassinatos no Brasil são negras, de acordo com o Atlas da Violência 2020.
Quando temos uma produção audiovisual que ao invés de nos mostrar como o primeiro a morrer, o empregado, o personagem que tem uma tendência para o crime ou algo do tipo, e nos coloca como protagonistas, bem sucedidos e empoderados, ela passa ser muito mais do que um obra de entretenimento e se torna um manifesto. No caso de Pantera Negra um manifesto colossal com um alcance nunca visto antes.
O longa da Marvel Studios não foi apenas um filme de arrecadação bilionária e com indicações ao Oscar, foi um marco para representatividade negra e permitiu que pessoas negras se enxergassem como reis e rainhas pela primeira vez. E é isso que nós somos. Obrigado, Chadwick Boseman. Descanse em paz.
“Wakanda Forever!”
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