Início FILMES Crítica TBT #130 | Os Pássaros (1963, Alfred Hitchcock)

TBT #130 | Os Pássaros (1963, Alfred Hitchcock)

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Os Pássaros

O TBT desta semana abordará um clássico do cinema. Um filme que muitos apontam como o último grande filme de Alfred Hitchcock, Os Pássaros de 1963.

O filme foi um respiro na carreira de Alfred Hitchcock, pois se distanciava imensamente de grande parte do que fora apresentado anteriormente em Rebecca – A Mulher Inesquecível (1940), Festim Diabólico (1948) e Um Corpo que Cai (1958). No filme de 1963, o diretor se afasta de questões como a psique humana, em que a força motriz da história eram simplesmente as ações dos protagonistas.

Os Pássaros é um thriller construído na incerteza do que está diante do espectador, algo frágil e vulnerável como pássaros, que mudam a vida dos habitantes da pequena cidade litorânea de Bodega Bay na Califórnia.

Ainda que se desenvolva de forma lenta, o medo do inesperado que o filme nos causa vem da imprevisibilidade de elementos da natureza. Fugindo da inefabilidade humana presentes em tramas passadas, que funcionavam como uma espécie de cautionary tale – uma história que alerta o espectador a respeito de um perigo iminente.

SINOPSE

Melanie Daniels (Tippi Hedren), uma bela e rica socialite, conhece o advogado Mitch Brenner (Rod Taylor) em um pet shop e fica interessada nele. Após o encontro, ela decide procurá-lo na cidade de Bodega Bay, Califórnia, onde Mitch costuma passar os finais de semana. Entretanto, Melanie só não sabia que iria vivenciar algo assustador: milhares de pássaros se instalaram na localidade e começaram a atacar as pessoas.

ANÁLISE

Com mais de 60 produções cinematográficas, Alfred Hitchcock faria de Os Pássaros um de seus filmes mais controversos tanto de crítica, como para seus fãs, que esperavam um horror mais palpável, característico do diretor. Assim como grande parte de seus filmes, Hitchcock nos apresenta uma personagem feminina que vai contra as convenções da época em que os filmes se passam, colocando-as sempre à frente de seu tempo.

A fixação de Hitchcock com protagonistas loiras é sentida desde o primeiro momento do filme. A história se desenrola de maneira lenta, enquanto coloca a personagem Melanie Daniels o tempo todo como alguém que vai atrás do que quer. Alguém à frente de seu tempo, sem negar os privilégios dela, e a leva além, ao realizar investidas em relação à alguém de seu interesse, Mitch Brenner.

Daniels, vivida por Tippi Hedren se distancia das outras mocinhas de Hitchcock e não entrega o que atrizes como Janet Leigh, Eva Marie Saint e até mesmo Grace Kelly entregaram em seus respectivos filmes, mas é convincente quando precisa ser.

Os Pássaros foi a “terceira” adaptação de um livro de Daphne Du Maurier por Hitchcock – “terceira”, pois segundo alguns apontam, o filme Rebecca, A Mulher Inesquecível tem muitas semelhanças com o livro Brasileiro A Sucessora, da autora Carolina Nabuco, escrito em 1934, quatro anos antes do material que Hitchcock diz ter adaptado, lançado por Du Maurier em 1938.

Du Maurier, em seu livro de contos publicado em 1952 The Apple Tree: A Short Novel and Some Stories contava uma fábula ambientalista, sobre uma população de pássaros que passavam a atacar os humanos após um longo inverno privados de alimentos – que atraiu a atenção de Hitchcock e acabou sendo adaptado livremente, se distanciando enormemente do material fonte.

Os Pássaros não possui trilha sonora. O compositor Bernard Herrman, antigo parceiro de Hitchcock aparece nos créditos apenas como “consultor de som” e a ideia de não usar qualquer trilha no longa, partiu dele.

A direção de Hitchcock mostra o peso que um mundo em que os pássaros que são uma ameaça, tornando-os personagens quase que onipresentes em todas as cenas, ou sequências.

Daniels, vivida por Tippi Hedren se distancia das outras mocinhas de Hitchcock e não entrega o que atrizes como Janet Leigh, Eva Marie Saint e até mesmo Grace Kelly entregaram em seus respectivos filmes, mas é convincente quando precisa ser.

A criação da atmosfera se dá em grande parte por meio do design de produção, que alheio à habilidade de composição de Hitchcock, fazia tudo que enquadrado pela lente do diretor se tornar algo inovador e inventivo.

A historiadora Gabriela Larocca apontou no episódio #234 do RdMCast sobre Alfred Hitchcock que o diretor tinha uma forma perversa de punir as personagens que fugiam às convenções da época em que estavam inseridas. Agindo assim com Daniels em Os Pássaros, e dando também à Marion Crane um fim abrupto em Psicose.

Outro aspecto que deve ser citado nesse TBT, é o quão elaborados são os efeitos especiais do filme. Para ser mais específico, os efeitos práticos do filme que acabaram rendendo à protagonista alguns ferimentos bem reais – a cena final do sótão levou cerca de uma semana para ser filmada e a atriz Tippi Hedren sofreu ataques de pássaros das mais diversas formas – seja por aves presas a seu figurino, como também por aves que eram lançadas em sua direção por de trás das câmeras.

O cuidado que Hitchcock tinha com suas produções não se espelhavam em nada no zelo que o diretor tinha com seus atores, principalmente as mulheres.

VEREDITO

Os Pássaros conta uma história que pode ser encarada tanto por uma ótica tanto subjetiva, quanto literal. E o brilhantismo disso vem da forma como o diretor encaminha a história a levando por lugares inesperados, tornando a construção de mundo da trama tão completa quanto possível. E com a cena final, ficamos esperando por mais da trama, ou qualquer indício do que ela de alguma forma irá continuar, mas esse final nunca virá.

5,0 / 5,0

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Confira o trailer do filme:

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