Início FILMES Crítica TBT #14 | Sindicato de Ladrões (1954, Elia Kazan)

TBT #14 | Sindicato de Ladrões (1954, Elia Kazan)

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Lançado em um período turbulento para a cultura dos Estados Unidos, o filme Sindicato de Ladrões (On The Waterfront) conta a história de Terry Malloy (Marlon Brando), um ex-boxeador que era considerado promissor mas por conta de alguns imprevistos, teve a sua carreira comprometida ao entrar para a gangue exploradora de Johnny Friendly (Lee J. Cobb).

O desdobramento da trama ocorre quando um trabalhador inocente morre, e Terry começa a se sentir culpado e inicia uma tentativa de consertar suas ações passadas lutando diretamente contra as ideias ocasionais do sindicato, enfrentando também as respectivas consequências. Durante a luta, acaba se apaixonando pela irmã do falecido, a notável e inocente Edie Doyle (Eva Marie Saint).

O filme vencedor de 8 Oscars, incluindo Melhor Filme, Diretor e Ator (Marlon Brando), é dirigido pelo controverso Elia Kazano longa ainda é um marco importantíssimo ao discutir os direitos fundamentais do homem e a luta para fazer o que é certo sendo tratados de um ângulo ainda pouco explorado, a corrupção nos sindicatos.

Influenciado pelas ideias de Padre Barry (Karl Malden) e enraivecido por uma série de abusos, Terry decide lutar contra Friendly e toda a sujeira existente no porto.

A análise do filme se torna mais rica ao se aprofundar no contexto histórico à época da sua realização. Nos Estados Unidos, os cidadãos estavam passando por uma fase política do macarthismo, ou a caça às bruxas, na qual vários artistas e jornalistas foram perseguidos acusados de serem comunistas.

O diretor Elia Kazan denunciou várias pessoas a Comissão, fato pelo qual ele é boicotado até hoje. 

Saindo dos bastidores, a força do roteiro de Budd Schulberg e Malcolm Johnson é o elemento mais impressionante do filme, a construção do arco do personagem é feita de maneira extremamente sólida e eficaz, trazendo elementos do neorrealismo italiano para Hollywood, mostrando a sociedade tal como ela se apresentava, fazendo um retrato da verdade, com filmes que seriam quase documentários. 

Ao lidar com importantes questões sociais, o filme se sobressai ainda mais, alcançando níveis superiores de excelência. Eva Marie Saint, uma das musas de Hitchcock (Psicose), estreou no cinema através desse filme e levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pela sua personagem honesta e idealista.

Lee J. Cobb, rouba absolutamente todas as cenas em que aparece, sendo igualmente convincente como um homem acolhedor e simpático, e, logo depois, se tornando um chefão da máfia desumano.

Mas, dentre toda estrutura montada, não poderíamos esquecer dele, o herói – ou anti-herói – Marlon Brando. É nesta atuação que, talvez, ele construa seu melhor personagem; como ele cria suas dúvidas, aqui, é justamente a marca que confunde ator e papel, a arte e a verdade.

O que vemos, ao longo dos minutos, é o desenrolar de um caráter simples, um tempestuoso e explosivo jovem que, confrontado com a realidade, se mostra preparado para encarar os problemas com atos que, no caso, possam colocar o próprio indivíduo em risco.

Somos levados, enquanto espectadores, ao mesmo confronto que o personagem: primeiramente porque não nos identificamos com o tal, o cinismo e a distância do mesmo é algo que nos afasta, mas com o passar do tempo e das suas atitudes, fica impossível não criarmos uma afeição e, claro, a esperança de um resultado positivo.

Marlon Brando chama o espectador para a trama com maestria, incluindo-o exatamente com o que ele atua, na construção de uma visão complexa em algo supostamente simples. Brando mais uma vez, visceral. 

No mais, resta tecer alguns comentários em relação à trilha sonora e ao uso da câmera. A primeira ficou a cargo de Leonard Bernstein e é interessante notar como é feita a construção do clima e da tensão no filme, alternando-se cenas com música e outras no mais completo silêncio; quanto à segunda, vale a menção da sequência final do filme e o modo como a mesma é utilizada de forma inesquecível.

Confira o trailer legendado:

Sindicato de Ladrões é um filme que retrata e intensifica a nossa consciência. Se tornando um clássico obrigatório que tende a mesclar com as nossas emoções e nos colocam diante de acontecimentos que permite uma reflexão a respeito da temática atemporal.

E você, já assistiu este clássico? Se ainda não, assita e volte aqui para deixar seus comentários e sua avaliação da nossa 14ª indicação no TBT do Feededigno!

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