Início FILMES Crítica TBT #194 | Acossado (1960, Jean-Luc Godard)

TBT #194 | Acossado (1960, Jean-Luc Godard)

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TBT #194 | Acossado (1960, Jean-Luc Godard)

Falar da obra-prima Acossado é uma tarefa fascinante. Nenhum filme, com efeito, conseguiu dizer tanto até hoje, dizer coisas reais, cotidianas, numa tentativa desesperada de encontrar no próprio homem as raízes de sua alienação e de sua morte. 

Jean-Luc Godard, cineasta francês nascido em 1930, possui, devidamente, um lugar especial e extremamente particular em toda a evolução do material cinematográfico. O diretor é longamente conhecido por suas experimentações, suas subversões da linguagem, sua ousadia e, pelos que não o apreciam, por sua falta de sentido, seu vazio artístico e seu pedantismo. Acima de todos os rótulos, Godard pode ser encaixado em toda a concepção do processo cinematográfico.

SINOPSE

Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) vai para Paris. No caminho mata um policial, que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, e em Paris persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean Seberg), uma estudante americana com quem se envolveu.

Michel promete a Patricia que irão juntos para a Itália, no entanto o crime de Michel está nos jornais e agora não há opção. Ele fica escondido no apartamento de Patricia, onde conversam, namoram, ele fala sobre a morte e ela diz que quer ficar grávida dele. Ele perde a consciência da situação na qual se encontra e anda pela cidade cometendo pequenos delitos, mas quando é visto por um informante começa o final da sua trágica perseguição.

ANÁLISE

Godard demonstra em Acossado todas suas características que viriam a pontilhar o movimento que se firmou anos depois, a Nouvelle Vague, e também suas influências e paixões, como Alfred Hitchcock e os noirs de Humphrey Bogart. Godard defendia o autor como único responsável por sua obra, aquele que assume os riscos para devolver o poder à câmera e ao público, ao contrário de uma indústria que buscava (e busca) apenas o entretenimento. Acossado é a soma de um pouco de tudo.

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A montagem abraça a ideia e, com isso, os cortes inesperados constroem falas mais alongadas, contínuas, quase ininterruptas. Mas, acima disso, denunciam sentimentos: no começo, com o assalto e demais agitações, os cortes são mais frequentes e excluem os momentos de tranquilidade entre uma fala e outra; já durante a longa conversa entre Michel e Patricia, no famoso plano sequência enquanto a mesma vendia jornal na rua, temos a calmaria e a paz que Michel encontrava apenas quando estava com ela. Como o som fora inserido todo na pós produção, em um trabalho impecável de sincronia, pode ser que a trilha sonora tenha servido toda como inspiração para este novo tipo de montagem.

A trama do longa, por mais que seja deveras simples, nos conduz intimamente por uma juventude que não tem ideia do que fazer consigo mesma, ou seja, o roteiro abarca todas as incertezas de uma geração jogada ao vazio dos anos que marcam a passagem de tempo entre o pós-guerra e o marcante maio de 68.

A grande realização do fotógrafo Raoul Coutard na ampliação da possibilidade de trânsito entre exterior e interior é fundamental no sentido de estabelecer um paradigma de câmbio incessante entre essas duas ideias na maneira como os personagens – e o filme – se constituem. 

A política de autor em Godard é justamente mais “política” do que “autoral”. Seu primeiro longa mostra uma espécie de anti-autor, alguém que aparenta não ter nada a dizer, num filme onde tudo parece poder entrar, onde se pode dizer tudo e ver tudo. 

VEREDITO

Acossado é um organismo mutante: francês, americano, noir, burlesco, trágico, abstrato, erótico, idiota, intelectual, bruto, dialético e lírico. Sua unidade é justamente a possibilidade de diferença permanente que ele abre, e daí que advém sua imortalidade como obra.

5,0 / 5,0

Assista ao trailer legendado:

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