Início FILMES Crítica TBT #212 | Apocalypse Now (1979, Francis Ford Coppola)

TBT #212 | Apocalypse Now (1979, Francis Ford Coppola)

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TBT #212 | Apocalypse Now (1979, Francis Ford Coppola)

Em 1979, já um diretor consagrado, Francis Ford Coppola assumiu uma tarefa que quase tirou-lhe a sanidade. As filmagens de Apocalypse Now foram um pesadelo, com enfarte do protagonista, furacões e outros incontáveis problemas. Mas valeu a pena, ao menos para os milhões de cinéfilos em todo o mundo.

Apocalypse Now revelou-se, sim, um pesadelo, porém um pesadelo magnífico, um dos mais arrebatadores e poderosos filmes do cinema que completa 47 anos este ano.

SINOPSE

O Capitão Willard (Martin Sheen) recebe a missão de encontrar e matar o comandante das Forças Especiais, Coronel Kurtz (Marlon Brando), que aparentemente enlouqueceu e se refugiou nas selvas do Camboja, onde comanda um exército de fanáticos.

ANÁLISE

Baseado nos livros Despachos no Front No Coração das Trevas, no auge da fracassada guerra do Vietnã, um coronel americano louco por poder se deserta do exército, e comanda uma tropa de nativos para resistir a outros brancos invasores. O Coronel Kurtz não é maluco por enxergar o imperialismo do seu povo e não aceitar sua manipulação, mas por reproduzi-lo nos vietnamitas por conta própria.

Nenhum estúdio de Hollywood queria nem ouvir falar de um filme sobre o Vietnã meses depois da derrota dos Estados Unidos na guerra mais controvertida de sua história. Coppola conseguiu o apoio da distribuidora United Artists, fundada por Charles Chaplin em 1930 para que os artistas não tivessem que depender dos estúdios comerciais, mas viu-se obrigado a negociar pessoalmente com os investidores e respaldar cada empréstimo com todas as suas propriedades e a receita que continuava sendo gerada com O Poderoso Chefão e sua sequência. 

Na sua trilha sonora, se os soldados reais colocavam rock and roll para bombardear povoados vietnamitas, os do filme escutavam Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Se o exército arrasou Vietnã com explosões de napalm, Francis Ford Coppola rodaria a maior explosão já produzida fora de uma guerra. Com 11 milhões de dólares de orçamento (mesma quantia de Star Wars), Apocalypse Now seria o primeiro blockbuster de arte e ensaio.

Um aspecto que é praticamente impossível de acreditar é como, mesmo com uma produção tão tumultuada, Coppola conseguiu a façanha de criar alguns dos momentos mais memoráveis já vistos em qualquer tela de cinema em qualquer lugar do mundo. O encontro de Kurtz e Willard, que na versão estendida ocupa quase uma hora, é o mais próximo que o cinema já chegou de se transformar em poesia. As cenas possuem um lirismo, tanto visual quanto textualmente, que transcendem a definição de cinema que todos conhecemos, dirigindo-se a um ponto obscuro e adormecido na mente de cada espectador.

Francis Ford Coppola deixou que a estrela da trama, Marlon Brando, improvisasse reflexões filosóficas, bélicas e filantrópicas num monólogo de 18 minutos filmado nas sombras a pedido do ator, que não queria que sua envergadura física distraísse os espectadores. E chegou a colocar um fone no ouvido de Brando para recitar as suas frases.

As filmagens foram tão caóticas quanto a realidade que o filme quis mostrar. Martin Sheen, o ator principal, teve um ataque cardíaco logo de cara e quase morreu – Coppola teve de esconder isso dos produtores para o filme não ser cancelado. Brando chegou 40 quilos acima do peso, sem ter lido o roteiro. E o prazo de seis semanas de filmagem se estendeu para um ano e meio. Parece muito? A pós-produção demorou três anos, sem que Francis Ford Coppola se decidisse quanto à edição final das cenas. Demorou tanto que a imprensa começou a chamar o filme de “Apocalypse Nunca”.

Entre a insegurança com o próprio trabalho e pressões de todo lado, o diretor tomou uma decisão intempestiva: mandou para o prestigioso Festival de Cannes uma versão inacabada do filme – uma “obra em progresso”. E, mesmo assim, ganhou a Palma de Ouro. Era o começo da glória de um dos filmes mais inquietantes da história do cinema – que mostrou, melhor do que todos os outros, como a investida dos EUA no Vietnã foi uma temporada no inferno.

VEREDITO

Apocalypse Now é normalmente tratado como um dos melhores filmes já realizados e o maior protesto anti-guerra já posto em uma tela com uma jornada psicologicamente devastadora e surreal. É um complexo estudo sobre a dualidade e o conflito existente em cada ser humano. Uma análise pungente e hipnotizante sobre o frágil cordão que divide o nosso lado racional e irracional. É muito mais do que um filme sobre a estupidez da guerra, assumindo a posição de uma profunda reflexão sobre o ser humano e seus limites.

5,0 / 5,0

Assista ao trailer:

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