“Nós sempre teremos Paris” ou “O mundo está desmoronando e nós nos apaixonamos” – Há 70 anos era iniciada uma grande amizade entre o público de qualquer geração e a história de amor mais famosa do cinema.
Rick (Humphrey Bogart) é dono de um famoso bar localizado em Casablanca, no Marrocos Francês, durante a Segunda Guerra Mundial. A cidade é rota de fuga para quem deseja evitar os nazistas, onde passes livres são vendidos por um salgado preço no mercado negro. Neste caótico ambiente, Rick encontra Ilsa (Ingrid Bergman), com quem tivera um amor interrompido inesperadamente há algum tempo, em Paris.
A direção de Michael Curtiz é bastante segura e cria inúmeros momentos inesquecíveis, além de procurar manter a câmera sempre próxima nos momentos dramáticos para captar melhor as reações dos atores.
Logo no início do filme, a câmera se movimenta em direção à placa com o lema francês “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” no momento em que um reacionário francês é morto a tiros abaixo dela. A composição do plano, com o hino da França ao fundo, demonstra a inteligência de Curtiz ao transmitir a mensagem sem precisar utilizar palavras.
A trama atravessa os séculos como máxima referência da sétima arte, principalmente pelo desenvolvimento de sua história, um primoroso roteiro que segue a estrutura clássica linear (começo, meio e fim), e que sabe tirar partido disso ao provocar pequenas quebras da linearidade, ao desenvolver uma história dramática, cujo passado não conhecemos, mas que é peça fundamental e que interfere nas decisões e nas características de uma personagem, e um futuro incerto, mas com possibilidades claras. Sabemos os caminhos disponíveis para os protagonistas, mas qual será o escolhido e o motivo, isso só conheceremos ao término da película.
O roteiro é baseado na peça “Everybody Comes To Rick’s“, sendo desenvolvido em três mãos, por Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch. Uma curiosidade é que o texto da peça só chegou a ser montada (anos) depois, e os direitos para o cinema foi um dos maiores valores pagos na época.
Uma grande ideia dos roteiristas é justamente não se levar tão a sério, Casablanca inicia com uma narração irônica, próxima das comédias que parodiam guerras, e em diversos momentos temos esse ar jocoso nos diálogos das personagens, tal como Richard Blane (Humphrey Bogart) que satiriza sua condição de homem abandonado ou da condição transitória e de espera da grande sala de conexões que é o “aeroporto Casablanca”.
Porém, o roteiro comete o deslize justamente ao querer apresentar o mundo externo através de flashback, um recurso que não agrega nada de interessante ao filme, mas é uma saída fácil para tentar esclarecer fatos importantes do passado, ainda assim, algo que um roteiro tão brilhante e uma direção precisa, poderiam ter solucionado com outros meios.
A trilha sonora é marcada pelo clássico “As Time Goes By” e La Marseillaise, o hino nacional da França. Ambos ganham “status” para além de trilha sonora, tornam-se “leitmotiv“, e gerando certo incômodo, no terceiro dedilhar de La Marseillaise mais do que saber que ali estão os franceses ou que é uma busca de enaltecer a França, sabemos que é uma insegurança por parte do diretor de esclarecer pontos que já se estabelecem seja pele local frequentado ou pelo fardamento que as personagens utilizam (exemplo: diferenciar soldados alemães dos franceses).
Todavia, o ápice de exaltação do hino nacional da França, ocorre quando é utilizado para provocar os alemães, capaz até de unir os franceses que estão no Rick Café e sob domínio alemão.
Paul Henreidcomo Victor Laszlo, Ingrid Bergman como Ilsa Lund Laszlo e Humphrey Bogart como Richard Blane, conseguem se destacar individualmente, e a origem estrangeira de cada artista favorecem o jogo clandestino e migratório inerente ao filme.
Se separadamente cada um se destaca, a combinação em um triângulo amoroso funciona ainda mais, e divide muito o espectador para o favoritismo amoroso da personagem de Ilsa, pois, tanto o charmoso Blane e o heroico Victor são carismáticos e com qualidades divergentes, mas que juntos só complicam ainda mais uma posição que colabore em determinar com quem Ilsa deve ficar.
Nenhum destes personagens tombam em uma balança maniqueísta para o lado ruim. Alguns são cínicos, alguns mentem, alguns matam, mas todos são resgatados e suas decisões, por mais que difíceis, são fáceis de entender.
Casablanca é um mundo utópico, uma grande metáfora sobre a vida que é ao mesmo tempo, o limbo ligando o inferno ao paraíso. É um excelente exemplo de como o cinema pode ser mágico.
Repleto de imagens e momentos belíssimos, o filme demonstra a mudança que um verdadeiro amor pode realizar em uma pessoa, transformando-a completamente.
Sem melodramas ou fórmulas prontas, a obra consegue nos emocionar e fica guardado pra sempre em nossa memória. E é exatamente por isso, que se tornou um dos grandes clássicos da história do cinema.
Confira o trailer:
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