O otimismo e a exaltação do estilo de vida norte-americano são marcas registradas da filmografia de Frank Capra. Por vezes exagerado, o diretor ítalo-americano não hesitava um segundo antes de rechear seus longas com mensagens positivas e esperançosas, o que lhe garantiu uma carreira de sucesso numa época tão marcada por conflitos e até mesmo pela Segunda Guerra Mundial. No entanto, foi na obra-prima A Felicidade Não Se Compra que Capra conseguiu alcançar seu melhor resultado, equilibrando o riso e o drama com precisão e realizando um filme simplesmente encantador, capaz de inspirar gerações ao longo de décadas.
Toca o sino. Música de Natal. Uma placa dá as boas-vindas para a cidade de Bedford Falls. Neva e há decoração natalina nas ruas do lugar. Em diferentes lugares, pessoas fazem orações para George Bailey (James Stewart). No céu, Joseph fala com o seu Superior sobre os problemas de Bailey e que alguém precisará ser enviado para ajudá-lo.
Seguindo a narrativa, entramos em uma conversa entre anjos, onde um deles, Clarence (Henry Travers), deseja receber suas tão sonhadas asas. Para consegui-las, ele deverá realizar uma ação importante: impedir que George Bailey sacrifique seu bem mais precioso e cometa suicídio. Mas Clarence só seria capaz de tal ato se conhecesse bem a vida de seu agora protegido.
A partir daí, vários episódios da vida de Bailey são mostrados – para o anjo e para nós -, desde que o personagem era criança até o fatídico dia 24 de Dezembro apresentado na abertura do filme.
Essa escolha, embora pareça equivocada no início por fragmentar a história de forma aparentemente desconexa, acabará fazendo sentido à medida que a obra chega em sua conclusão. Além disso, seria impossível mostrar toda a vida do personagem em tão pouco tempo. Logo, Capra selecionou o essencial para que desenvolvêssemos uma forte empatia com o personagem, interpretado de forma irrepreensível por James Stewart.
O diretor Frank Capra entregou para o cinema, talvez, o filme mais bonito de todos os tempos. Nos primeiros minutos de projeção, passeando pelas ruas da pequena cidade de Bedford Falls, ouvimos as preces sinceras daqueles que pedem proteção ao atormentado George Bailey. Já tememos pelo protagonista sem ao menos saber seu rosto. Simplesmente porque as vozes que suplicam conseguem transmitir uma preocupação genuína.
A estrutura narrativa da trama faz uma retrospectiva, a partir de flashbacks, da vida de Bailey para que possamos compreender como ele tocou o destinos de tantas pessoas naquela pequena cidade, sempre à sombra do ganancioso Sr. Potter (Lionel Barrymore).
James Stewart, que já havia trabalhado com Capra em A Mulher Faz o Homem, mostra o seu brilhantismo de sempre, oferecendo tudo o que George Bailey exigia na construção de seu personagem. O curioso é que quase James não interpretou o papel, pois queria descansar da guerra em que havia acabado de lutar, mas após muita insistência de Frank Capra, ele aceitou o papel.
Bailey é, provavelmente, o maior exemplo de altruísmo da história do cinema. É um altruísmo tão absoluto que chega a estranhar a nossa geração mais cínica, mais objetiva, e mais materialista. Talvez por isso, A Felicidade Não Se Compra, clássico de Natal absoluto norte-americano, oscile entre ser uma bonita fábula moral, mas também em ser algo extremamente ingênuo, utópico e datado.
Estruturalmente, o filme peca por fazer uma longa preparação para uma cena que não dura mais do que vinte minutos (o que é um pouco anti-climático), e a sensação resultante é que todo o plot do ‘universo alternativo’ poderia ter sido melhor explorado (até mesmo para tornar ainda mais profunda a relevância do protagonista para indivíduos específicos). Mas mesmo assim, ainda temos as boas atuações e as intenções da mensagem final, que, sendo eficiente ou não, ainda é necessária para os dias de hoje.
Assista ao trailer:
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