Início FILMES Crítica TBT #98 | Cidadão Kane (1941, Orson Welles)

TBT #98 | Cidadão Kane (1941, Orson Welles)

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Cidadão Kane

O cinema não seria essa maravilha, se não fosse por Cidadão Kane do jovem Orson Welles (1915-1985). Com apenas 25 anos, Welles dirigiu, produziu, roteirizou e atuou no filme que viria a mudar a história da sétima arte.

A obra-prima ganhou um Oscar de Melhor Roteiro Original para Herman J. Mankiewicz e o próprio Welles. Porém, bem mais do que isso, Cidadão Kane revolucionou técnicas de fotografia, montagem, direção e narrativa.

Logo, o longa é considerado um filme a frente do seu tempo que reverbera até hoje nas mais calorosas discussões sobre cinema. Sua notoriedade se faz presente quase 80 anos depois, já que este ano estreia Mank (2020). O novo filme de David Fincher promete contar os bastidores de uma das maiores obras que Hollywood já produziu.

SINOPSE

Livremente inspirado na vida do milionário William Randolph Hearst, o longa conta a ascensão de um mito da imprensa americana. Charles Foster Kane (Orson Wells) era um garoto pobre do interior quando sua mãe lhe deu para a adoção ficando sob os cuidados de um tutor. Kane então cresce e vira um magnata de um império do jornalismo e publicidade influenciando a opinião pública.

ANÁLISE

Rosebud (botão de rosa, em português). Basta uma palavra para criar uma verdadeira comoção tanto dentro de tela, como fora dela. No seu leito de morte, segurando um peso de papel, Kane pronunciou a simples palavra. Ninguém, nem mesmo seus amigos mais íntimos e ex-esposa sabem o que significa sua última palavra.

Logo começa um grande mistério envolta da morte do magnata do jornalismo. Após dias de sensacionalismo em cima da notícia de sua morte, o jornalista Jerry Thompson (William Alland) recebe o encargo de investigar a vida de Charles Foster Kane e descobrir o que quer dizer a tal palavra.

É então que a narrativa e o roteiro perfeito de Mank e Wells brilha. Ao utilizar-se de flashbacks sem uma ordem a ser seguida, são vistas várias pessoas ligadas a Kane que contam sobre sua vida. Sendo assim, o jornalista entrevista o secretário Bernstein (Everett Sloane), o melhor amigo Leland (Joseph Cotten), a segunda esposa, Susan Alexander (Dorothy Comingore) e o mordomo da mansão. Além disso, temos a consulta ao diário pessoal de Thatcher (George Coulouris), o falecido tutor e administrador dos bens de Charles Foster Kane. 

Cada qual parecem reviver quem foi Kane em vida. Já que o filme começa com o protagonista morto, não temos o próprio Charles Foster Kane dando sua versão da história. Tudo que nos resta é sua última palavra. Logo, os flashbacks a partir de terceiros (aqui também incluo as manchetes dos jornais sobre Kane) revelam suas ambições, desejos e seu triste fim.

Charles Foster Kane era um homem solitário, ainda que cercado de pessoas nunca conseguiu de fato amar. Por isso, rosebud se torna tão importante para ele. Visto que, sem ninguém de fato saber o significado da palavra, o jornalista conclui que botão de rosa era algo que Kane tinha e depois perdeu, como tudo em sua vida.

De fato, era. Ao final do filme, vemos um incinerador queimar algumas coisas de Kane e entre elas estava seu treino de infância: Rosebud. Dessa forma, a palavra pronunciada no leito de morte é uma alusão ao único momento em que Charles Foster Kane foi realmente feliz.

Nesse sentido, sua frase “Eu poderia ser um grande homem se não tivesse enriquecido” revela que o próprio sabia que o dinheiro pode levar a ruína. Logo, o jornalista acerta, Kane também perdeu seu botão de rosa e junto sua inocência.

Por isso, a personalidade controladora e poderosa que deseja ter o amor de todos sem dar o seu próprio. Já que na infância foi tirado o seu direito de amar sua mãe, Charles Foster Kane deseja comprar a tudo e todos. Ainda que, com isso, nunca desenvolva a capacidade de amar.

A REVOLUÇÃO TÉCNICA

Assim como Mank não inventou os flashbacks para escrever o roteiro, o diretor de fotografia Gregg Toland não inventou as cenas em profundidade de campo. Cidadão Kane é um filme feito em equipe. No qual, cada pessoa foi essencial para refinar as técnicas já conhecidas.

Como já foi dito, o filme foi a frente do seu tempo e conseguiu juntar o clássico e o moderno. As principais cenas se destacam por apresentarem uma mise èn sene composta pela profundidade de campo e planos longos.

Ou seja, em Cidadão Kane tudo quase sempre está em foco. Dessa forma, a câmera estática na maioria das cenas sempre captura um grande plano criando a sensação de grandeza. Logo, Wells não direciona o olhar do espectador, mas deixa a cena se desenvolver para que observemos o que mais nos chama a atenção.

Dessa forma, o longa busca suas referências no teatro com a câmera estática e com a profundidade de campo torna-se uma própria referência de aprimoramento da técnica. Além dos planos longos, o filme também inova na montagem.

A sobreposição das cenas quase sempre acompanhada das manchetes dos jornais contando algum escândalo ou fato sobre Kane criam a sensação de passagem de tempo como um observador. Consequentemente, os jornais e as entrevistas feitas pelo jornalista reforçam a ideia de “espectador”. Tal como Charles Foster Kane ao morrer, o público é somente testemunha de sua triste vida.

VEREDITO

Ainda que se fale tudo sobre Cidadão Kane sempre haverá uma coisa ou outra deixada para trás. O tamanho dessa obra ainda ecoa na indústria cinematográfica sendo referenciada e honrada sempre que se pode. Basta lembrar do recente 1917 (2019) que utiliza da mesma técnica do longa de Orson Welles: planos longos com profundidade de campo.

Portanto, o jovem Welles conseguiu refinar técnicas que são utilizadas ainda hoje. Dada a carta branca que recebeu de Hollywood para produzir seu filme.

De fato: todos que amam o cinema devem apreciar pelo menos uma vez na vida Cidadão Kane.

Assista ao trailer:

E você, já assistiu Cidadão Kane? Deixe seus comentários e lembre-se de conferir as indicações anteriores do TBT do Feededigno.



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