Sabemos de longa data que quanto menos educação e cultura um povo tiver, mais manipulável ele será. E agora com o incêndio do Museu Nacional, uma instituição autônoma, integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que foi criado por D. João VI, em 06 de junho de 1818, que completou 200 anos em 2018, é o mais novo retrato do nosso país.
Como museu universitário, o Museu Nacional tinha perfil acadêmico e científico. Suas exposições resultavam da história da instituição e da excelência de suas atividades de pesquisa e ensino, cumprindo a finalidade de produção e disseminação do conhecimento nas áreas de ciências naturais e antropológicas.
De seu acervo de mais de 20 milhões de itens, destacavam-se, em exposição: a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I; a coleção de arte e artefatos greco-romanos da Imperatriz Teresa Cristina; as coleções de Paleontologia que incluíam o Maxakalisaurus topai, dinossauro proveniente de Minas Gerais; o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizada de “Luzia”, podiam ser apreciados na coleção de Antropologia Biológica; nas coleções de Etnologia tínhamos expostos objetos que mostravam a riqueza da cultura indígena, cultura afro-brasileira, culturas do Pacífico e na coleção de Zoologia destacavam-se a coleção Conchas, Corais e Borboletas, que compreendiam o campo de invertebrados em geral e, em especial, dos insetos.
O fogo começou por volta das 19h30 deste último domingo, depois do fechamento para visitantes. Boa parte da estrutura do prédio era de madeira, e o acervo tinha muito material inflamável. Assim, o fogo se espalhou rapidamente. Segundo a assessoria de imprensa do museu e o Corpo de Bombeiros, não houve feridos. Apenas quatro vigilantes estavam no local, mas eles conseguiram sair a tempo.
Os dois hidrantes próximos ao Museu Nacional apresentaram problemas no começo do combate às chamas. Não havia pressão suficiente. Depois de quase duas horas, a solução foi retirar água de um lago próximo. Bombeiros também precisaram pedir caminhões-pipa.
Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição responsável pelo museu, criticou o trabalho dos bombeiros.
“Nós percebemos claramente que faltou uma logística e uma capacidade de infraestrutura do Corpo de Bombeiros que desse conta de um acontecimento tão devastador como foi esse incêndio.”
Nós do Feededigno já tivemos nossa história perdida após o descaso de terceiros e nos sentimos revoltados, frustrados e com a sensação de trabalho em vão, porém ao me deparar com a cena do Museu Nacional ardendo em chamas, além das sensações que tive com as perdas irreparáveis, fui surpreendido com as lembranças de infância que estavam adormecidas em minha memória, principalmente as idas em passeios escolares e com minha tia paterna quando eu ainda era criança. Lembrei-me de como me senti ao ver pela primeira vez um fóssil de um Tigre Dentes-de-sabre, ter a noção do tamanho de um animal que eu amava admirar nos livros escolares e enciclopédias. Ver um sarcófago e múmias egípcias. Animais empalhados. Quadros e gravuras. A riqueza nos detalhes da arquitetura do imóvel com seus tetos repletos de pinturas, colunas cheias de detalhes, os muitos cômodos e janelas. Tudo era fantástico, colorido e cheio de conhecimento. Entre as chamas, o coração apertava ao saber que nosso antigo Museu Nacional pela manhã estaria vazio. Cinza.
Tenho certeza que a imagem das chamas não será a memória que guardarei do Museu Nacional. E espero que nós brasileiros façamos das chamas um símbolo de renascimento cultural. Que o legado do Museu Nacional com sua história, seu acervo, sua importância acadêmica e as memórias dos que o conheceram seja o renascimento da consciência de importância e necessidade de cultura que o Brasil esqueceu (ou sendo realista: nunca teve).
#MuseuNacionalVive <3
Confira abaixo uma a galeria de como era nosso belo Museu Nacional: