Cidade Invisível é a nova série brasileira da Netflix criada por Carlos Saldanha (Rio) e, roteirizada por Raphael Draccon e Carolina Munhóz. No elenco estão Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Fábio Lago e Julia Konrad.
SINOPSE
Em Cidade Invisível, um mundo subterrâneo é habitado por criaturas míticas evoluídas de uma linhagem profunda do folclore brasileiro. Em um período conturbado, o detetive Eric (Marco Pigossi) se encontra preso em uma investigação de assassinato que o coloca no meio de uma batalha entre esses dois mundos.
ANÁLISE
Quando a Marvel estreou nos cinemas trazendo personagens da mitologia nórdica, o público viu que era possível atualizar tradições para o mundo contemporâneo. Dessa forma, sem perder o misticismo, outras produções como American Gods também tiveram a proeza de contar sobre o antigo, com olhos no presente.
Mas, não é somente a mitologia eurocêntrica que se beneficia disso, a série brasileira Cidade Invisível chega para mostrar a força do folclore brasileiro. Até porque, muito além de Thor, Odin e Loki, o Brasil é farto em histórias com incríveis personagens mitológicos.
Por isso, é essencial o espectador esquecer a Cuca como o jacaré loiro do Sítio do Pica Pau Amarelo. Na série, o tom misterioso, fantasioso e até mesmo ameaçador põe em xeque entidades como Saci, Curupira, Boto, Iara e a própria Cuca. Logo, nas ruas do Rio de Janeiro, esses personagens adaptaram-se a um contexto mais urbano e social.
Consequentemente, Cidade Invisível traz o personagem de Marco Pigossi para o centro da trama. Eric é um detetive da polícia ambiental muito focado em seu trabalho e demonstra não ter muito tempo para a família. Contudo, após a misteriosa morte de sua esposa Gabriela (Julia Konrad), ele se vê sozinho com a sua filha, Luna (Manu Dieguez).
Aliás, o detetive encarna o passado, o presente e até mesmo o futuro de Cidade Invisível. Sendo assim, cada personagem a sua volta ganha um certo espaço para sua própria narrativa. Logo, a série busca apresentar as entidades místicas de uma forma mais visual e didática com o espectador.
Com isso em vista, a Cuca vivida por Alessandra Negrini é a personagem com mais tempo de tela para se desenvolver, quase como uma suposta vilã, a narrativa faz questão de construir um certo temor em volta dela. Nessa medida, apenas sete episódios com no máximo 40 minutos de duração é insuficiente para saciar a vontade de ver esses seres sobrenaturais em tela.
Tradição versus progresso
Carlos Saldanha parece ter uma visão bem clara do que almeja com Cidade Invisível e mesmo em segundo plano, as discussões sobre tradição e progresso são bem colocadas. Na ilha de pescadores na qual Gabriela trabalhava, uma empreiteira quer retirar os moradores do local para o desmatamento.
No mesmo lugar, vivia o Curupira, interpretado incrivelmente por Fábio Lago que utiliza de uma atuação carregada em maneirismos e trejeitos para dar vida a entidade. Contudo, com a urbanização e o desmatamento da mata, o protetor das florestas é obrigado a ir para a cidade.
Contudo, Cuca e companhia em nenhum momento pensam sobre o peso dessa ameaça, não existe uma discussão sobre o mal que o homem moderno pode causar. Talvez porque as entidades estão conformadas e lutam somente pela sobrevivência ou porque é um assunto para uma outra temporada.
O fato é que Cidade Invisível busca tratar sobre a cultura brasileira de forma adulta, sem enfeites ou rodeios. E da mesma forma que é pura fantasia, também consegue ser realista. Dessa maneira, a série surge em um momento no qual precisamos mais do que tudo resgatar origens e tradições para que haja um futuro com a cara do povo brasileiro.
VEREDITO
O fato de se passar no Rio de Janeiro provoca um certo apagamento do Norte e Nordeste, visto que a maioria dessas entidades se originou nesses espaços. Contudo, como o Brasil é gigante, podemos torcer por uma segunda temporada com mais personagens folclóricos em outras regiões.
4,5 / 5,0
Assista ao trailer:
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