Numa semana particularmente corrida e confusa por conta de uma importante competição de (adivinha o que?) Karate, resolvi aceitar as indicações dos amigos e ver a recém lançada série sobre a mesma arte marcial…fui ver Cobra Kai!
Eu esperava ver como o herói Daniel-San (Ralph Macchio) continuaria sua saga contra a famigerada academia que dá título à série que agora estava sendo dirigida pelo seu eterno rival e “vilão” do primeiro longa da franquia: Johnny Lawrence (William Zabka). Eu temia a forma como iriam tratar o material original que eu considero intocável, haja vista a atual falta de sensibilidade e respeito com os fãs que está arruinando grandes franquias do entretenimento. Mas isso é tema para outros papos.
Esperava também ver o mesmo antagonismo pontual repetido ali, ou seja, um “mais do mesmo” insano para faturar com a nostalgia, o popular serviço para fãs – desculpe, mas vou ser original ao usar o termo – mas ao invés disto recebi uma visão coerente do que teria acontecido naquela comunidade e nas vidas de alguns dos personagens do filme original como consequência da derrota de Johnny para Daniel e como isso ainda assombra o nosso agora anti-herói Sensei Johnny.
Vemos que Johnny agora é um faz-tudo, o chamado em terras tupiniquins de “marido de aluguel”, fazendo pequenos reparos, limpezas e instalações de aparelhos, bem chegado a (muita) cerveja. Bem distante daquilo que ele projetava em 1984, onde era retratado como um garoto rico e marrento com um futuro esnobe pela frente, hoje amargurado por ter falhado em ter sucesso financeiro, afetivo ou como pai, ele vê uma chance de reabrir o Dojo (academia de Karate) após uma série de eventos infelizes e de se ver arrastado para um pequeno conflito.
Em contrapartida, Daniel atualmente é dono da maior rede de serviços automobilísticos da região. Um bem sucedido empresário com uma vida invejável tanto do ponto de vista financeiro quanto afetivo que ao ver o letreiro na fachada do recém reaberto Dojo tem suas lembranças despertadas e com ela o receio e uma raiva que o transforma em um antagonista incondicional que não vai poupar esforços para frustrar os planos do agora Sensei Johnny e forçar o fechamento da academia.
O roteiro é simples e elaborado ao mesmo tempo, e tenta falar ao novo público tendo com âncoras os principais personagens, bem como apresentando novos; tanto na idade quanto em participação em produções da indústria do entretenimento.
A série nos mostra os novos personagens lutando contra o bullying e problemas de autoconfiança na adolescência usando como cenário a já batida escola de ensino médio americana. E faz isso de maneira bem pouco ortodoxa! O Sensei Johnny tem pouco (ou nenhum) tato ou paciência e lida com todos da mesma forma que a maioria das pessoas comuns de meia idade agiria e que hoje é considerada grosseira: apelida, insulta e leva seus alunos ao limite físico e psicológico. Como resultado há um natural debate sobre a sensibilidade excessiva que se faz necessária nos tempos atuais. Uma clara provocação e crítica à essa hipersensibilidade que a geração atual tem, o que acaba criando ao que se chama hoje de “snowflakes“, (“flocos de neve” na tradução literal), fazendo alusão aos jovens e crianças que se ofendem até mesmo ao serem confrontados com opiniões diferentes, fazendo a convivência entre as pessoas bem mais difícil do que antigamente, coisa que Johnny não entende. Eu também não entendo! As situações cômicas acontecem na maior parte por conta deste contraste de opiniões.
Enquanto Daniel toma para si um novo aprendiz depois de muito tempo afastado do Karate. Este novo aprendiz tem uma ligação bem forte com Johnny que fica chocado ao saber que ele está sendo treinado por seu desafeto.
O roteiro tem muitas reviravoltas interessantes envolvendo os personagens ligados aos protagonistas da série que vão crescendo até o último e empolgante episódio. E uma coisa é certa: apesar de naturalmente ter inclinação pelo mocinho do filme original, na maior parte do tempo aqui nesta série torci pelo sucesso de Johnny e em alguns momentos odiei Daniel. Cabe dizer que as atuações de Ralph Macchio e William Zabka – a maior surpresa da série – e dos atores mais velhos estão regulares, mas não entenda como um ponto negativo: “Regular” aqui significa que não há atuações extremamente exageradas, entretanto, as performances dos atores novatos precisava de um pouco mais de polimento e talvez eles melhorem ao longo das próximas temporadas. As situações de luta não ocupam tanto tempo de tela e apenas no último episódio que é voltado quase inteiramente ao torneio, onde temos ação e o único grande deslize perceptível (e muito!) fica por conta de um dos participantes que luta Capoeira!!!
A parte mais legal é que esta série presta uma homenagem sincera ao original com referências bem sutis ao longo dos episódios (é necessário bastante atenção para notá-las), exceto ao episódio que faz uma bonita homenagem ao Sr. Miyagi, personagem do saudoso Pat Morita, e vemos uma passagem do bastão gradual para os novos personagens sem desmerecer os antigos, bem natural, mas cada vez mais rara porque parece que hoje em dia roteiristas e diretores querem quebrar os padrões estabelecidos em algumas franquias para forçar suas visões daquele universo particular. Coisa que quase nunca funciona, não cativa novos fãs e ainda afasta os antigos. Mas nesta primeira temporada, Cobra Kai cumpre todos os requisitos com louvor e faz com que desejemos ver o próximo episódio tão logo seja lançado.
Ah… e para os “floquinhos de neve” de plantão: Há bastante diversidade no elenco, mas a gente nem nota porque suas participações são orgânicas e coerentes, o que quer dizer que fazem sentido para a história contada. Ou seja, pelo menos aqui, parece que não teremos protestos ou boicotes por cotas.
Contando com produção executiva de Will Smith, que sancionou aquela versão bizarra do filme de 2010 com seu filho como protagonista e que apesar do nome, não tinha nada de Karate, Cobra Kai é uma produção original do YouTube Red que agora também pode ser visto na plataforma online comum com dez episódios na primeira temporada. Os dois primeiros são gratuitos e os outros possuem preço de lançamento de R$ 3,90 que, acreditem, valem cada centavo.
Avaliação: Ótimo
A série acerta em cheio e acho que vai ser difícil você não considerar começar ou voltar a treinar Karate! E que venha a segunda temporada.
Cobra Kai never die!!!
Confira o trailer abaixo:
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