Início SÉRIE Crítica CRÍTICA – Mr. Robot (3ª Temporada, 2017, USA Network)

CRÍTICA – Mr. Robot (3ª Temporada, 2017, USA Network)

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O caminho para Mr. Robot se tornar uma das melhores (ou até a melhor) série já feita, é inevitável. O terceiro ano da trama confirma sua capacidade de desenvolvimento pleno e pavimenta o caminho para uma quarta temporada extremamente promissora. Sam Esmail, criador, roteirista e diretor da série mostra que as duas temporadas anteriores foram planejadas para chegarmos no ponto em que estamos: no embate ao 1% dos 1%, aqueles que brincam de Deus sem permissão.

Quando iniciamos nossa jornada em Mr. Robot, conhecemos Elliot (Rami Malek) e ele nos conta, dentre tantas outras coisas, um segredo:

Há um grupo poderoso de pessoas lá fora que estão secretamente dirigindo o mundo. (There’s a powerful group of people out there that are secretly running the world)

Essa frase aparece logo nos primeiros episódios da primeira temporada e você pode assistir esse trecho diretamente no site da série. Essa cena não está disponibilizada no site – desde a primeira temporada – por acaso. Como todo o planejamento da série, a cena está lá para um fim específico: nos lembrar quem são os reais inimigos e quem deve ser atingido pela revolução.

O fato é que, no início do seriado, temos um Elliot buscando uma forma de fazer justiça. Justiça pela morte de seu pai, justiça por sua amiga de infância Angela (Portia Doubleday), justiça por milhões de pessoas que possuem dívidas e sofrem em detrimento das grandes organizações, justiça pelo modo de vida que somos obstinados a ter devido a esse grupo de pessoas que mandam no mundo.

A “Evil Corp”, símbolo de todo o “mal” e injustiças (aos olhos de Elliot) se torna um alvo evidente para o início de uma revolução. Uma forma de mostrar que estamos acordados, que somos maioria e que podemos mudar os caminhos do mundo. Criando um movimento chamado FSociety e com a ajuda de algumas pessoas – entre elas, sua irmã Darlene (Carly Chaikin) e o próprio Mr. Robot (Christian Slater) -, Elliot prepara um grande ataque. It’s happening! Será?

Na transição para a segunda temporada, Elliot e Darlene percebem que a revolução idealizada teve consequências muito maiores para a população do que, de fato, para a própria Evil Corp e o 1% dos 1%. A fome, o desemprego, o fim dos serviços básicos e uma economia destroçada só afetaram, de fato, aqueles que eles mais queriam ajudar. Além desses acontecimentos e do fardo que ambos carregam, nosso protagonista precisa lidar com sua(s) personalidade(s) e seu relacionamento conturbado com Mr. Robot, procurando um meio termo para seguir não só existindo, mas também lutando. No jogo de xadrez da segunda temporada, somos todos peões de uma causa maior. Um caos controlado e ministrado por alguém acima de nós.

Mr. Robot: 3ª temporada é uma corrida contra o tempo

É trilhando esse caminho que Sam Esmail nos traz uma terceira temporada mais fácil de ser apreciada pelo grande público (e não tão específica como a segunda, repleta de easter eggs e reviravoltas extraordinárias) e volta a tomar atitudes mais perceptíveis. “Afinal, nós erramos em tudo, o que fazemos agora?”.

Com o relógio como adversário, Elliot passa toda a trama tentando desfazer os planos que, anteriormente, ele havia ajudado a criar. O projeto em estágios que ele desenvolveu junto com o Dark Army e com a ajuda de Mr. Robot precisa ser parado de alguma forma antes que obtenha resultados piores. Seus antigos aliados passam a ser seus inimigos e, sozinho, ele precisa encontrar formas de enganar Mr. Robot e conseguir barrar os planos do Dark Army.

O melhor episódio da temporada, inclusive, aborda o tempo: em eps3.4_runtime-err0r.r00, Elliot corre para impedir um ataque no prédio da E Corp enquanto Angela corre para fazer com que o ataque aconteça. É nesse momento que Elliot, Mr. Robot, Tyrell e Darlene percebem que há algo errado e o inimigo, na verdade, é outro. Que a Evil Corp, apesar de representar tudo o que eles mais odeiam, é administrada pelo 1% dos 1% e que revoluções iguais às que a Fsociety orquestrou só acontecem porque homens como Philip Price (Michael Cristofer), CEO da Evil Corp, permitem.

O tapa na cara que Sam Esmail nos dá com essa trama é imenso, pois demonstra que se não há um alvo correto, um inimigo certeiro, o que sobrará das revoluções é o fracasso. Uma onda de revolta que aparece e, na mesma proporção, some, deixando apenas sofrimento e desespero para quem mais necessita de ajuda.

Obviamente, a terceira temporada é também um caminho de redenção para Elliot e Mr. Robot. A percepção é de que não existe uma forma pacífica de um deles existir sem o outro. A raiva e a atitude de Mr. Robot são o combustível contra a inércia e a solidão de Elliot. E, para que consigam derrubar o 1% dos 1%, eles precisam de força máxima. Todas as diferenças que acompanhamos ao longo da segunda temporada – atritos de ideias, convicções, forma de agir – tudo isso é deixado de lado após ambos perceberem os desafios que estão por vir.

Vale ressaltar o excelente trabalho de Sam Esmail com o personagem Whiterose, interpretado magnificamente por BD Wong. Constantemente flertando com o tempo (e muitas vezes avançando na possibilidade de criar um sci-fi dentro da trama), Sam consegue colocar Whiterose como figura onipresente, onisciente, sem definição de gêneros e que atua nas sombras e também aos olhos de todos. Uma figura pública que comanda o destino de um país e, ao mesmo tempo, manipula vários outros. É como se não existissem regras para a sua existência e que, com isso, ele consiga êxito em tudo o que faz.

Num balanço geral, a terceira temporada de Mr. Robot diminui o fluxo de experiências e easter eggs (a segunda temporada foi inteiramente experimental, com ações de comunicação nas redes sociais, via newsletter e em hotsites da série, que complementavam cada episódio após seu término) e foca mais na sua trama e seu desenrolar. Após uma temporada que apresenta o cenário e uma segunda que desenvolve todos os personagens, a terceira é como um mapa que mostra a direção e o que podemos esperar dos próximos anos. É um case de série que sabe planejar a sua existência e não deixa furos em sua trama. Uma revolução televisiva que precisa ser vista enquanto acontece e não deve ser ignorada.

Ah, e não deixe de assistir à cena pós-crédito do último episódio. Há um retorno inesperado e que dá pistas de que a quarta temporada terá mais um elemento para dificultar a vida e o trabalho de Elliot e Darlene.

Avaliação: Excelente

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