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CRÍTICA – Succession (3ª temporada, 2021, HBO)

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CRÍTICA - Succession (3ª temporada, 2021, HBO)

A terceira temporada de Succession chegou ao fim com nove episódios, a produção é uma criação de Jesse Armstrong. Na produção executiva estão nomes como Will Ferrell (Eurovision) e Adam McKay (Não Olhe para Cima). Já no elenco estão Brian Cox, Kieran Culkin, Matthew Macfadyen, Alan Ruck, Nicholas Braun, Sarah Snook e Jeremy Strong.

SINOPSE

Kendall Roy (Jeremy Strong) acaba de jogar uma bomba sobre a dinastia de seu pai. Ao invés de assumir a culpa pelos crimes da Waystar Royco no setor de cruzeiros, Kendall trai Logan (Brian Cox) e anuncia publicamente que o magnata sabia de todo o esquema. A já disfuncional família Roy precisa, agora, encarar mais um escândalo, enquanto a disputa pela sucessão parece longe de um fim.

ANÁLISE

Com tantos conflitos e emoções à flor da pele, é fácil esquecer que a premissa da série é sobre a sucessão da empresa da família, a Waystar Royco. Essa é a base da série, que precisamente é lembrada por Logan ao público no final da terceira temporada. Suas últimas palavras no episódio nove – “Eu sempre venço” – tem o gosto amargo da realidade aos irmãos Roy. 

É preciso dizer que tal como uma tragédia shakespeariana, Succession tem a dualidade do bem e do mal. São personagens imperfeitos, mas em certos momentos geram uma espécie de empatia. Seja no distúrbio emocional de Kendall, na incapacidade de se relacionar de Roman (Kieran Culkin) ou no leve cinismo de Shiv (Sarah Snook). Tudo mostra que os irmãos Roy são pessoas quebradas, graças ao seu pai que a vida inteira fez um jogo de poder com os filhos. 

Durante a temporada inteira uma pergunta deve ter surgido ao espectador. Será que Logan Roy ama mesmo os seus filhos? O ator Brian Cox diz que sim. Mas é fato que, acima de tudo, Logan ama ganhar. E, em especial, na terceira temporada, ele quer provar que tem o controle da sua prole e que eles precisam aprender a se virarem sem a empresa. 

Dessa maneira, reafirma-se que a produção é sobre sucessão, não necessariamente de Kendall, Roman e Shiv. O que gera um certo incômodo, tanto nos personagens, como no público. É fato que não existe nenhum apreço pelas atitudes desses personagens, mas não ver nenhum ganhar a empresa meio que é um balde de água fria. 

Porém, é preciso levar em conta que Succession também é sobre abuso. O quanto Logan exauriu essas crianças, metade disso é contado na própria abertura da série e fica ainda mais evidente na segunda temporada quando Roman leva um tapa do pai e Kendall o defende. Já na terceira, no último episódio, temos Roman dizendo em meias palavras que foi deixado para trás pelos irmãos em uma pegadinha com o pai para sofrer as consequências. 

Logo, é nos detalhes da série que se entende a dinâmica conturbada dessa família e em como todos estão rendidos por Logan. Não que os irmãos Roy sejam boas pessoas, Kendall finalmente confessa que matou o garçom para os irmãos que até tentam consolá-lo, mas também fazem piadas da tragédia. 

Ainda assim, é o momento em que os três se unem e vão contra o pai – uma intenção que não era esperada pelos espectadores – que faz total sentido quando esses personagens têm desejos em comuns (também gosto de pensar que a união dos irmãos do Roy, em parte por dinheiro, tem um pouco a ver com irmandade). 

Visto que, de certa maneira, eles perderam seus outros aliados por culpa própria. Kendall dispensou Greg (Nicholas Braun), e este voltou correndo para Tom (Matthew Macfadyen); Shiv manipulou Tom até o último momento e seu desafeto fez ele a trair; já Roman minou a relação com Gerri (J. Smith-Cameron) ao não parar com as fotos impróprias. Resta aos Roy, apenas uns aos outros. 

O sucesso de Succession 

O que faz Succession ser uma série excepcional e sem dúvida uma das melhores (se não a melhor da atualidade) é o quanto suas situações são surreais. O teor sensacionalista, debochado e cínico se acentua nessa terceira temporada e, ao mesclar com a estética corporativa, cria uma verdadeira ode ao escárnio. 

Dessa forma, poderia ser muito simples assimilar a produção de Jesse Armstrong a uma série de comédia, afinal, todos os aspectos estão ali. No entanto, o drama familiar e pessoal desses personagens revelam que estamos rindo deles e não com eles. Por isso, é notável que nessa temporada, as ações da maioria dos personagens mostre suas verdadeiras faces.

Sendo assim, além de um texto afiado, temos um elenco que entende e se doa completamente aos seus personagens. Jeremy Strong fez a sua melhor temporada apresentando as mudanças de estado de Kendall de uma forma profunda. 

Logo, o sucesso da série está no conjunto da obra. Como a direção conduz as percepções e reações dos personagens sobre as situações e aos outros ao redor; a forma que o roteiro é dinâmico e cheio de malícia; e como esses personagens, tão fora do mundo real, são naturais.  

Se existia uma preocupação geral com Succession ser uma produção que dá voltas em si mesmo, sem apresentar consequências, isso foi se desmistificando ao longo dessa temporada. Os resultados das ações de Kendall, Roman e Shiv estão na perda de seus aliados, pessoas que talvez eles consideravam mais que seus irmãos, na maior batalha. Já as consequências de Logan, por mais que ele sempre ganhe e ame suas crianças, estão na perda de sua empresa e na falta de afeto pelos próprios filhos.

VEREDITO

Nada mudou e tudo mudou na terceira temporada da série. Afinal, é uma produção imprevisível e tal como uma tragédia shakespeariana está disposta a exercer seu livre arbítrio. Não se sabe se as alianças feitas no final da temporada serão mantidas no próximo ano, mas uma coisa é certa: cada personagem buscará o que mais lhe favorece.

Acredito que seja por isso que os fãs amam tanto a produção; Succession não tem amarras com “mocinhos e bandidos”. É a humanidade no seu mais puro cinismo.

5,0 / 5,0

Assista ao trailer:

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