O último episódio de We Are Who We Are se chama Right Here, Right Now VIII and Last e foi ao ar na HBO, na última segunda-feira (02/11). A criação de Luca Guadagnino se encerra como uma incrível experiência sensorial.
SINOPSE
A família Poythress está prestes a se mudar para Okinawa. Porém, antes de Caitlin/Harper (Jordan Kristine Seamón) ir embora, ele e Fraser (Jack Dylan Grazer) vão ao show de Dev Hynes na Bolonha. A despedida entre os amigos se transforma em um momento cheio de emoções e realizações.
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ANÁLISE
Em uma indústria onde se está tão acostumado com respostas e resoluções na cara do espectador, We Are Who We Are é um alívio. Não que respostas não sejam importantes para uma série, mas bem mais do que saber como acabou cada personagem, é importante saber suas realizações ao final de uma temporada.
Consequentemente, nem sempre acaba tudo bem ou com um desfecho mirabolante. E é aí que mora a graça, já que realmente não precisamos saber de tudo. Veja a relação entre Sarah (Chloë Sevigny) e Maggie (Alice Braga) que nem aparecem neste último episódio, mas são vistas em uma espécie de conciliação no episódio anterior.
Ainda que haja o interesse de saber mais sobre essa relação: Maggie é condescendente com Sarah, porque a mesma a deixa ter casos fora do casamento? O casamento irá sobreviver com Sarah cada vez mais afastando Maggie de seu trabalho e da criação de Fraser? Não sei. Aliás, é interessante imaginar essas propostas para entender o quanto esses personagens são dúbios.
O mesmo acontece com a família Poythress que teve mínima participação no episódio oito. Para Richard (Kid Cudi) e Jenny (Faith Alabi) a mudança da base soa quase como um alívio, mas também uma derrota. Ambos querem se afastar da família Wilson. Mas, enquanto Jenny perde uma chance de autonomia e liberdade matrimonial, Richard perde sua “afirmação” enquanto homem perante uma mulher lésbica.
Logo, fica a dúvida se esse casamento também não desmoronará dado o quão frágil é a relação entre ambos. Da mesma forma, não temos uma resolução de Danny (Spence Moore II) em busca do afeto de Richard. No último episódio, o jovem parece ter encontrado seu lugar na religião, mas talvez não seja o suficiente ou até mesmo seja uma faísca para sua forma explosiva.
Todos esses “não finais” servem para explicitar a proposta de Luca Guadagnino com We Are Who We Are: sempre foi sobre o Aqui e Agora. Dessa forma, Right Here, Right Now VIII and Last pode soar como uma traição aos desentendidos que buscam conclusões ou como uma experiência emocional aqueles que buscam vivenciar a série.
Os protagonistas de We Are Who We Are
Ao mesmo tempo que Harper responde que ninguém existe. Nem mesmo eles. É uma fuga das imposições e invisibilidade do dia a dia que esses jovens sentem. Por serem jovens, não são levados a sérios pelos pais, mas também são cobrados por responsabilidade.
Logo, faz todo o sentimento o último episódio da série ser fora da base. É um momento único em que Harper e Fraser podem ser quem eles quiserem ser sem a vigilância constante dos militares. Nesse sentido, Guadagnino e seus escritores trabalham muito bem com a temática da série.
We Are Who We Are é sobre a descoberta do outro e de si mesmo, sobre desejo, sobre amar e ser amado. Sendo assim, durante a série Harper se interessa pela atendente do bar. Após trocarem uns beijos, a moça pergunta se Harper é trans ou que ele responde que acha que sim. É um momento de revelação para Harper, já que é a primeira vez que vemos ele assumir sua identidade.
Não à toa, ele se sente mal e deseja fugir para sua família. Logo, a câmera vira de ponta cabeça, enquanto Harper ao som de “Time Will Tell” atravessa a multidão e vai ao banheiro lavar o rosto para tirar a barba feita com pelos. É claramente uma inversão do mundo de Caitlin para o mundo de Harper, onde a mudança pode ser assustadora.
Já Fraser aproveita ao show com um menino que conheceu no caminho. O garoto italiano se assemelha a Fraser no gosto por moda e na personalidade excêntrica. No entanto, Fraser esquece completamente de Harper e opta por viver o momento ali com o garoto que acabou de conhecer. Como se fugisse da dor de ter que dar adeus ao amigo.
Já depois do show, o menino e Fraser andam pelas ruas de Bolonha. Logo, um beijo meio desajeitado surge e Fraser pergunta ao garoto se já tinha beijado outro rapaz. A resposta é não e que não gostou muito da experiencia. Fraser acha graça e sua espontaneidade tão criticada nos episódios anteriores toma mais uma vez forma nesse momento.
Fraser é sobre a fluidez e assim por dizer, é um personagem que não se apega a rótulos e busca viver o momento. Já no desfecho da série, o garoto diz a Fraser que na cidade há um lugar que é o mais bonito do mundo. Fraser então corre até a estação e tira Harper de dentro do trem para juntos verem o tal lugar.
O lugar em si é um prédio normal sem nada de magnífico. Mas, o verdadeiro significado do tal “lugar mais bonito do mundo” está em estar na companhia de quem se ama. E Fraser ama Harper, assim como Harper ama Fraser. O amor tem duas diferentes formas e por isso, quase como uma despedida os dois se beijam.
O momento pode ser confuso para os espectadores, porém é a demonstração mais verdadeira que ambos conseguem dar do sentimento um pelo outro. Eles são o que são, mas também são quem quiserem ser.
VEREDITO
Luca Guadagnino concretiza uma obra sensorial e sentimental de forma linda; Tão mágico e emocionante é We Are Who We Are.
O episódio em si é cheio de nuances que misturam a beleza do silêncio da noite italiana ao barulho animador de um show. Fica o gostinho para uma segunda temporada, mas também a satisfação de ter assistido uma grande obra da TV.
4,5 / 5,0
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