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CRÍTICA – A Baleia (2023, Darren Aronofsky)

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A Baleia

Após o eletrizante Mãe! de 2017, Darren Aronofsky co-produziu longas que geraram burburinho, como Enfermeiro da Noite para a Netflix. Mas nada se compara ao que o diretor conseguiu ao lado de Brendan Fraser em A Baleia. O longa da A24 é baseado na peça homônima escrita por Samuel D. Hunter, além de estrelado pelo adorado ator da franquia A Múmia, dos anos 2000; que nos leva nesta produção por uma viagem tocante, emocionalmente estafante e dramática.

Ao longo de suas quase duas horas, somos lançados à casa de um professor que parece ter se afundado nos pesares de um amor que partiu de vez. A direção de Aronofsky que nos confina por duas horas em um mesmo ambiente e assim nos permite entender o quão humana a história é, e que em todos os momentos, nós, os espectadores, poderíamos ser Charlie.

SINOPSE

Em A Baleia, acompanhamos a história de um professor de inglês e seu relacionamento fragilizado com sua filha, Ellie (Sadie Sink). Charlie (Brendan Fraser) é um professor de inglês recluso, que vive com obesidade severa e luta contra um transtorno de compulsão alimentar. Ele dá aulas online, mas sempre deixa a webcam desligada, com medo de sua aparência. Apesar de viver sozinho, ele é cuidado pela sua amiga e enfermeira, Liz (Hong Chau).

ANÁLISE

Algo que sempre se destaca nas obras de Aronofsky, são seus designers de produção. Em Mãe!, a casa criada por Philip Messina ganhou protagonismo, e o mesmo ocorre agora com a casa de Charlie, idealizada por Mark Friedberg. O longa nos passa uma sensação de abandono o tempo todo no que diz respeito à casa de Charlie, e traça paralelos entre ela e sua forma física, mostrando que o descaso vai para além de sua saúde. Tudo isso, enquanto mostra que a depressão que assola o protagonista, assim como grande parte dos neuroatípicos atinge não apenas seus corpos, mas influencia diretamente na forma destes indivíduos viverem.

A visceralidade dos atores presentes nas histórias de Darren Aronofsky tendem à lançar seus personagens a um novo patamar, colocando uma maior urgência nas tramas, fazendo assim a veia e os tons dramáticos ganharem ainda mais destaque. O incômodo do longa vai para além do traje de mais de 100kg que Brendan Fraser usou para viver Charlie, mas também nos personagens que o rodeiam e as escolhas que os personagens tomam.

Ellie, a personagem vivida por Sadie Sink é confusa, mas é o retrato fidedigno de uma adolescente frustrada e revoltada, cuja vida parece ter parado de desenvolver quando seu caminho se afastou do de seu pai.

O filme funciona como um retrato verossímil de uma realidade tão próxima da nossa quanto possível. E quando vemos a história do filme se desenrolar no período de uma semana, testemunhando o retorno de personagens do passado de Charlie, que voltam à cena e sua vida muda completamente. Como Charlie se estabelece como um otimista incorrigível, o longa faz com que isso se mostre como um problema, mas define quem ele realmente é, esperando o tempo todo que as pessoas tirem o melhor de si, seja nas atividades as quais elas se propõe desempenhar, como com sua filha, cujo caminho trilhado até aqui, não parece ser dos mais corretos.

Brendan Fraser é uma obra por si só. E enquanto atua como um professor de uma faculdade à distância, sempre com sua câmera fechada para que seus alunos não o vejam, seu papel dramático como Charlie o alça à um lugar no cinema que ele não parece jamais ter ocupado. Se distanciando das comédias das quais atuou, A Baleia é um filme sobre depressão e sobre acreditar no melhor das pessoas. É sobre o quão difícil o luto pode ser quando não tratado e encarado de frente.

Testemunhamos em cena, por fim, a grandeza desse ator que, ao dar vida a Charlie, nos mostra que as adversidades e viver uma vida assim, vão além das dificuldades físicas. Do alto dos 1,89m de Brendan Fraser, posso dizer que esse é o comeback que o ator merecia. E mesmo que ele surja pequenino em proporção, rapidamente se torna glorioso. Mesmo que a aparência de Charlie não o faça parecer uma das pessoas mais agradáveis, ele rapidamente se revela como um dos mais sensíveis e humanos do cinema dos últimos anos.

VEREDITO

A Baleia é facilmente um dos melhores filmes que esse que vos escreve já assistiu. Após encerrar a sessão aos prantos, ouso dizer que Brendan Fraser e o filme são os meus favoritos em todas as categorias que estão indicados ao Oscar 2023. A direção de Aronofsky tem a sutileza de um pelotão de fuzilamento. Ao não pegar na mão do espectador para contar uma história, o diretor opta por escancarar as dificuldades de uma vivência em meio à uma crise depressiva desencadeada pelo luto.

Sendo assim, A Baleia merece ser assistido por todos, e encarado com uma pitada de cautela. Pois mesmo das adversidades, algo belo pode nascer.

5,0 / 5,0

Confira o trailer do filme:

A Baleia estreia no dia 23 de fevereiro em cinemas de todo o Brasil.

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