A Crônica Francesa (The French Dispatch) é o novo longa do aclamado diretor Wes Anderson. Após um hiatus de três anos desde seu último projeto (a animação Ilha dos Cachorros, de 2018), Anderson retorna com um mundo visualmente ainda mais robusto, e habitado por um elenco estelar.
Os destaques do elenco de estrelas são Frances McDormand, Adrien Brody, Tilda Swinton, Timothée Chalamet, Jeffrey Wright e Benicio Del Toro.
A Crônica Francesa estreia dia 18 de novembro.
SINOPSE
A Crônica Francesa é um filme que serve como carta de amor aos jornalistas. Ambientado em um posto avançado de um jornal americano, em uma cidade pacata fictícia na França do século XX, o filme traz à vida crônicas e coleções de histórias publicadas no jornal The French Dispatch Magazine.
ANÁLISE
O quão inventiva pode ser a mente de Wes Anderson? O diretor de 52 anos possui uma carreira invejável, elencando projetos extremamente bem-sucedidos não só entre a crítica especializada como, também, entre o público.
Anderson é um daqueles diretores que consegue agradar pessoas de diversas idades, principalmente por causa da visão criativa que emprega em seus longas. Ao dar play em qualquer produção do diretor, é sabido que iremos encontrar enquadramentos inspirados, dinâmicas diferenciadas, paletas de cores inspiradoras e montagens surpreendentes.
O elenco repleto de estrelas já é outra marca registrada do cineasta. Crescendo gradativamente na indústria, Anderson chegou ao patamar de poder escolher qualquer artista para fazer parte de seus filmes. A confiança desses profissionais é inegável, não só pela qualidade narrativa, mas pela capacidade do diretor em transformar histórias em espetáculos visuais.
Os projetos de Anderson sempre trazem um local a ser desbravado, sendo a ambientação parte crucial para o desenrolar de toda a trama. Em seus longas mais recentes, vivemos em um acampamento (Moonrise Kingdom, 2012), acompanhamos desventuras em um grande hotel (O Grande Hotel Budapeste, 2014) e desbravamos uma ilha (Ilha dos Cachorros). Agora em A Crônica Francesa, o espaço escolhido por Anderson como ponto inicial da narrativa é o prédio onde essa publicação é produzida.
Com uma apresentação rápida, logo em seus primeiros minutos de projeção, A Crônica Francesa estabelece todo o contexto para os curtas que assistiremos a seguir. Arthur Howitzer, Jr. (Bill Murray) herdou um jornal de seu pai, criou essa revista e deu espaço para que seus jornalistas elaborassem as melhores histórias possíveis, dentro de suas linhas narrativas. Escrever com empenho e dedicação, mas mantendo seus interesses e paixões.
Toda a construção da pequena cidade fictícia de Ennui-sur-Blasé, na França, preenche as lacunas visuais das histórias narradas por Sazerac (Owen Wilson), Berensen (Tilda Swinton), Lucinda Krementz (Frances McDormand) e Roebuck Wright (Jeffrey Wright). Se Sazerac explora partes negligenciadas da cidade, dando foco à população local, Roebuck traz os temperos da culinária local atrelados a uma saga eletrizante.
A Crônica Francesa é um compilado de short films, nos quais cada esquete possui início, meio e fim, assim como um artigo semanal da revista. A ideia é boa, pois consegue aproveitar muito bem os atores principais do longa, abrindo espaço para que executem seus monólogos da melhor forma possível. Entretanto, muitos outros do vasto elenco acabam se tornando apenas coadjuvantes de luxo.
A estrutura desse filme mantém algumas das ideias já utilizadas por Anderson em outras produções, como os voiceovers narrativos e o trabalho ágil de direção de arte e montagem, explorando o potencial visual da produção e quase criando um híbrido entre cinema e teatro. Anderson consegue construir uma experiência imersiva para o espectador, que se sente parte daquele colorido mundo.
Entretanto, há armadilhas quando exploramos demais o visual. Em A Crônica Francesa, o diretor parece utilizar todos os elementos gráficos e de transição possíveis, tornando uma ideia já robusta e sofisticada em uma experiência um pouco cansativa.
Não só esses excessos causam um pouco de fadiga, como acabam minimizando o nosso elemento de admiração. Afinal, se a todo momento você tem a priorização do design, em certo ponto isso para de causar surpresas em quem está assistindo, se tornando algo comum. Ainda assim, A Crônica Francesa é um filme com ótimo desenvolvimento e que sabe finalizar sua trama de forma mais do que satisfatória.
Dentre todas as histórias abordadas ao longo dos 107 minutos de duração, confesso que a que mais gostei foi a de Roebuck Wright, interpretado por Jeffrey Wright, chamada “A Sala de Jantar Privada do Policial”. Há algo na atuação de Wright que causa um impacto extremamente positivo, elevando o filme a outro patamar. Seu olhar possui um misto de ingenuidade e confiança, e o texto ajuda muito a tornar o segmento de sua história um dos melhores momentos da produção.
Mesmo a duas vezes vencedora do Oscar, Frances McDormand, tendo um arco próprio chamado “Revisões para um Manifesto”, sua reportagem é uma das mais fracas do longa. Com uma narrativa sem vida e um desenrolar estranho, a combinação de seu talento com o de Timothée Chalamet não acrescentam em nada para a pequena história, que parece deslocada das outras apresentadas em tela.
Talvez o que falte para A Crônica Francesa ser tão arrebatadora quanto outros filmes de Anderson é ser menos planejada e engessada. Ao calcular meticulosamente como cada história deve se parecer e elencar elementos visuais um após o outro, a produção deixa de nos comover e inspirar com as histórias de seus personagens, tornando a experiência passageira.
VEREDITO
A Crônica Francesa é mais um belíssimo filme de Wes Anderson, que outra vez se supera em sua forma de contar histórias. Com uma montagem inspirada e elementos visuais característicos de suas produções, o diretor entrega mais um ótimo longa em sua filmografia.
4,0/5,0
Assista ao trailer:
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