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CRÍTICA – Doutor Sono (2019, Mike Flanagan)

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Doutor Sono: Filme baseado na obra de Stephen King ganha seu primeiro trailer

O Iluminado é um dos filmes mais icônicos da história do gênero de terror. Stanley Kubrick conseguiu aliar o paranormal e o terror psicológico, tirando o máximo de atuação dos seus atores de maneira pouco ortodoxa. As feições de medo e agonia de Shelley Duvall eram verdadeiras de tanto que o diretor apavorava a atriz no set.

Kubrick era um gênio e inegavelmente um dos melhores de sua geração e utilizou diversas técnicas de filmagem, com planos abertos e em sequência, nos inserindo nas cenas e na própria obra, fazendo todos os espectadores ficarem de cabelo em pé a cada passagem do filme. Aliado, claro, a uma atuação espetacular de Jack Nicholson, que foi brilhante em cada minuto de tela.

Jack Nicholson em O Iluminado, de 1980.

Doutor Sono segue imediatamente de onde O Iluminado parou. Após todos os incidentes no Hotel Overlook, a família Terrance tenta recolocar sua vida nos trilhos depois de viver o verdadeiro inferno com a loucura de seu patriarca. Danny/Dan – vivido na infância por Roger Dayle Floyd e por Ewan McGregor quando adulto – continua tendo visões e tentando lidar com seus poderes sobrenaturais. Depois de quarenta anos, uma nova força surge em uma garota, Abra (Kyliegh Curran) que tem os dons muito mais poderosos que o próprio Dan jamais teve. Um grupo de seres com habilidades especiais está à procura da menina para se manter vivo, pois suga a energia dos “iluminados”.

Ewan McGregor em Doutor Sono.

Mike Flanagan tem como uma de suas principais assinaturas a criação de uma história voltada mais para o suspense do que o terror. Seus trabalhos anteriores mostram muito isso, uma vez que Jogo Perigoso (2017) e A Maldição da Residência Hill (2018) evidenciam seus talentos como uma espécie de “discípulo” de Stanley Kubrick, utilizando as mesmas técnicas de filmagem com os planos abertos e/ou em sequência, todavia, o enfoque está mais voltado para o que os personagens estão fazendo naquele momento, sem uma atmosfera tão sombria quanto seu antecessor, ou seja, estilos diferentes para autores diferentes. Enquanto o diretor de O Iluminado focava mais na questão psicológica de seus personagens, principalmente de Jack Torrance, Flanagan aposta mais na história e no desenvolvimento dos poderes paranormais de seus personagens.

Doutor Sono tem como principal característica elucidar bem os fatos, sendo por vezes até muito explicativo em alguns diálogos. O primeiro ato do longa mostra tudo que aconteceu ao longo dos anos seguintes para montar a personalidade de Danny, sendo até um pouco arrastado, entretanto, necessário para que tivéssemos uma lembrança e nossas memórias fossem resgatadas.



O filme funciona em diversos pontos, principalmente em seu terceiro ato, pois todas as referências que estão na história possuem uma finalidade, sem ser apenas um fan service barato e que está lá apenas para agradar quem ama a história de Stephen King.

As atuações são honestas, destaques para Ewan McGregor, Kyliegh Curran e Amily Alyn Lind, que interpreta a vilã Andi Cascavel, pouco aproveitada, mais por culpa do roteiro do que pela atriz, uma vez que ela entrega boas cenas individuais, sendo aterrorizante e a única convincente dentre os demais antagonistas que são apenas genéricos e cumprem o papel de serem um estorvo aos protagonistas.

O destaque de ator mirim vai para o talentoso Jacob Tremblay (Extraordinário), que em poucos minutos entrega uma atuação de luxo. O que prejudica o filme é sua cadência e seus furos de roteiro. Não conseguimos entender o porquê de os vilões serem uma ameaça tão poderosa se eles são tão vulneráveis quanto os humanos. Além disso, o fato do filme ser extremamente didático faz com que percamos a sensação de mistério, com diálogos expositivos demais, perdendo um pouco o charme. Se Mike Flanagan tivesse focado nos dilemas de Dan e suas assombrações com um embate emblemático com a origem de seus medos, o filme com certeza ganharia muito mais impacto, sendo um dos melhores do ano.



Doutor Sono é uma boa sequência de O Iluminado, mesmo não tendo o charme de seu prequel. O longa possui bons atributos e entrega o que promete, de forma segura, sem riscos.

Assista ao trailer legendado:

E você? Como está seu hype para Doutor Sono? O filme chega aos cinemas nesta quinta-feira (07). Deixe sua opinião nos comentários, ela é muito importante para nós.

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