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CRÍTICA – O Homem que Vendeu sua Pele (2021, Kaouther Ben Hania)

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CRÍTICA - O Homem que Vendeu sua Pele (2021, Kaouther Ben Hania)

O Homem que Vendeu sua Pele (The Man Who Sold his Skin) concorreu ao Oscar 2021 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Representante da Tunísia, a produção é dirigida e roteirizada por Kaouther Ben Hania, e traz Yahya Mahayni no papel principal. O ator foi agraciado com o Prêmio Orizzonti de Melhor Ator no Festival de Veneza de 2020.

Distribuído pela Pandora Filmes, o longa chegou aos cinemas do Brasil no dia 7 de outubro de 2021.

SINOPSE

O filme acompanha Sam Ali (Yahya Mahayni), um jovem sírio sensível e impulsivo que trocou seu país pelo Líbano para escapar da guerra. Para poder viajar para a Europa e recuperar o amor de sua vida, ele aceita ter suas costas tatuadas por um dos artistas contemporâneos mais cultuados do mundo. Transformando seu próprio corpo em uma obra de arte de prestígio, Sam perceberá, entretanto, que sua decisão pode significar qualquer coisa, menos liberdade.

ANÁLISE

O Homem que Vendeu sua Pele possui um elenco incrível. Yahya Mahayni, Monica Bellucci, Dea Liane e Koen de Bouw desempenham ótimos papéis sob a direção de Kaouther Ben Hania. A ideia instigante e provocativa do filme de Kaouther coloca o espectador em uma posição de desconforto do início ao fim.

Ao contar a história de Sam Ali, um homem que foge da Síria por medo de se tornar prisioneiro, O Homem que Vendeu sua Pele perpassa diversos assuntos importantes e desafiadores. Graças à direção sólida e ao roteiro bem estruturado, o longa evita que suas ideias se tornem críticas rasas ou clichês.

Sam, que se torna refugiado no Líbano, está impedido de circular para qualquer outro país por não possuir um visto. O cerceamento de sua liberdade se deve ao fato dele ter fugido de sua terra natal, onde ele seria preso injustamente e perderia (ironicamente) a sua liberdade.

Em meio ao paradoxo de sua realidade, Sam esbarra em Jeffrey Godefroi (Koen De Bouw), um dos maiores artistas plásticos do mundo. Reconhecido e requisitado por todos os grandes museus, Jeffrey é uma referência em sua área, sempre transformando “algo inútil em arte”.

No alto de seu elitismo e arrogância, Jeffrey propõe para Sam um esquema de tráfico humano envelopado em forma de arte: Sam se torna um objeto ao ser tatuado por Jeffrey e, em troca, ganha acesso a qualquer lugar do mundo.

Toda a dinâmica tem como “propósito” mostrar como favorecemos mercadorias em detrimento de pessoas. Um ser humano, que foge de um país para sobreviver, se torna persona non grata em outros lugares do mundo. Ao passo que uma mercadoria, que gera lucro, pode circular sem problemas.

Ao aceitar o acordo, Sam ganha a sua liberdade e o dinheiro que tanto sonhava. Entretanto, o roteiro de Kaouther nos conduz pelas diversas nuances dessa escolha, abordando temas como a exploração dos refugiados, do corpo humano como mercadoria e dos limites entre a inovação e o crime.

Toda a ideia distópica de O Homem que Vendeu sua Pele, que nos dias de hoje já não é tão absurda assim, traz um confronto direto para o espectador, que navega com Sam pelas diversas consequências de sua escolha.

A atuação de Yahya Mahayni é incrível, pois ao mesmo tempo que dá vida a um personagem que vive um grande dilema, o ator consegue trabalhar sua simpatia e gentileza em boa parte das situações. Uma pessoa simples, vivendo em uma situação complexa, abdicando de seu lar em busca de liberdade, mas que acaba por ser explorado e humilhado constantemente.

O elenco de apoio também se sai bem, apesar de seus personagens não serem tão marcantes quanto o de Yahya. Monica Bellucci e Koen De Bouw são blasé e irritantes o tempo todo, ao passo que Dea Liane conduz toda a carga emocional da relação entre sua personagem e Sam.

Apesar do ótimo plot e conceito da história, seu terceiro ato é a parte mais fraca da produção. A forma como Kaouther opta por finalizar a obra deriva para o surreal, de uma maneira que se desconecta um pouco do que foi construído ao longo da história.

VEREDITO

O Homem que Vendeu sua Pele possui um ótimo conceito e se destaca pela atuação marcante de Yahya Mahayni. Seu roteiro é bem construído, apesar de ter um último arco que, na minha opinião, destoa do desenvolvimento da trama até aquele momento.

Entretanto, devido à sua premissa, aos temas provocativos e às boas atuações, o filme merece o destaque que recebeu na temporada de premiações.

3,8/5,0

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