Mais um Halloween se aproxima e mais uma vez Michael Myers volta para assombrar Laurie Strode. Em Halloween Kills: O Terror Continua, que chega no dia 15 de outubro nos cinemas, Laurie não está mais sozinha. Agora, a final girl conta com o apoio de sua filha e neta para dar fim de uma vez por todas ao bicho papão.
Mas, nem sempre foi assim. O Halloween de John Carpenter e Debra Hill, lançado em 25 de outubro de 1978, trazia uma Laurie completamente diferente da mulher de semblante fechado que vemos nos filmes atuais. A jovem Laurie de mais de 40 anos atrás também enfrentou Michael Myers, mas foi graças a sua ingenuidade e bons costumes que ela pode sobreviver.
Antes de qualquer coisa, é preciso saber que Halloween de 1978 é fruto de sua época e como tal, se tornou um clássico por trazer novos conceitos para os filmes de terror. Porém, o cinema nunca foi neutro e Halloween carrega um forte discurso contra a liberdade sexual das mulheres.
Basta observarmos a figura de Laurie: uma jovem estudiosa, virgem e religiosa. Nunca usa roupas que mostrem seu corpo, tem receio de falar com os rapazes e é a típica babá que se importa com as crianças. Totalmente ao contrário de suas amigas, essas têm relações sexuais com seus namorados, vestem roupas “provocativas” e usam drogas.
Nesse cenário de adolescentes, a figura de Michael Myers aparece como a punição pela liberdade sexual das amigas de Laurie. Visto que, todas morrem, inclusive seus namorados também. Michael é visto como a encarnação do mal, mas pode ser associado à repressão da sociedade perante os adolescentes, já que, como os pais estão ausentes, cabe ao assassino reprimir qualquer desejo sexual.
Logo, apenas Laurie sobrevive por ser uma representação do feminino puritano que preza pela “integridade feminina”. Esse viés da representação feminina está presente na maioria dos filmes de horror, ainda mais nos slashers, que carregam um conceito de vigiar e punir os jovens. Ainda que não pareça, a criação de Halloween sobre essas representações femininas está ligada a uma América que no final dos anos 70 queria que sua sociedade voltasse aos bons costumes, depois de uma década regada de luta e movimentos sociais.
Por isso, o cinema como aliado de uma política patriarcal construiu e perpetuou representações femininas estereotipadas. Se não eram “santas”, eram “putas” e por isso mereciam morrer. Mas, após décadas, o retorno de Halloween implica que o cinema evoluiu e de certa forma, aprende com seus erros.
Quem é a Laurie do Halloween de 2018?
A primeira franquia de Halloween teve cerca de dez filmes até o reboot do universo em 2018, por conta dos massivos e desnecessários filmes muitos se perguntaram se era realmente necessário mais um longa sobre Laurie Strode e Michael Myers. A resposta não é simples, mas é fato que Halloween 2018 mudou a visão do espectador sobre a figura de Laurie.
A imagem de jovem ingênua dá lugar a uma mulher que fez do seu trauma sua fortaleza. Laurie se tornou uma pessoa desconfiada e distante de sua família, passando os anos se preparando para a volta de Michael Myers. Dessa forma, os novos longas deixam para trás a perspectiva de punir os jovens por sua liberdade sexual e adere uma visão mais dramática e íntima.
Por isso, a nova trilogia de Halloween tem a chance de fazer o que qualquer franquia de slasher gostaria: retratar os estereótipos de gênero e apresentar uma visão mais realista das mulheres nos filmes de terror. Logo, com o segundo filme nas portas do cinema, Halloween deve mais uma vez trazer novos reflexos para o meio cinematográfico e quem, se redimir por suas trágicas representações femininas.
Referência: O Corpo Feminino No Cinema De Horror: Representações De Gênero E Sexualidades Nos Filmes Carrie, Halloween E Sexta-Feira 13 (Gabriela Larocca)
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