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CRÍTICA – Mythgard (2019, Rhino Games)

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Quando alguém fala que um estúdio indie lançou um jogo de cartas free-to-play, nós pegamos nosso Heartstone e nosso Magic e saímos andando, correto? Pois o mundo vai se arrepender muitíssimo se fizer isso com Mythgard.

Em São Francisco, cidade mais “tunts-tunts” dos EUA e referência em desenvolvimento de jogos – inclusive com temáticas mais undergrounds – uma equipe de profissionais chefiada por Peter Hu e Paxton Mason deu início ao estúdio Rhino Games, e seu primeiro lançamento é o card game Mythgard, projeto que promete atrair uma legião de fãs.

Mythgard trata de um mundo abandonado por divindades, deixando humanos, anjos, vampiros e diversas criaturas mitológicas ao relento. Os mais aproveitadores instalaram sistemas próprios de controle, deixando facções em uma eterna guerra e a população em miséria.

Assista abaixo o trailer de lançamento:

HISTÓRIA

A história começa com Percy, uma jovem de muita personalidade que aceita passar por todo esse caos para encontrar sua mãe e resolver questões problemáticas em seu passado. Com o passar do tempo, sua importância vai aumentando para o desenrolar desse mundo destruído, e os personagens que entram na história geram mais e mais conflitos que te prendem ao jogo.

Até aqui quase esquecemos que se trata de um card game, não é? Mythgard tem essa qualidade. A história é envolvente, e em diversos momentos nós paramos de pensar em “cartas azuis, cartas vermelhas, cartas verdes” e pensamos nas facções, nos colocamos no lugar do personagem.



A construção do universo é muito bem trabalhada e nos aproxima dos personagens. A Rhino Games diz que utilizou referências de American Gods, Fables, Grimm, Harry Potter, True Blood, entre outros, e as referências clássicas de card games são renovadas nesse mundo mítico e até futurista. Por exemplo, as clássicas valquírias – que são recorrentes em card games – são retratadas por motoqueiras rebeldes, e vampiros são ladrões nojentos que ficam a espreita em becos escuros.

VISUAL

Em relação as imagens, só tenho a dizer que me deu um frio na barriga quando abri o jogo e apareceu a cutscene inicial. Artes lindas, e até nostálgicas, me lembrou um pouco de Guild Wars, desenhos em tinta… Cada imagem parece ter levado 10 anos para ficar pronta, feitas a mão em telas. O estúdio diz estar orgulhoso de seu visual, e estão certos.

Não apenas em imagens promocionais, mas durante a narração da história (que inclusive tem um tempo ótimo. Não ralenta para os que só querem jogar e não deixa pobre para quem gosta de roteiro), no meio das batalhas e nas cartas também. A arte é muito coerente, segue a mesma ideia, e isso dá a Mythgard uma identidade visual única.

INTERFACE

A interface não é só bonita. A praticidade é ótima, e eles deixam um relógio no topo, o que perfeito para os gamers, pois sempre que abrimos um jogo de janela maximizada perdemos a noção do tempo. Menus claros, com opções de regras para ajudar os jogadores que não entenderam tudo nas primeiras missões de tutorial, história das facções com artes que linkam com as cores trabalhadas no jogo, aba de missões, galeria, mural de cartas detalhando o que cada uma faz, loja, seu perfil (que pode ser vinculado a uma conta própria da Rhino Games, Google ou Facebook) e muito mais. Inclusive faltou um pouco de amor próprio nisso tudo. Não vemos um logo bonitão com o nome do jogo ou nada do tipo. Pode dar uma infladinha no ego, Rhino Games, o trabalho de vocês está muito bom.

GAMEPLAY

A mecânica é bem fácil de entender. Card games tendem a ser meio complicadinhos, pois todos tem a mesma base mas cada um trabalha de um jeito e as pessoas ficam perdidas. Já estou com décadas nas costas e até hoje não entendi como funciona Yu-Gi-Oh!. Em Mythgard, a Percy te explica certinho as regras das batalhas e como tudo funciona.

Geralmente eu fico baixando alguns free-to-play no celular para explorar e passar o tempo, e em 20min já desinstalo porque é um personagem irritante te dizendo “Faz isso, isso e isso. Parabéns, ganhou, tchau”, e você não entende o que fazer em seguida. Felizmente aqui temos uma rebelde com um taco chamado Bastão da Persuasão e um lobinho bipolar que parece filhote de husky para te ensinar, aí o aprendizado fica fácil.

Além do modo história, o jogo disponibiliza modo Puzzle, PvP (normal e rancked), Arena, 2v2… E além de utilizar os decks prontos que o jogo traz, você pode pegar suas cartas e montar seu próprio deck. Você pode utilizar o dinheiro do próprio jogo para comprar novas cartas, ou também pagar em dólares para ser mais rápido. Mesmo assim, a Rhino Games afirma que o jogo pode ser aproveitado completamente gratuito. Cartas sempre virão como recompensa de missões ou compradas com moedas do próprio jogo. Não tirar dinheiro do bolso não irá atrapalhar sua experiência.

HABILIDADE

Apenas sua sorte ou sua estratégia irá te salvar; precisa ter os dois. Eu ganhei contra um vampiro todo malvadão nojento de primeira, sem nem pensar direito, e perdi 3 vezes seguidas pra um cachorro. Por mais que haja um escalamento de habilidade por parte do adversário quanto mais missões você avança, o jogo é bem justo em não favorecer nem a você e nem ao bot adversário. A inteligência artificial pode ir melhorando, mas a sorte é a mesma que a sua.

FACÇÕES

Cada uma das seis facções tem algumas características mais marcantes, e o modo história te permite conhecer um pouco de todas para você sentir com qual classe de cartas mais se identifica e montar seu deck. Veja um pouco sobre elas:

OBEROS (vermelho)

Uma facção base para o jogador, pois é a da Percy. Traz a mitologia grega, porém misturando a linha de sangue com demônios para sua sobrevivência, e daí vieram os primeiros vampiros. Os ataques principais giram em torno de roubo de vida, incêndios e força bruta, como a do Minotauro;

NORDEN (azul)

Com uma pegada mais nórdica, essa facção valoriza a liberdade e a natureza. As cartas sempre se apoiam, tanto com rituais de água e ar quanto com força de ataque. Lobos ganham vida e força adicionais se estiverem com uma matilha em campo, por exemplo;

AZTLAN (amarelo)

Controlada pela Corporação Magpyre, essa facção é especialista em armas e tecnologia. Muitas de suas cartas são aprimoramentos para seus minions, e derrubar a defesa desses adversários é realmente um desafio com a quantidade de armaduras colocadas;

DRENI (verde)

Uma facção militar inspirada no leste europeu, como a Rússia. Acreditam que sua magia é superior e qualquer um que usar magia e não seja um Dreni, deve morrer. As mulheres entram para a corporação Ved’ma para aumentar seu nível de bruxaria, e os homens participam do Volkov para servirem de soldados de elite;

PARSA (laranja)

Provavelmente a mais antiga facção, traz muitas referências a anjos, paladinos, antigo Egito e misturam isso com tecnologia. A facção Parsa é governada por uma deusa-imperatriz praticamente imortal que transfere sua alma para golens espalhados pelo mundo, tornando-a quase onipresente;

HARMONY (roxo)

Uma mistura de virtual, espiritual e físico. Esta facção traz características que nos lembram um Japão futurista. Um grande avanço tecnológico, cheio de cultura, e essa evolução é retratada nas cartas, tendo em vista que as cartas roxas podem ser combinadas com cartas de qualquer outra cor.

IDIOMA

Para os brasileiros, infelizmente o jogo não estará disponível em português. Card games são complicados de serem feitos em diversos idiomas, são muitas escritas que são colocadas direto na arte, e para um estúdio independente de 10 integrantes é uma missão insana. Mas sem problemas, o inglês trabalhado é bem básico, não precisa ser fluente para conseguir aproveitar o jogo.

ÁUDIO

Falando em idiomas, meus parabéns para os dubladores desse jogo. Sabemos que o Brasil é conhecido mundialmente por ter um trabalho impecável com dublagem de filmes, animações e tudo mais, e sabemos que as vozes de jogos as vezes são bem difíceis de aguentar, mas a maneira como cada um dá vida aos personagens é genial.

Mesmo vendo uma imagem parada e a narração de fundo, você consegue até ver o personagem se mexendo. Todas as vozes casaram perfeitamente. E não só a dublagem, todo o trabalho de áudio do jogo está muito bom. Sabe aquela musiquinha irritante que faz a gente mutar o jogo e abrir o Spotify porque não aguentamos mais? Pois é, Mythgard soube nos prender até no som. Músicas coerentes para menu e para batalhas, muito bem produzidas e viciantes. Escrevi tudo isso aqui ouvindo a musiquinha do menu, inclusive.



Para finalizar, digo que é um trabalho que me deixou de boca aberta. Difícil acreditar que um estúdio independente – mesmo com artistas ótimos trabalhando nele – conseguiu fazer um jogo desse nível. Personagens muito humanizados, com muita história, força feminina durante o jogo todo sem sexualização gratuita, respeito aos concorrentes (Heartstone e Magic, que eles citam nos diálogos interativos iniciais), imersão alcançada com sucesso e uma variedade de criaturas para todos os gostos de público, como um bom card game deve oferecer.

Nota máxima mais do que merecida para esse estúdio que logo em seu primeiro projeto já promete chamar os holofotes.

Mythgard foi lançado hoje e já está disponível pela Steam, Google Play e App Store. Mais informações, acesse o site do estúdio: http://rhinogamesinc.com. E você já está curtindo o game? Deixe seus comentários e sua avaliação!

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