Em uma era de games multiplayer megalomaníacos, games single player que possuem uma história contida, ou até mesmo multiplayer local, têm se tornado uma raridade. Tendo ficado em grande parte presos nos consoles dos anos 90, os games de tela dividida têm se tornado cada vez mais distantes do foco de uma enorme indústria que parece estar colapsando aos poucos. Mas se depender da Hazelight Studios, o futuro dos games será bem diferente.
Desenvolvido pelo estúdio sueco responsável por Brothers: A Tale of Two Sons, A Way Out e o premiadíssimo It Takes Two, Split Fiction nos lança pela história de Mio Hudson e Zoe Foster.
As duas jovens aspirantes a escritoras são convidadas por uma grande e poderosa corporação a fazer parte de um teste beta de uma máquina que é dito que as ajudará a publicar seu primeiro livro.
Sendo assim, as duas personagens precisam se unir a fim de encontrar todos os glitches. Lançados por mundos de ficção científica e outros de fantasia, viajamos por 8 diferentes níveis entremeados por subníveis que surpreendem por suas mecânicas e como ele faz tudo que se propõe surpreendentemente bem. Ou melhor, quase tudo.
E adianto aqui, diferente do que foi feito em Brothers, Split Fiction se assemelha mais a A Way Out e It Takes Two, não apenas por exigir que duas pessoas joguem ao mesmo tempo, seja localmente ou online. O brilhante aqui, é que os três últimos games da Hazelight possuem um “Passe de Amigo.” Em que não é necessário que duas pessoas comprem o jogo. Se apenas um comprar, duas pessoas poderão jogar.
Me lancei nessa jornada pelo PC e apesar dos travamentos ocasionais, o game da Hazelight se comportou bem diante da minha configuração. Com um PC com um processador Ryzen 7 5800X, 16gb de RAM e uma RTX 3060, percebi que esses travamentos ocasionais pararam quando diminuí os FPS para 120, ao invés de ilimitado – o que tornou minha jornada muito mais satisfatória.
Aqui, trarei também a opinião do Ricardo, nosso redator do Feededigno que esteve ao “meu lado” durante essa jornada.
Split Fiction na visão de um amigo
Tive a oportunidade de dividir a experiência com o nosso redator, Bruno, através do Passe de Amigo — algo que considero uma ideia muito interessante quando se trata da necessidade de compartilhar uma jornada de jogo.
A vivência de uma tela dividida, algo que não experimento desde a geração do primeiro PlayStation, não diria que foi nostálgica, mas sim gratificante. Isso porque, nesse momento, não estamos apenas jogando simultaneamente, como ocorre na maioria dos games multijogador disponíveis. Pelo contrário, a experiência se torna verdadeiramente compartilhada, como duas pessoas jogando videogame na sala de casa — mesmo que virtualmente.
Dividir essa jornada tornou Split Fiction ainda mais divertido, principalmente pela diferença de perspectivas que duas pessoas podem ter ao se depararem com a mesma situação no jogo. Afinal, duas cabeças pensam melhor do que uma. Assim como Mio e Zoe precisam trabalhar juntas para descobrir como sair da simulação, essa parceria se reflete nos jogadores, seja resolvendo um pequeno puzzle, enfrentando um chefe ou até mesmo no divertido passatempo de tentar identificar as inúmeras referências espalhadas pela história.
Do meu ponto de vista este jogo é uma excelente experiência tanto nos aspectos técnicos quanto a narrativa que mostra uma grande profunidade, com a oportunidade de fazer isso jogando com outra pessoa potencializa de forma significativa toda a sua proposta e coloca este jogo como um dos melhores lançados neste ano.
Co-op de tela dividida, diversão garantida
Ao passo em que avançamos na história, entendemos as reais intenções da Rader Publishing por trás do convite. Sendo assim, compreender como o mundo dinâmico do game nos lança nos mais diversos desafios, a máquina na qual as duas estão presas reflete as principais ideias das histórias pensadas por Mio e Zoe.
Por mais que a história não seja um dos pontos mais altos em Split Fiction, ela também não era em It Takes Two – vencedor do prêmio Game of the Year de 2021 – também da Hazelight. Inclusive, a história não poderia ser pior no game de 2021.
Tomando mais cuidado para contar sua história desta vez, Josef Fares deixa para fazer seu game brilhar nas quase infinitas mecânicas e dinâmicas que o jogo parece fazer questão de nos lançar. Seja por nos fazer viajar por um reino de gigantes que fazem parkour, por uma fazenda fantástica controlando porquinhos, ou até mesmo por um universo futurista em motos extremamente rápidas, podemos chamar Split Fiction de um platformer.
O que diferencia este game dos demais do gênero é a disposição única das plataformas e como as acessaremos. Mergulhando em elementos de gameplay que se destacam, a cada novo mundo adquirimos habilidades exclusivas para aqueles cenários. No entanto, algumas mecânicas permanecem constantes, como a habilidade de correr pelas paredes e o uso de ganchos, que permitem saltos mais longos.
Aqui, controlar Mio ou Zoe é recompensador e em alguns momentos, é necessário um rápido tempo de reação para avançar. E sinceramente, é incrível avançar jogando com outra pessoa.
Gameplay dinâmica e diversa que são assinatura da Hazelight
Seja se transformando em um macaco gigante e uma fada, no Megaman, ou até mesmo uma bola e as paletas de uma máquina de pinball. O que surpreende aqui, é que assim como em It Takes Two, a morte dos nossos personagens fazem parte da nossa progressão, mas não como em roguelikes. A morte aqui, faz parte da progressão de modo a entender como os puzzles funcionam.
Enfrentando bosses, e encarnando na pele de diferentes personagens que precisam completar distintas missões, Split Fiction diverte e em um primeiro momento nos deixa de boca aberta quando nos deparamos com algumas sequências ou puzzles.
Mesmo que o roteiro ocasione frequentemente um conflito entre as duas personagens centrais, ele encontra uma forma de encaminhá-las ao longo da gameplay.
Forçando os jogadores a sempre trabalhar juntos a fim de prosseguir, é impossível avançar com apenas um dos lados da tela – por mais que você tente, é impossível deixar um dos jogadores para trás, principalmente quanto mais você progride.
Josef Fares e o que a Hazelight quer
Mesmo com todos os review bombs sofridos pelo game e pós ter sido chamado de “woke” por uma parcela muito infeliz dos chamados “gamers,” na primeira semana do lançamento o game atingiu a marca de 2 milhões de cópias vendidas e é o primeiro game publicado pela EA a atingir o marco de +90 no metacritic nos últimos 10 anos.
O impacto de Split Fiction no mercado de games aliado ao ganhador vencedor do Jogo do Ano do The Game Awards em 2024, Astro Bot, pode abrir um precedente extremamente válido na indústria. Em uma época em que games tem levado até 8 anos para ser produzidos, talvez seja a hora de tirar o foco de vez de games megalomaníacos e vire os holofotes para games mais contidos e fechados sobre si.
Em um mundo em que a busca por lucro tem sido uma máxima, a criatividade tem sido deixada de lado a cada vez mais. Produzindo em grande parte diversos games sem qualquer sentimento ou o coração no lugar que deveria estar.
Split Fiction é um grande candidato ao Jogo do Ano em 2025 por tudo que ele entrega. Com mecânicas marcantes, easter eggs por quase todos os níveis e subníveis, ouso dizer que o game é uma declaração de amor ao que os jogos um dia já foram e o que eles deveriam voltar a ser.
Funcionando como um grande dedo do meio para a indústria e talvez para a própria EA, Split Fiction é um game que tem coragem de ser um game. A Hazelight sabe seu lugar e sua importância no mundo e não tenta ser mais do que isso.
Sem tentar inventar o videogame 2.0, ouso dizer que alguns níveis de Split Fiction são tão cativantes, que me fariam jogá-los com determinadas mecânicas do início ao fim.
5,0 / 5,0
Confira o trailer do game:
Split Fiction foi lançado para o PC, PlayStation 5 e Xbox Series X/S no dia 6 de março.
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