Início QUADRINHOS Crítica CRÍTICA – Deadly Class – Vol. 1 e 2 (2018, 2019, Devir)

CRÍTICA – Deadly Class – Vol. 1 e 2 (2018, 2019, Devir)

0
CRÍTICA - Deadly Class - Vol. 1 e 2 (2018, 2019, Devir)

Quando suas habilidades de sobreviver na rua te levam para lugares que você nunca imaginou chegar, uma escola te garantirá a maestria necessária para transpassar tudo que você compreende por “sobreviver”. O quadrinho brutal escrito por Rick Remender e por Wes Craig, é ambientado nos anos 80 e abertamente inspirado pelo movimento punk, – que segundo Remender e Craig, Deadly Class não existiria.

Deadly Class conta a vida do órfão Marcus Lopez Arguello, enquanto tenta sobreviver nas ruas, até que é recrutado pela Escola de Artes Mortais dos Reis Soberanos. A escola de assassinos tem como seus estudantes os filhos das principais famílias criminosas, que buscam garantir sua próxima geração de “senhores do crime”. A escola é frequentada desde filhos de chefes de cartéis da América do Sul, até filhos dos grandes “warlords” do Oriente Médio. A arte de Wes Craig é responsável por mostrar o quão diversa e multiplamente étnico é a singular escola comandada pelo Mestre Lin.

Deadly Class foi originalmente publicado em 2014, e o primeiro volume intitulado Filhos de Reagan foi lançado em 2018 e o segundo, Crianças do Buraco Negro, foi lançado em 2019 pela Devir no Brasil.

Com um roteiro primoroso, somos apresentados a um grupo principal de jovens assassinos, que precisa se reunir a fim de garantir sua sobrevivência durante as aulas do currículo impiedoso da escola, assim como às “provas práticas” aplicadas pelos professores.

A história ganhou uma adaptação para as telinhas no canal SyFy – exibido no Brasil pelo Globoplay – e lançada em 2018. A série foi adorada e muito bem recepcionada pelos fãs, contando com 64% dos críticos especializados e 92% dado pelo público, no Rotten Tomatoes.

Ambientação

Por conta da Lei de Reconciliação do Orçamento de 1981 – que revogava a Lei de Sistemas de Cuidados Mentais do presidente Jimmy Carter – indiretamente, os pais de Marcus foram mortos aos pés da Ponte Golden Gate. As habilidades que Marcus desenvolveu nos anos subsequentes ao viver entre abrigos, orfanatos e a rua, deram a ele um certo destaque entre os que tinham as ruas como seu lar, fazendo-o ser seguido de perto por aqueles que desejavam utilizar suas habilidades para fins maiores que eles mesmos.

Personagens

Por contar com personagens com as mais diferentes histórias de fundo, como o supracitado Marcus, Maria Salazar – a protegida de um dos mais perigosos cartéis mexicanos -, Saya Kuroki – filha de um dos chefes da Yakuza -, Willie Lewis – filho de um dos gangsteres mais respeitados da história – e Billy Bennett – um personagem sem muito plano de fundo, mas que seu arco de crescimento envolve diretamente as razões dele ter sido deixado na escola -; um grupo improvável, mas que de repente se vêem envolvidos em uma situação que foge de seu controle, e rapida escala.

Roteiro e Arte

O roteiro de Remender, como citado na crítica de Black Science, nos prende do início ao fim, e com um tom melancólico e um tanto depressivo, nos ambienta aos anos 80 de forma profunda ao usar um evento ocorrido como ponto crítico e de ancoragem para o desenrolar de toda a história. Marcus é um personagem confuso, assim como os outros membros da Escola de Artes Mortais dos Reis Soberanos, afinal, como um adolescente é capaz de ser simplesmente um adolescente se precisa assistir aulas como Psicologia do Assassino, Decapitação, Envenenamento e até mesmo Aula de Artes Ocultas?

A arte de Craig nos dá uma noção de ambientação única, ao tratar com dinamismo o passado dos personagens secundários e também ao nos apresentar o presente, de forma limpa e super estilizada. Wes Craig e o colorista Lee Loughridge parecem se divertir ao se utilizar de efeitos a fim de garantir uma experiência única para o leitor, trazendo para as páginas de Deadly Class desde cores febris, até outras mais frias a fim de influenciar o leitor acerca de algum sentimento, seja ao cair em poços alucinógenos, ou até mesmo ao trazer o realismo da vida. O dinamismo nos traços de Craig se faz por meio de close-ups localizados nas páginas por intermédio de uma diagramação inventiva e dinâmica.

Veredito

Deadly Class se prova um pouco depressivo, mas divertido ao extrapolar uma situação real nos anos 80, que foi a “epidemia de moradores de rua” da Califórnia. Colocando os motivos de vingança do personagem central no evento que foi o estopim para sua mudança repentina de vida, Rick Remender nos apresenta a grande razão de nosso personagem mudar completamente de vida, saindo das ruas, a fim assassinar o grande causador de toda a crise que a Lei de Reconciliação do Orçamento de 1981 – que trouxe para a rua os mais diversos pacientes de instalações psiquiátricas – ou seja, o Presidente dos Estados Unidos.

Apesar de megalomaníaca, a história faz questão de nos trazer por vezes ao chão com questionamentos que tangem a realidade de um adolescente que nada mais tem, e busca em seus “estudos” ou sua vingança uma forma de direcionar toda a raiva criada por um momento histórico que se tornou um grande problema de saúde pública.

E aí, já teve a chance de ler Deadly Class? Conta pra gente o que achou nos comentários e dê sua nota abaixo! O primeiro e o segundo volume de Deadly Class estão disponíveis na Amazon e no site da Devir!



E ai, você curte o nosso trabalho? Se sim, sabe que ser um site independente no Brasil não é fácil. Nossa equipe que trabalha – de forma colaborativa e com muito amor – para trazer conteúdos para você todos os dias, será imensamente grata pela sua colaboração. Conheça mais da nossa campanha no Apoia.se e nos ajude com sua contribuição.

Sair da versão mobile