A década de 1980 foi, para o cinema, um período marcado por lançamentos de grandes clássicos que inspiram e servem de referência para muitos cineastas até hoje. Os Gonnies (1985), Scarface (1983), Sociedade dos Poetas Mortos (1989), Indiana Jones E Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e de De Volta Para O Futuro (1985) são apenas alguns dos exemplos. Porém, no TBT do Feededigno desta semana, dedico-me a recomendar um filme que não apenas marcou época como também consagrou Steven Spielberg (Tubarão e Contatos Imediatos do Terceiro Grau) na indústria cinematográfica e apresentou para o mundo uma mágica história sobre amizade, solidariedade e companheirismo – estou falando de E.T. – O Extraterrestre.
Com roteiro de Melissa Mathison (O Corcel Negro), o longa acompanha um alienígena que foi esquecido na terra e acaba se alojando na casa do pequeno Elliot (Henry Thomas), um garoto solitário desde a separação dos pais. Os dois se tornam amigos e Elliot faz de tudo para proteger o ET do governo e para ajudar ele na jornada de volta para o seu lar no espaço.
O filme tem atuações incríveis, claro que o destaque é todo do elenco mirim, principalmente Henry Thomas (A Maldição da Residência Hill) e Drew Barrymore (Santa Clarita Diet), que conseguem passar muita emoção, entregando um excelente trabalho mesmo sendo tão novos na época da produção.
E.T. – O Extraterrestre teve a maior arrecadação da história do cinema até então e recebeu impressionantes nove indicações ao Oscar – incluindo Melhor Filme e Diretor, porém perdeu em ambas para Gandhi, de Richard Attenborough – levando quatro estatuetas técnicas (Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhores Efeitos Visuais). No entanto, quem vê todo esse sucesso, não imagina que houveram alguns problemas durante a produção – como é de costume em alguns clássicos.
ERA PARA SER UM TERROR? ENTENDA!
Inicialmente, Spielberg planejou um terror chamado Night Skies, onde um grupo de alienígenas malignos seriam os vilões e mostraria uma família sitiada por esses seres, uma ideia inspirada no western Ao Rufar dos Tambores (1939). O diretor dedicou meses para desenvolver o roteiro e as criaturas, porém ele mudou completamente de ideia e resolveu fazer um filme com uma aventura familiar, sobre um ET deixado na terra tentando voltar pra casa enquanto é caçado pelo governo.
Rick Baker, designer e especialista em efeitos de maquiagem, que trabalhou em Um Lobisomem Americano em Londres (1981), estava criando os alienígenas, porém Steven Spielberg cancelou o contrato fazendo com que ele reclamasse publicamente da conduta do diretor, dizendo que perdeu quase centenas de milhares de dólares no processo de criação e que nunca recebeu crédito pelo trabalho, já que o resultado inclui algumas de suas ideias para as criaturas de Night Skies.
Carlo Rambaldi, criador dos aliens de Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), assumiu o projeto, criando o personagem icônico que conhecemos hoje. A ideia inicial de Spielberg se concretizou depois, porém virou outro filme, onde, ao invés de aliens, os fantasmas marcaram presença – o resultado foi Poltergeist, o Fenômeno (1982), dirigido por Tobe Hooper (O Massacre da Serra Elétrica).
MOMENTOS MEMORÁVEIS
E.T. – O Extraterrestre conta com vários momentos memoráveis. A trilha sonora impecável de John Williams (compositor que trabalhou em franquias como Star Wars, Harry Potter e Jurassic Park) aliada à brilhante direção de fotografia de Allen Daviau (Império do Sol) ajudaram esses momentos icônicos a continuarem na memória das pessoas não importa quantos anos se passem.
Quem não tem registrado na memória a cena na qual o ET faz a bicicleta voar pela primeira vez mostrando a lua no fundo, dando origem a uma das cenas clássicas do cinema e à imagem que depois se tornou o símbolo da Amblin Entertainment, produtora do Spielberg? Ou da fuga dos garotos no terceiro ato onde as bicicletas voam novamente ao por do sol criando frames deslumbrantes?
Steven Spielberg ainda faz uma homenagem ao Hitchcock em uma cena onde ele utiliza a Dolly Zoom, famosa técnica do cineasta britânico introduzida no cinema no clássico Vertigo, de 1958. Além disso, outra curiosidade bastante interessante é que o diretor deixa, em boa parte do filme, a câmera posicionada na altura das crianças para mostrar o ponto de vista delas, havendo assim mais conexão com o espectador e entre Elliott e ET.
LIÇÕES
Os anos 80, como citei no começo deste texto, foi uma época que marcou o cinema. Histórias de aventura e amizade eram cada vez mais contadas e ganhavam o coração do público, como é o caso de Conta Comigo (1986), Os Gonnies (1985) e E.T. – O Extraterrestre, obras que influenciaram a relação dos personagens de Stranger Things, por exemplo.
O longa de Steven Spielberg é muito lembrado também por conta das belas lições sobre solidariedade, amizade, ajudar o próximo, entre outras. A dedicação do Elliot para ajudar o alienígena voltar para o espaço, mesmo sabendo que isso partirá seu coração, é um belo exemplo de companheirismo e amizade. Outra lição presente na trama é sobre a importância de aprender dizer “adeus”, algo que não é fácil, todavia necessário em algumas circunstâncias.
A NOVA VERSÃO
Em 2002, foi lançada uma nova versão de E.T. – O Extraterrestre para comemorar o vigésimo aniversário do longa. O diretor relançou a ficção científica nos cinemas, porém alterando algumas partes e editando o filme num corte politicamente correto.
Essa versão tem cenas adicionais, som remasterizado e efeitos especiais melhorados. As mudanças mais significativas são: a inclusão de uma cena na qual o ET brinca na banheira; e a substituição das armas dos federais por walkie-talkies na cena das bicicletas – como você pode ver abaixo:
Entretanto, o resultado final não agradou nem o público (que não gostou das mudanças) nem os executivos (que esperavam uma arrecadação maior). Spielberg acabou reconhecendo que não foi uma boa ideia ter mexido no filme, jurou jamais repetir esse erro em futuros relançamentos e disse “foi como se tivesse roubado das pessoas que amam ET as suas memórias do filme“.
COMO E.T. MUDOU A VIDA PESSOAL DE SPIELBERG
Durante o painel de As Aventuras de Tintim (2012) na San Diego Comic-Con 2011, Spielberg contou que E.T. – O Extraterrestre – além de ser importante para a carreira do cineasta e para a história do cinema – mudou a vida pessoal dele. Confira o que ele disse:
“Meu filme favorito para fazer é ET – O Extraterrestre. Mas por razões muito pessoais. Quando estamos fazendo um filme nós formamos uma família, que é deixada para trás quando o filme acaba. Mas quando ET acabou eu percebi que gostava tanto de crianças que decidi ter meus próprios filhos. Hoje tenho sete – graças a ET!”
E.T. – O Extraterrestre é um dos maiores clássicos da sétima arte. É lindo e tocante, marcou toda uma geração e continua emocionando tanto crianças quanto adultos que se propõem a conhecer ou revisitar essa obra atemporal.
Veja o trailer da versão de 2002 (áudio original) – via Movieclips Classic Trailers:
Confira também o episódio sete do nosso podcast, Martelada, onde falamos sobre o Steven Spielberg:
E aí, o que achou da recomendação desta semana? Já assistiu a esse clássico? Conta para a gente aqui nos comentários.