O TBT dessa semana é dedicado a um dos melhores e mais essenciais documentários sobre a onda ditatorial que tomou conta da América Latina durante os anos 70. A Batalha do Chile do cineasta Patricio Guzmán é dividida em três partes – A Inssurreição da Burguesia, O Golpe de Estado e O Poder Popular. Porém, cabe neste texto analisar apenas o primeiro filme.
SINOPSE
À margem do caos civil e conchavos governamentais que precederam o golpe militar responsável pela derrubada do governo democrático de Salvador Allende, as camadas populares que apoiam o político socialista se organizam e põem em marcha uma série de exemplos de poder popular. São ações coletivas e espontâneas, como a criação de sindicatos, cooperativas e cordões industriais, que representam uma sociedade utópica. A força coletiva ecoa o lema “criar, criar, poder popular” com a intenção de neutralizar o caos e superar a crise.
ANÁLISE
Antes de tudo, A Batalha do Chile trata-se do Golpe Militar de 1973 ocorrido no Chile que derrubou o governo democratico do presidente Salvador Allende. A tomada por militares da marinha e do exército chileno, apoiados e financiados pelo governo dos Estados Unidos e pela CIA, culminou no fim da mais longa democracia da América Latina na história, feito que os chilenos tanto se orgulhavam.
Dessa forma, o primeiro filme de Patricio Guzmán começa com um país que crescia durante a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Em meio às eleições para presidente no Chile, trabalhadores tomavam as ruas evocando gritos de apoio ao então candidato Salvador Allende, enquanto a oposição chilena, considerada a burguesia, acreditava que já haviam ganhado a votação para o então candidato de direita, Jorge Alessandri.
No entanto, Allende se torna o presidente no Chile por uma votação acirrada que foi considerada pela classe alta do país como fraudulenta. A Batalha do Chile: A Inssurreição da Burguesia mostra como, aos poucos, o golpe contra o governo de Allende foi se arquitetando e os empenhos do povo chileno para frear as ações da oposição.
Guzmán cria uma obra bastante didática, emocionante e precisa quanto aos fatos que levaram ao regime militar. Os arquivos utilizados no documentário são na maioria das vezes de filmagens realizadas por canais televisivos que documentavam a movimentação da população tanto de esquerda, como de direita. Dessa forma, o filme foca na imagem do trabalhador e em como a classe proletária precisou lidar com os conflitos políticos no país.
Mas, A Inssurreição da Burguesia não se limita aos acontecimentos, como forma de debater a política, o filme levanta discussões profundas sobre ideologias e nações. Sobre o olhar de Guzmán, entende-se a influência norte-americana na América Latina e como isso culminou para o golpe de estado no Chile e em vários outros países vizinhos.
É uma obra completa em questões fílmicas e narrativas. Em uma cena um repórter na rua pergunta ao povo quem eles acham que irá vencer as eleições, em outra, o repórter está em uma fábrica falando com trabalhadores que estão em greve. Esses momentos em que o documentário evidencia tanto a esperança, como as preocupações do povo chileno vão de encontro às filmagens governamentais em lugares como o Parlamento e o Palácio de La Moneda. São imagens que engrandecem o filme e permeiam não só a primeira parte, como as outras duas partes de A Batalha do Chile.
Ainda assim, um dos momentos mais marcantes e significativos do documentário é a morte do jornalista e cinegrafista argentino Leonardo Henrichsen, alvejado por um tiro de pistola de um dos militares que estava no comboio que tentou o primeiro ataque do golpe militar. Henrichsen filmou sua própria morte, enquanto cobria os conflitos no Chile, a cena em questão fecha tristemente e revoltosamente o primeiro filme da trilogia de Patricio Guzmán.
VEREDITO
A Batalha do Chile: A Inssurreição da Burguesia é um retrato fiel dos acontecimentos que sucederam ao Golpe Militar no Chile em 74. O documentário evidencia toda a manipulação e desonestidade da direita e burguesia chilena para manter o país sob seu controle, enquanto expõe a participação dos Estados Unidos no regime ditatorial que durou 17 anos. Porém, o mais louvável é o esforço e luta dos trabalhadores chilenos para salvar o país das mãos dos fascistas.
É um filme emocionalmente, revoltante e reflexivo, visto que, mesmo após anos dos golpes militares na América Latina, nossa democracia permanece frágil e em constante ameaça.
5,0 / 5,0
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