Em um Brasil futurista distópico, somos apresentados a uma realidade ligeiramente parecida com a nossa. Medida Provisória nos introduz em uma cultura em que os negros passaram a ser chamados de “melaninados”, ou “pessoas com melanina acentuada” e vemos a vida de Antônio (Alfred Enoch), Capitú (Taís Araújo) e André (Seu Jorge) mudarem da noite para o dia.
Na primeira direção da carreira de Lázaro Ramos, vemos a adaptação da peça tragicomédia “Namíbia, Não!”.
SINOPSE
Em um futuro próximo distópico no Brasil, um governo autoritário ordena que todos os cidadãos afrodescendentes se mudem para a África – criando caos, protestos e um movimento de resistência clandestino que inspira a nação.
ANÁLISE
Confesso que Medida Provisória é um filme que esse que vos escreve esperava lançar há bastante tempo, esse atraso não se dá apenas pelo tempo de produção do filme, mas pela falta de incentivo da cultura brasileira, que desde 2016, passou a ser quase inexistente. Mas desde o anúncio em 2019, até o lançamento do filme, em 14 de Abril de 2022, a violência cresceu de forma acentuada, e as vítimas foram cada vez mais pessoas de pele negra.
Após assistir toda a entrevista de Alfred Enoch e de Lázaro Ramos no Podpah – que é incrível -, o hype para o filme só aumentou. E eu preciso te confessar: Para assistir Medida Provisória, você precisa de estômago.
“Em uma cultura de morte, a sobrevivência é desobediência civil”
Medida Provisória é tão doloroso e forte, como a realidade. Em um futuro distópico, esse mundo se assemelha ainda mais com o nosso, e daí parece vir o incômodo. Comentários soltos na trama, que contribuem para um todo, nos colocam desconfortáveis o tempo todo, isso se você tiver o mínimo de consciência.
As atuações de Enoch, Taís e Jorge nos lançam ao longo de toda a trama por um carrossel de emoções, nos fazendo testemunhar racismos reais e o que é conhecido como “racismo recreativo”, e dá ao filme um tom de “história de cautela” – ou seja, uma história que serve como um aviso para o que está por vir se as coisas não tomarem um rumo diferente.
Medida Provisória chega em tempos em que direitos são tirados, e pessoas morrem sem qualquer auxílio do governo, e a parte mais dolorida, é como o filme se assemelha do mundo real. Após atrasos ligados à censura imposta pela Ancine, confesso que isso pode ter comprometido o corte final do filme – que ainda se mostra como uma obra majestosa e necessária em tempos tão doloridos.
Com a dessensibilização e o sensacionalismo imposto por jornais do tipo “espreme que sai sangue”, o corpo negro passou a ser visto acima de tudo, como um alvo. Não apenas da polícia, mas também como algo a ser combatido o tempo todo. O filme de Lázaro, Enoch, Thaís, Jorge e todos os outros atores, nos lança em uma campanha de entender a pessoa negra como semelhante e pertencente desta terra na qual vivemos.
VEREDITO
Com referências à história não apenas do Brasil, mas mundial, o filme se destaca nas participações comoventes e nas atuações do trio principal, mas não apenas nisso. O roteiro e a liberdade criativa que os atores parecem ter, vêm como um respiro em meio às cenas que são retratos cotidianos.
Com um pequeno problema em acertar seu tempo, e falhando ligeiramente em nos conduzir pelo fio narrativo da trama, Lázaro brilha ao nos encaminhar por uma história de amor, de vida, de resistência e de luta.
Medida Provisória é um soco no estômago, que te deixará sem ar sem pestanejar. Mas ainda que pungente, o filme te recompensará com esperanças de que um Brasil melhor há de chegar. E que ainda que existam pessoas lutando pelo certo há mais de 500 anos, e que pareça distante, esta luta um dia terá fim.
5,0 / 5,0
Confira o trailer do filme:
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