A Mulher Rei: Viola Davis revela em entrevista “Enfrentamos muitos desafios no meio do caminho”

    No dia 19 de setembro, fomos convidados pela Sony Pictures a estar presentes na coletiva de imprensa de A Mulher Rei, filme estrelado por Viola Davis e produzido por Julius Tennon – marido de Viola. Os dois vieram pela primeira vez ao Brasil para divulgar o filme.

    A Mulher Rei é um marco para o cinema mundial, e a presença de Viola na sala onde aconteceu a coletiva de imprensa foi imponente. A atriz pareceu encher a sala com sua presença única, sua inteligência e carisma.

    Caso você ainda não tenha assistido, clicando aqui, você pode ler o que achamos do filme. Mas sem delongas, traremos a transcrição das perguntas feitas à Viola por veículos de imprensa.

    Entrevistadora: Quais as suas primeiras impressões sobre o Rio de Janeiro?

    Viola: “Eu me senti abraçada, pela comida, pela cultura, pela bondade. E sempre parece haver uma celebração aqui no Brasil, se é que eu posso dizer isso. Mas o amor de vocês pelo seu país, tem sido de tirar o fôlego.”

    A Mulher Rei

    E: O que você mais tem gostado do Brasil?

    V: “Eu acho que é uma mistura, da comida, com a paisagem… O Cristo Redentor, quando estávamos indo até ele dirigindo e vimos as montanhas, as árvores, o mar, e quando chegamos até lá, ficamos sem reação, eu e o Julius.”

    E: O fato de você ter vindo ao Brasil para a estreia do filme mostra a importância do país, isso se deu por causa da importância cultural e histórica?

    V: “Por causa do tráfico negreiro transatlântico, sabemos de cerca de 12 milhões de pessoas escravizadas vieram em sua maior parte da África Ocidental. E a primeira parada, foi o Brasil. Por causa das plantações, foram enviados para várias partes da Índias Ocidentais e também para a América. Muitos acreditam que nós da cultura preta, estamos separados, que os afro-americanos, os afro-caribenhos, e do Brasil, de alguma forma não nos sentimos conectados como um todo.

    E minha mente esteve aberta em relação a isso desde os meus 20 anos, quando fui até a Gâmbia. Mas nós estabelecemos isso com o filme, a conexão que temos como pessoas de cor, e a contribuição do Brasil para isso é enorme.”

    E: Por quanto tempo você tem trabalhado para produzir o filme? Quais foram os desafios que você enfrentou para fazer esse filme?

    V: “Enfrentamos muitos desafios no meio do caminho, mas é claro que tentamos contornar esses desafios. Quando me perguntam ‘como é fazer um filme de pessoas de cor em Hollywood?’, eu os digo a verdade. É uma coisa difícil, é uma história que precisamos contar, é uma coisa que precisamos fazer. É assim que queremos fazer. E mesmo com todos esses desafios, ultrapassá-los e ter um filme como o nosso como resultado, e eu acho que pessoas de cor, por toda a diáspora vão se sentir tocadas. E mudadas para sempre, nós sentimos que esse filme pode proporcionar a diferença que queremos ver.

    A Mulher Rei

    E: Você disse em uma entrevista, que uma das razões de você fazer A Mulher Rei, foi o fato de não se ver em filmes históricos. Qual a importância desse filme para mulheres negras ao redor do mundo que agora podem se ver nas telas?

    V: “Elas têm uma chance de serem vistas, de uma maneira que nós não temos sido vistas antes. E quando eu digo ‘vista’, eu digo ter espaço como os grandes diretores, grandes atores e atrizes, e não temos presença neles. Eu não estou falando apenas sobre ser vista no cinema, mas sobre ser vista na vida. Na maioria das vezes, o nosso poder e a nossa beleza não são vistas. Nossa complexidade é ignorada, existe um ‘senso comum’ de que somos tão fortes, que não somos nem vulneráveis.

    Existe também um senso de que somos invisíveis até mesmo em relação às nossas contrapartes brancas, nossas contrapartes femininas brancas e eu acho que mais uma vez, no que isso culmina, é o fato de termos tantos problemas que afetam as mulheres pretas. Por não sermos vistas como valiosas. As Agoge, se veem como valiosas, e esperamos que dessa forma, façamos as mulheres pretas verem como são valiosas, pois no final, tudo se resume a isso. E é muito importante para que nós, mulheres pretas, possamos ser um dos filmes com maior arrecadação mundial, que não precise ter uma presença masculina – que não precise nem mesmo ter uma presença branca, são só elas. Elas são as heroínas, elas são o foco do filme. Aquelas mulheres negras lindas, de cabelo cacheado de pele escura, vão ser assistidas por duas horas e seis minutos e você vai conhecer suas vidas. Acho que isso vai ser tudo para nós.”

    E: Viola, como foi o processo para se preparar para um filme de ação?

    V: “Primeiro de tudo, eu não considero esse filme apenas um filme de ação. Na verdade, eu rejeito esse termo quando falamos de A Mulher Rei. O filme é um drama histórico. Eu acho redundante dizer que ele é um filme de ação. Primeiro de tudo, enquanto eu me preparava para dar vida a Nanisca, e uma parte do que ela é, é uma guerreira. E eu precisei fazer isso. Eu precisei fazer esse trabalho, assim como eu precisei treinar, eu precisei fazer um curso de dialeto, eu precisei fazer um treinamento emocional.

    Nós treinávamos 5 horas por dia, de levantamento de peso, corrida, 3 horas e meia de artes marciais. Durante esse tempo, nossas roupas ficavam ensopadas de suor. E por diversas vezes, na metade do treinamento, eu precisava trocar de roupa e continuava. Eu pegava a minha espada de plástico e minha garrafa de água e seguia em frente treinando.

    Eu precisava treinar artes marciais, usei muito o meu cotovelo – Que eu amei! – e corria mais, e então precisava ter uma alimentação muito regrada. Eles queriam que eu ficasse forte, muito musculosa. Pois, Nanisca precisava ser fisicamente forte. Em algumas cenas, queriam que eu usasse uma espada de metal que normalmente só era possível empunhar com duas mãos e eles precisavam que eu a empunhasse com apenas uma mão.”

    E: Para Julius e Viola, muitas histórias como a do filme foram invisibilizadas ao longo da nossa história. Qual a importância de contar uma história como essa em um momento como esse?

    J: “É importante contar essa história, pois muitas histórias como essa não foram contadas. É uma história que tem muita força e as mulheres tem muita força. E tradicionalmente, as mulheres carregam muito peso, e essas histórias foram contadas e contar essa história é importante, pois precisamos ver essas mulheres em papéis fortes e incríveis, que elas vivem no dia-a-dia. Eu ouço muito que as mulheres precisam ser a heroína da família tradicionalmente, pois elas normalmente são as responsáveis por resolver problemas na família. E eu acho que é a hora, e nós fizemos isso, e podemos esperar e torcer para que mais histórias como essa sejam contadas e possamos ver a força dessas mulheres na tela.”

    V: “Infelizmente, o racismo fez um papel de criar um sistema de castas baseada no que você vale, de acordo com seu papel. E as mulheres negras estão no final dessa lista e quando você tem a pele retinta, você é designada a esse lugar no final da lista. E esse é o pior tipo de preconceito que existe no mundo, o colorismo. Nós sempre somos vistas como advogadas, médicas que não tem nomes nos filmes, e a pessoa que chega de última hora e faz um comentário atrevido, ou um comentário bem inteligente. Mulheres que geralmente são obrigadas a serem fortes e muitas mães, que geralmente choram em cima do corpo do filho delas, por terem sido mortos em um tiroteio. E é uma visão muito, muito, muito reduzida do que nós somos de verdade.

    Toda vez que eu vejo uma mulher negra em tela, eu sempre me pergunto ‘Quem é ela?’ e quando eu termino de fazer essa pergunta, ela já saiu de cena, e não pode mais ser vista ou encontrada em lugar nenhum. Eu estou cansada disso, na minha vida, eu sei quem são essas mulheres, e essas são muitas, são complicadas, repletas de beleza, de emoções, são uma bagunça, elas são alegres e as vezes elas não são mães, não são tias, e eu sei os nomes delas, sei quem elas são. Eu quero que as mulheres negras sejam humanizadas da mesma forma que todo mundo. E que todos possam aderir de fato o que chamam de ‘diversidade’, e acabem de vez com o racismo. E que esse seja o primeiro passo para fazer isso. É entender que todos somos parte da raça humana. E que não somos objetos de roteiro, não somos uma metáfora, e é impossível existir um artista negro, se não houver uma narrativa que mostre isso. Essa é a razão.”

    A Mulher Rei foi lançado nessa quinta e está disponível nos cinemas de todo o Brasil.

    Confira o trailer do filme:

    Acompanhe as lives do Feededigno na Twitch

    Estamos na Twitch transmitindo gameplays semanais de jogos para os principais consoles e PC. Por lá, você confere conteúdos sobre lançamentos, jogos populares e games clássicos todas as semanas.

    Curte os conteúdos e lives do Feededigno? Então considere ser um sub na nossa Twitch sem pagar nada por isso. Clique aqui e saiba como.

    Artigos relacionados

    Planeta dos Macacos: O Reinado | Tudo sobre o novo filme

    O novo filme da saga campeã de bilheteria chega aos cinemas brasileiros em 9 de maio. Saiba mais sobre Planeta dos Macacos: O Reinado!

    ‘One Love’ leva o reggae ao topo das bilheterias em um formato diferente

    Filme conta a história de Bob Marley e conquistou altos números; saiba mais sobre a produção 'Bob Marley: One Love'.

    TBT #274 | ‘Madrugada dos Mortos’ é de longe o melhor filme de Zack Snyder

    Madrugada dos Mortos é um dos melhores filmes de zumbi já feitos. E talvez seja o melhor de Zack Snyder até hoje.

    Deadpool & Wolverine: Todos os personagens da franquia X-Men confirmados no longa e mais!

    Deadpool & Wolverine trará de volta aos cinemas personagens da franquia X-Men e mais! Confira a lista completa dos personagens confirmados.