CRÍTICA: ‘Frankenstein’ conta história clássica de maneira profunda e quase onírica

    O mito fundador da ficção científica não poderia ser adaptado por ninguém menos do que Guillermo Del Toro. Frankenstein ou o Prometeu Moderno, foi escrito por Mary Shelley no século XIX, e é considerado até hoje o principal alicerce das ficções científicas. O livro foi a história que redefiniu a literatura como a conhecemos.

    Tendo sido adaptado à exaustão, Frankenstein se tornou a criatura que representava o abandono, a rejeição, mas acima de tudo o medo da ciência que naquela época avançava a passos largos.

    Frankenstein de Guillermo del Toro é estrelado por Jacob Elordi, Mia Goth, Oscar Isaac, Charles Dance e grande elenco. Ambientado em capítulos, somos apresentados à história do filme em um primeiro momento pelo seu fim, e dali em diante, somos ambientados à como a história levou os personagens da trama até aquele ponto.

    Frankenstein, o Prometeu Moderno e a vaidade

    Frankenstein

    O trabalho de Oscar Isaac é brilhante, mas o de Jacob Elordi se faz ainda melhor. No papel da criatura de Frankenstein, Elordi apresenta as mais diferentes facetas humanas, enquanto Isaac, nos apresenta as mais terríveis, na pele de Victor, o criador.

    Victor Frankenstein apresenta seus personagens sem rodeios. O roteiro, design de produção, fazem deste ser um dos filmes mais bem sucedidos em adaptar a história do livro. Ao se distanciar de adaptações recentes como Pobres Criaturas (2023), Frankenstein (2015) e Victor Frankenstein (2015), esta nova versão aprofunda as personalidades de Victor e da Criatura e mostra como suas vidas mudam para sempre.

    Citado por vezes como o Prometeu Moderno, Victor deixa de lado toda sensibilidade e humildade, apenas para ascender como o indivíduo que traz a novidade. Ou o avanço tecnológico que “mudará para sempre a humanidade”.

    Frankenstein

    No sentido mais amplo, Victor rouba o fogo da criação da vida apenas para criar vida à sua forma. Com um sentindo deturpado do ser, ele busca criar apenas por criar, a fim de se igualar ao Criador, ou o anjo visto em chamas que este acreditava, que o garantiria êxito em sua empreitada.

    Ao exacerbar certas características de seus personagens até o limite, Del Toro revela em Victor a própria personificação da vaidade e, na criatura interpretada por Elordi, a pureza de alguém que busca pertencimento e, acima de tudo, uma identidade. Ao colocar-se em posição comparável à de Deus, Frankenstein não apenas nega à Criatura o direito de ser quem é, como também lhe impõe responsabilidades que antes sequer existiam.

    Ao temer o que havia criado, Frankenstein opta pela saída mais simples possível: tentar exterminar a “besta”.

    Design de produção, atuações e mais

    Frankenstein

    Se há algo que Guillermo del Toro sabe fazer com maestria, é criar mundos a partir do design de produção. Cada detalhe – das minúcias do cenário ao figurino -, coloca o longa no mesmo nível de A Colina Escarlate (2015). Sendo esta uma das adaptações mais fiéis ao espírito do gótico do material fonte.

    Aqui, porém, Del Toro confere aos personagens paletas de cores próprias, que o ajudam a reforçar as identidades e tensões próprias. O filme, assim, flerta constantemente com o título do romance que o inspirou, evocando sua essência a cada ato.

    Frankenstein

    Com brilhantes atuações, Jacob Elordi se destaca especialmente pelas minúcias que compõem seu personagem. Oscar Isaac impressiona e por vezes assusta pelas loucuras de Victor, Mia Goth encanta e se destaca mais uma vez como uma pseudo scream queen. Sendo o ponto de ternura no filme, a presença da Elizabeth (Goth) é o que faz a criatura ver que existe algo além da brutalidade com que era tratado pelo seu criador.

    Evocando sempre aspectos muito mais íntimos dos personagens, o filme evidencia que muito deles cabe em qualquer indivíduo. Da ternura de Elizabeth e da criatura, até a loucura vivaz de Victor.

    Mudanças narrativas, pontos de vista e veredito

    Frankenstein

    Ao contar uma história atemporal, Guillermo del Toro nos lança sem hesitar em uma das adaptações mais fiéis do romance – ainda que apresente algumas discrepâncias. A ausência de Robert Walton e de outros membros da família Frankenstein torna o longa curioso, sobretudo pela forma como o diretor opta por reconfigurar a estrutura narrativa.

    Ao acompanhar a trama exclusivamente pelos olhos de Victor e da Criatura, aproximamo-nos de um relato mais conciso e direto, que abandona o ponto de vista intermediário de um terceiro personagem para focar na essência do que esses protagonistas são e representam.

    Ao deixar de lado elucubrações sobre acontecimentos incertos – filtrados, no livro, pela perspectiva de Walton -, o filme nos oferece uma linha narrativa mais clara. Sabemos, sem dúvidas, o que ocorreu e como a ambição de Victor moldou sua trajetória. Esse sentimento terrível se estende por todo o filme como uma sombra que assombra não apenas o cientista, mas todos os envolvidos, da Criatura a Elizabeth e o jovem William Frankenstein.

    Frankenstein surge, assim, como uma das obras máximas de Guillermo del Toro. O longa evidencia que tudo o que o diretor construiu ao longo de sua carreira o conduziu até a magnificência deste projeto. Ao mesmo tempo em que se firma como uma das melhores adaptações do material original, o filme respeita profundamente as raízes góticas da narrativa e brilha de forma excepcional em seu design de produção.

    Nossa nota

    Confira o trailer do filme:

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