CRÍTICA – Memória (2021, Apichatpong Weerasethakul)

    Dirigido e escrito por Apichatpong Weerasethakul, o filme Memória foi lançado em outubro de 2021, e é o primeiro filme do cineasta tailandês a se passar em outro país, nesse caso, na Colômbia. Pode-se dizer que é o filme mais internacional do diretor, visto que é estrelado pela atriz inglesa Tilda Swinton, conhecida por suas colaborações com Wes Anderson e demais grandes obras garantindo um protagonismo de sucesso.

    O longa foi vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes e representante da Colômbia no Oscar de 2022.

    SINOPSE

    Em visita à irmã, na Colômbia, Jessica Holland (Tilda Swinton), passa a ouvir um misterioso som. Algo como um estrondo. A partir de então, não consegue mais dormir. Ela ouve, nós ouvimos. Jessica procura um técnico de som para que ele tente, através de descrições aproximadas (e muito subjetivas), reproduzir esse ruído que apenas ela (e nós) conseguimos ouvir.

    ANÁLISE

    Numa arte enquadrada preferencialmente em matriz realista, Apichatpong não se incomoda de olhar outras dimensões, digamos assim, menos atadas ao real. Há outros. Tarkovski fala em esculpir o tempo. Patrício Guzmán, em filmar o que não se vê. Apichatpong busca esse “além de…”. Outras dimensões. Essas que não se enxergam e não se dão de imediato. Pensa o cinema como mecanismo de prospecção da magia do mundo.

    Essa realidade onírica se interpõe às paisagens reais da Colômbia: as praças e ruas, assim como a Universidad Nacional em Bogotá e suas vilas remotas, nas quais pescadores ganham a vida. Todos locais reais, sólidos e perceptíveis, elementos de memórias verdadeiras e pessoais.

    Por sua vez, tais paisagens existem graças a um uso fantástico da fotografia, que apresenta imagens não só belas, mas que auxiliam a nos vermos imersos neste estranho sonho, ou remembramento. A música é mínima, mas contribui para a natureza mais realista da produção – a maior parte pertence à cena, e não é externa a esta.

    O talento de Tilda Swinton em envolver o espectador, bem como a estrutura da história, geram um desejo por respostas que é frustrado pela absoluta resistência do roteiro, assinado pelo cineasta, em oferecê-las. Sempre que ela parece descobrir alguma coisa sobre sua condição, a ação muda de foco. Quando, no terceiro ato, o ritmo desacelera ainda mais, ela encontra Hernán velho (Elkin Diaz) e uma conclusão parece se aproximar, um novo fato é jogado na trama e remove qualquer certeza.

    Esse desdobramento de memórias leva a personagem de Tilda como a sair de si mesma, abrir-se, projetar-se em outros tempos e espaços nesse desfecho siderante, que permanece em nossas retinas, por fatigadas que estejam.

    VEREDITO

    Gradativamente as coisas vão aprofundando seus mistérios. Cinema de sugestão e enigma, sinestésico na proposição contemplativa do outro, de si mesmo, das vagas/vastas possibilidades das linguagens que nos escapam como a percepção de um som que não se sabe, como as ressonâncias musicais ou mesmo a perfeição da profundidade do silêncio.

    Uma obra que diz muito na sua fuga de uma compreensão puramente racional levando-nos a um tom ensimesmado de nós mesmos.

    Por fim, Memória também é, porque não, uma homenagem a carreira de Tilda Swinton, esse ser que parece ter transcendido a mente e o corpo, criando personagens únicos.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer legendado:

    Memória está disponível no catálogo do serviço de streaming MUBI.

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