O ano era 2010, e Edgar Wright lançava mais uma de suas obras: Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs The World). O que era pra ser mais um filme adaptado de quadrinhos, sem grande hype, se tornou um dos supra-sumos da minha rotina e é considerado, por mim, uma das adaptações mais divertidas e interessantes de quadrinhos (e nada mais importa além da minha opinião).
Em 2010 eu trabalhava em uma locadora em Porto Alegre. Todos os dias nós precisávamos deixar um filme “rodando” na loja enquanto os clientes passeavam pelas prateleiras escolhendo qual gostariam de assistir no conforto de seu lar; E Scott Pilgrim estava presente todos os dias, desde o seu lançamento, em todas as telas da locadora.
A trilha sonora – desenvolvida em parceria com o cantor Beck, posteriormente vencedor do Grammy de álbum do ano em 2015 – dava o tom para as cenas engraçadas e cheias de efeitos especiais produzidas por Wright.
A música é uma marca registrada dos filmes do diretor, como pode ser constatado em Todo Mundo Quase Morto e Baby Drive. O uso da trilha como fio condutor dos acontecimentos, acompanhando outros sons presentes em cada cena e a montagem da trama, torna o trabalho do diretor algo primoroso e especial.
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Essa versão é um cover da banda Metric.
Scott Pilgrim Contra o Mundo é a adaptação dos quadrinhos homônimos escritos por Bryan Lee O’Malley e conta a história do menino Scott, que vive em Toronto, no Canadá (vocês também conseguem ouvir a voz do narrador quando escrevem essa frase?). Ele conhece uma menina chamada Ramona Flowers e se apaixona instantaneamente. Para ficar com Ramona ele precisa derrotar os seus 7 ex-namorados do mal.
Como um bom filme da sessão da tarde – deveria estar na grade todas as semanas ao lado de A Lagoa Azul e K-9 Um Policial Bom Pra Cachorro – Scott Pilgrim Contra o Mundo tem tudo o que um bom hit adolescente precisa para hitar: personagens coadjuvantes engraçados, nenhum adulto responsável por perto, bons efeitos especiais, piadas de humor americano que nem sempre funcionam e, claro, um herói desajustado.
O elenco envolvido na produção é inacreditável. Tirando Michael Cera (que dá vida ao Scott), todos os principais antagonistas e coadjuvantes trilharam ótimos caminhos no cinema.
Brie Larson (Envy Adams) ganhou um Oscar e hoje está prestes a atingir 1 bilhão de bilheteria com Capitã Marvel.
Chris Evans (Lucas Lee) esta há 10 anos derrotando vilões interpretando o Capitão América.
Mary Elizabeth Winstead (Ramona) é aclamada por Fargo e agora estará em Aves de Rapina, próxima produção da DC Comics.
Anna Kendrick possui uma franquia extremamente sólida (Pitch Perfect) e concorreu ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Up in The Air.
E o melhor ator do filme, Kieran Culkin (Wallace), foi indicado ao Globo de Ouro 2019 por Succession. Eu não sei o que mais eu preciso dizer para esse filme ser taxado como: Hino.
A grande chave para Scott Pilgrim Contra o Mundo ser considerado um filme tão cativante está no humor e em sua montagem. As piadas bobas, e que podem não parecer tão relevantes na primeira vez que você assiste, fazem toda a diferença conforme você revisita a obra. Acredite, eu devo ter assistido umas 75 vezes!
A montagem e os efeitos utilizados na concepção do longa também são um ponto alto: o uso da linguagem de videogames durante os duelos ou em momentos simples – como ir ao banheiro – tornam a trama mais atrativa e dão um ritmo fluido ao longa.
A forma como uma cena é “cortada”, lembrando a troca de tirinhas de um quadrinho, também faz toda a diferença. Existem quadros em que você pode reparar todos os coadjuvantes simplesmente parados ao fundo da cena, exatamente como acontece em um gibi. A fidelidade na adaptação feita por Edgar Wright para as telonas é inacreditável.
Obviamente existem pontos a serem melhorados, principalmente quando falamos da representação feminina.
Knives (Ellen Wong), Kim (Alison Pill), Envy Adams e a própria Ramona mereciam mais. A condensação de todos os quadrinhos em uma única adaptação – ao todo são 6 edições – acabou afetando o desenvolvimento dessas personagens, que não são aproveitadas corretamente.
No resumo, Scott Pilgrim Contra o Mundo não é um filme de Oscar (ou de premiações), mas ele é memorável nos seus detalhes. Há muita experimentação de câmera, de takes, até plano sequência durante as lutas você encontra por aqui.
Provavelmente você não vai ver um vilão cantando e dançando em um filme da Marvel ou da DC, então aproveite essa permissão num filme como esse.
Em um mundo onde todo o blockbuster de herói precisa seguir uma fórmula para dar certo, é engraçado – e interessante – encontrar um filme que misture referências visuais de séries, filmes, quadrinhos e animação, usando o humor sem ser apelativo e buscando “debater”, por assim dizer, alguns temas importantes como relacionamento abusivo e depressão.
Seria até ingenuidade achar que um filme de ação/comédia com um enredo bobinho e muita cena de luta poderia abordar profundamente assuntos como esse, mas é interessante como ele pincela as formas de relacionamento e mostra como nossas atitudes insensatas podem destruir o emocional de outra pessoa.
Eu poderia ficar horas falando do quanto eu gosto desse filme e o quanto acredito que ele é uma pérola de edição, storytelling e bom humor. E apesar de não ter uma cena tão legal quanto Don’t Stop Me Now com zumbis em Todo Mundo Quase Morto, acredito que é uma das melhores produções do Edgar Wright.
Imagina só se a Marvel Studios tivesse deixado ele em Homem-formiga, né?
Confira abaixo o trailer legendado:
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