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CRÍTICA: ‘CorpoNation: The Sorting Process’ nos lança por mundo distópico, controlado pelas corporações

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CorpoNation

CorpoNation: The Sorting Process‘ me causou um dos maiores incômodos que um game poderia causar em um jogador, não por sua dificuldade, ou pela forma do game contar uma história. Apenas por possuir um sistema de ciclo dos dias que oprime os jogadores de todas as maneiras possíveis, tornando-nos lacaios da Ringo CorpoNation. Fazendo uma ferrenha crítica ao sistema capitalista e como ele obriga sua força de trabalho a se sujeitar cada vez mais à exploração descabida em troca de uma renda, o game critica algumas megacorporações e suas formas de trabalhar.

Fazendo as vezes de mega corporações que possuem um monopólio não apenas de determinada fatia de mercado, mas de todo ele, funcionando como um conglomerado, a Ringo CorpoNation estende seus tentáculos pelo governo, estabelecendo regulações que a favorece, controla o mercado financeiro e os meios de comunicação por meio da Ringo News.

Como um funcionário que aparentemente fará e aceitará de tudo para manter seu emprego, Max, ou melhor, emprego B-2540, nos levará por uma jornada atrás da verdade em um jogo point-and-click, você precisará memorizar fórmulas, intruções e poderá até se divertir. Com jogos e atrações permitidas pelo Estado, é claro.

CorpoNation: The Sorting Process chegou ao PC pela Steam no dia 22 de Fevereiro e chegará ao Xbox e Nintendo Switch no dia 9 de maio.

SINOPSE

Sua função é organizar as amostras genéticas da Ringo CorpoNation. Com os créditos que receber, você pode fazer compras, jogar e pagar suas contas em dia. Funcionários mal-intencionados podem tentar te induzir a trair sua querida empregadora, mas nós sabemos que você dará 110%.

Vivencie uma narrativa linear distópica, onde você trabalhará como Técnico de Laboratório para um estado de propriedade corporativa. Seu trabalho é organizar uma misteriosa coleção de amostras genéticas e ser um funcionário exemplar, apesar dos trabalhadores rebeldes que tentam te recrutar. A gloriosa CorpoNation conta com você para trabalhar de forma diligente e colocar seu dinheiro de volta na economia.

ANÁLISE

CorpoNation: The Sorting Process, nos coloca no papel de um separador de amostras. Alguém que separa amostras de DNA de acordo com características bem específicas, mas que caso dê duro, e atinja 110% de sua capacidade, tem chance de chegar ao topo. Mas será mesmo? Por meio de elementos que exarcebam nossa perspectiva de uma espécie de aprisionamento, a mecânica de ciclos nos faz entender que assim como na vida, é como na vida real: o capital só precisa de você para gastar o que ganha e gerar mais riqueza para o seu empregador.

Com grandes limitações no que dizem respeito à viver de fato, o game me fez lembrar do episódio Fifteen Million Merits de Black Mirror. Em que os personagens viviam trabalhando, no caso da série, entretendo seus espectadores até atingir o estrelato. Aqui, o game parece deixar claro que uma estranha falácia da meritocracia está por trás do nosso trabalho duro, assim como na vida real.

Como uma grande crítica ao sistema capitalista e liberal, o game nos engendra por uma história tão complicada quanto as memórias que precisamos decorar. Com personagens secundários, terciários e até mesmo a Ringo – que atua também como um personagem -, nos faz perceber que esta é uma das muitas histórias que precisam ser contadas hoje.

Por meio de sequências que nos fazem questionar o que estamos vendo, temos não apenas ciclos de trabalho, como também de “lazer“, mas estes, extremamente limitados, de acordo com diversas regulações do Estado.

Alguns dos aspectos mais interessantes desta história vem de uma visão deturpada de mundo que vão nos lançar por um perigo iminente. De ser até mesmo capturado por nossos empregadores caso ajamos contra o sistema que agora parece ter o controle de nossa vida. Por meio de chats no nosso computador com outros colaboradores, jogos permitidos pelo governo e a clara intenção de nos forçar a gastar o dinheiro que ganhamos decorando o quarto, pagando taxas de habitação, alimentação e outros, o game nos garante um período de vivência além do trabalho bem limitado, mostrando o que muitos indivíduos nessa situação passam, ou passaram, no passado.

Em uma espécie de ‘escravidão legalizada,’ o game estabelece que o melhor que podemos fazer é trabalhar e dar 110% da nossa força de trabalho para perseverar na companhia.

Com votos de que a perseverança e todas as possibilidades estão abertas a quem tentar, mergulhamos em uma rede de intrigas daqueles que tentam derrubar o monopólio da Ringo CorpoNation e acabar com eles de uma vez por todas.

AGENTE DUPLO, DERRUBANDO A CORPONATION

Além de mergulhar em uma rede de intrigas que parece retirar toda e qualquer concorrência ou empecilho do caminho, uma rede inimiga, ou melhor, de pessoas que não concordo com a Ringo farão de tudo para impedir que a mega corporação continue enriquecendo às custas do sofrimento dos outros. Com desenvolvimentos narrativos relativos aos jogadores entrarem na ‘Resistência’ ou não, ou serem descobertos no processo, atividades referentes à separação de amostras só vão ficando ainda mais complicados, sendo necessário agora, trabalhar para a Resistência e para a Ringo ao mesmo tempo.

Perigos ligados à como vemos o mundo e nos alienamos, dão aos jogadores uma falsa sensação de que está tudo bem, mesmo quando não está. Com reviravoltas relacionadas à necessidade de produzir ainda mais dias diversos, a dificuldade aumenta quando vemos que os perigos e nossas ligações junto à resistência se tornam ainda mais estreitas.

Com jargões tipicamente corporativos e o lema ‘Trabalho é dignidade,’ podemos traçar um claro paralelo entre os mais tóxicos aspectos das empresas que o game aborda e tira sarro. Deixando claro o quão errado é e como esse fluxo de trabalho e a maneira de viver para o capital tende a destruir os aspectos mais sensíveis e humanos existentes nos indivíduos.

De maneira linear, podemos acompanhar nossa jornada dentro da Ringo e precisamos tomar cuidado para não sermos pegos, afinal, ‘trabalho é dignidade,’ e o CEO te quer lambendo o chão por onde ele passa.

Ao longo de momentos ligeiramente embaraçosos e outros nem tanto, o game nos faz questionar nossas ações e perceber uma ligação com diversos momentos de nossa vida real/profissional, conectando o game com momentos de desconforto que vivemos. Nos fazendo assim, perceber o quão terrível o mundo capitalista é, principalmente em uma sociedade distópica completamente organizada para oferecer ainda mais retorno ao dono das mega corporações.

VEREDITO

CorpoNation: The Sorting Process nos leva por uma jornada curiosamente inesperada. Ao longo da progressão, seremos testados algumas – muitas – vezes e se falharmos, nossa jornada chegará ao fim tão subitamente quanto o início desta história. O trabalho da Canteen e da Playtonic Games aqui se difere de tudo da minha vida gamer até aqui. Me fazendo pensar e se conectando com diversos momentos da nossa atual geração e este período do capitalismo tardio.

A realidade de CorpoNation: The Sorting Process se relaciona de muitas maneiras com 1984 de George Orwell, com o controle totalitarista do Grande Irmão, neste caso, o Estado e a Ringo que tem o controle de tudo (inclusive fiscalizam tudo, desde chats ‘privados’ até mesmo quanto dinheiro você ganha por mês e porque não está gastando com a Ringo ‘fazendo a economia girar’).

Ao longo das horas do game me vi imerso de muitas maneiras, e mantive um logbook de atividades e amostras Alfa, Beta, Ômega e Zeta e seus padrões, e de fato me afeiçoei aos personagens com quem conversava no chat. Pois graças a eles que acreditavam que ‘trabalho é dignidade,’ eu percebi desde o início o que havia de errado com a CorpoNation.

A sequência final, caso você tenha chance de testemunhá-la nos diferentes caminhos de acordo com suas escolhas ao longo do game pode te surpreender. Seja acabando com o império da CorpoNation ou sendo enviado para reabilitação, o game encanta, diverte e até mesmo surpreende. Como um game por vezes incômodo que nos faz pensar e coloca em nós o papel de questionar. E em uma era em que adoradores de bilionários batem palmas para grandes absurdos, o que a Canteen e a Playtonic faz é brilhante e louvável.

5,0 / 5,0

Confira o trailer do game:

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