CRÍTICA – Boca a Boca (1ª temporada, 2020, Netflix)

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Boca a Boca

Em uma cidade do interior do Brasil, após uma festa com alucinógenos e pegação, uma doença misteriosa transmitida pelo beijo contamina os adolescentes. A primeira vítima é Bel (Luana Nastas) que apresenta manchas em tom de roxo na boca. Depois de ser levada ao hospital, seus amigos,  Chico (Michel Joelsas), Alex (Caio Horowicz) e Fran (Iza Moreira) começam a mapear todos que se beijaram na festa. Essa é a premissa da série original da Netflix, Boca a Boca.

ANÁLISE

Boca a Boca

Em meio a pandemia da Covid-19 é no mínimo curioso a Netflix lançar uma série sobre uma doença misteriosa que causa um verdadeiro pânico em uma pequena cidade. Boca a Boca pode ser um daqueles casos onde a arte imita a vida ou será ao contrário? Já que a série, segundo seu criador Emir Filho foi pensada a dois anos atrás. 

Seja qual for o caso, Boca a Boca surge sorrateiramente, sem grande propaganda pela streaming, mas em apenas uma semana de estreia ganhou força na internet e conquistou o público. Na trama, Progresso é a típica cidade perfeita que vive da agropecuária, algo comum no Brasil. Uma comunidade com regras e princípios, pelo menos, é o que aparenta. 

Já no primeiro episódio, os jovens de Progresso participam de uma festa dada por uma “seita” que habita os arredores da cidade. Com o uso de entorpecentes os adolescentes liberam seus sentidos e se relacionam, no outro dia,  uma doença se espalha e ninguém sabe a cura. 

A trama tem o cuidado de não focar na origem da doença, apesar de criar um mistério envolta das pessoas que vivem fora da cidade, não há necessariamente um culpado. Entretanto, os pais dos adolescentes de Progresso são totalmente controladores e conservadores, acusando quem vem de fora.

Boca a Boca

Em certo momento, a diretora da escola Modelo, interpretada pela Denise Fraga diz: “Quem tem risco de se contaminar é quem cruza a fronteira!”, é o medo pelo desconhecido atrelado ao preconceito e a desinformação. Já os jovens estão mais interessados em transgredir as regras dos pais e se libertarem socialmente. 

A internet atua como um personagem e é através do celular que algumas tramas são desenroladas, o que dá uma maior senso de interação e também conflito entre a comunidade. Boca a Boca apresenta uma estética que enche os olhos, o uso das cores e da trilha sonora não é por acaso, tem o intuito de aproximar o público jovem e passar mensagens poderosas. Em uma época em que o futuro é incerto, a série busca fazer um debate entre a juventude e o conservadorismo, sempre com uma narrativa madura e criativa. 

PERSONAGENS

Os três protagonistas da história, Fran, Alex e Chico são personagens fortes que independem uns dos outros para funcionarem em seus papéis.

Fran é a filha de uma das funcionárias da fazenda local. Com sua melhor amiga doente e sua mãe prestes a ser demitida do trabalho, Fran começa a agir para encontrar seu lugar naquele mundo.

Alex é o filho do maior fazendeiro da cidade, mas não concorda com os procedimentos do pai e se vê distante de sua família. 

Chico, é o garoto novo da cidade que vai morar com o pai, seu jeito livre parece ser uma ameaça para o local e aos poucos ele vai entendo como Progresso funciona. 

Cada um tem seus próprios problemas e questões para resolver, mas juntos buscam encontrar uma saída para a doença. Dessa forma, Boca a Boca trata sobre liberdade, conflitos sociais e sexuais, pressão, vida pública e privada. Com uma voz própria e totalmente diferente do habitual, a série constrói uma enigmática e desafia o público a embarcar nos conceitos e temas mostrados. 

Usando e abusando das cores azul e rosa em formato neon (bastante comum em produções que buscam trazer a temática queer), a série não rotula seus jovens e nem empurra para eles o modelo de seus pais. A história acima de tudo busca tratar de pessoas tentando se libertarem e se descobrirem em meio ao caos do mundo.

Mas Boca a Boca também tem seus defeitos, em certa medida exagerada a trama adota o uso do flashback para repetidamente voltar para a noite da festa, uma forma de construir um certo suspense. Os pais, de fato, existem apenas para confrontar os filhos e a seita ao redor da cidade se mostra vazia e desinteressante. É quase certo que serão assuntos abordados em uma nova temporada. 

VEREDITO

Boca a Boca consegue ser um sucesso em sua primeira temporada, deixando pontas soltas e muitas perguntas para uma segunda temporada. De uma qualidade deslumbrante e atuações notáveis, a série se consagra e não passa batida na Netflix.

Nossa nota

Confira o trailer da série:

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