Não há dúvidas de que The Crown é uma das melhores produções originais do catálogo da Netflix. Criada em 2016 por Peter Morgan, o seriado recria acontecimentos históricos da família real britânica e é amado não só pelo público, como também pela crítica. Com ótimas avaliações e inúmeros prêmios na bagagem, The Crown é a menina dos olhos da Netflix – que não poupa investimentos com a produção.
Ao longo das três primeiras temporadas acompanhamos os passos da Rainha Elizabeth II durante todos os seus desafios. Obrigada a assumir o trono após a morte prematura de seu pai, o Rei George VI, a Rainha precisa enfrentar os altos e baixos da economia e da política inglesa, bem como problemas pessoais com seu marido, o Príncipe Philip.
O que mais chama atenção nesses três anos de série é, além da reconstrução histórica, a humanização das figuras que fazem parte da família real. Não só a Rainha, como também sua irmã, marido e filhos. Todos os personagens são bem desenvolvidos e acabam por conquistar a simpatia dos espectadores.
Outros pontos bem abordados são a importância da Coroa para as relações diplomáticas entre nações, e como a Rainha auxilia o governo em diversas decisões. Se você possui alguma dúvida do porquê a monarquia sobreviveu durante todo esse tempo, mesmo com as mudanças no cenário mundial, o seriado consegue explicar de forma clara e objetiva os motivos.
Entretanto, ao chegarmos neste quarto ano de seriado, entramos em um dos períodos mais interessantes da história da realeza: o governo de Margaret Thatcher e a introdução de Diana Spencer na família real. Essa é, basicamente, uma temporada de ícones. Ícones tão fortes e enraizados na cultura mundial que o teaser apresentava apenas seus cabelos, detalhes e roupas – e era o suficiente para sabermos exatamente de quem se estava falando.
Por ter que lidar com dois personagens que demandam muita atenção – além da própria Rainha -, Morgan precisou fazer escolhas sobre o que seria abordado nos 10 capítulos da temporada. O jogo político ficou em segundo plano, em comparação com os anos anteriores, e deu espaço para o drama familiar encabeçado por Diana e Charles.
Thatcher, a Dama de Ferro, também foi humanizada durante os episódios, mostrando muito mais a sua personalidade e gênio do que, de fato, a proporção da crueldade de seu governo.
Alguns momentos chave de seus 11 anos e meio de gestão foram omitidos. Entre eles: a perseguição de Thatcher aos sindicatos e indústrias, deixando milhões de cidadãos sem ter o que comer e onde viver; o massacre proporcionado pelo governo em Liverpool; e até o atentado cometido pelo IRA contra a premiê em 1984.
Esse poderia ser um ponto negativo para a temporada não fosse a ótima interpretação de Gillian Anderson (Margaret Thatcher) e Emma Corin (Princesa Diana), que roubam a cena durante o desenrolar da trama. Com um elenco por onde já passaram grandes nomes como Olivia Colman, Claire Foy, Vanessa Kirby, Josh O’Connor e Helena Bonham Carter, os dois talentos somam forças para entregar uma das melhores temporadas até aqui.
Mesmo que Thatcher possua um grande arco e, de fato, seja uma figura interessantíssima, é a eterna Princesa de Gales que ganhou novamente a atenção do mundo. Não é por nada que a internet está tomada de publicações sobre Diana, que parece ter sido descoberta pela nova geração. A própria Netflix passou a recomendar diversos documentários sobre a Princesa entre os destaques de sua programação.
O impacto de Diana é tão grande que até as pessoas que não assistiram às temporadas anteriores de The Crown sentaram em frente à TV para reviver todos os momentos ao lado dela, que é um dos maiores ícones da história mundial.
Desde o lançamento, no dia 15 de novembro, inúmeras notícias são publicadas diariamente sobre o relacionamento de Diana e Charles. As buscas pelos termos “The Crown Diana” e “Princesa Diana” aumentaram em 300% no Google e não apresentam queda desde então.
Amada por todos por onde passava, Diana marcou seu nome na realeza para sempre, fazendo sombra para outros membros da família mesmo após a sua morte. Lembrada pela humanidade como a personificação da empatia e da bondade, o conto de fadas da menina simples que se tornou princesa moveu o mundo nos anos 1980 e reverberou durante décadas, sendo utilizado como estudo de caso em faculdades e publicações.
Mas essa repercussão toda não seria possível sem a ótima caracterização de Emma Corin. A jovem atriz entrega uma excelente atuação, mantendo uma ótima química com o ator Josh O’Connor, que interpreta Charles. O relacionamento abusivo e tóxico dos dois é provavelmente um dos maiores pesadelos da família real britânica até hoje.
Além de todas as matérias sobre o casal que inundaram a internet, rumores sobre o descontentamento dos membros da família real se tornaram notícia recorrente nos tabloides. E, bom, essa temporada não poderia ter vindo em um timing pior: há alguns meses o Príncipe Harry e sua esposa Meghan Markle se afastaram de seus papéis dentro da família real devido a desavenças e à perseguição que Meghan sofria pela mídia britânica.
Toda a situação com Harry e Meghan parece só validar ainda mais o sofrimento de Diana representado nos episódios. Isso fez a história ressurgir com ainda mais força entre a Geração Z, e está mantendo a série no Top 10 das mais assistidas da Netflix Brasil desde seu lançamento.
Esse grande efeito é curioso, pois ainda nem entramos no auge dos problemas entre Diana e a família real. Certamente já serve de termômetro para a repercussão que a 5ª temporada causará.
Apesar de Diana ser o grande ponto forte da temporada, os episódios em que ela não aparece também são bem conduzidos. Há espaço até para um episódio focado em Margaret (Helena Bonham Carter), apresentando ao mundo a história bizarra das irmãs apagadas da família real. A qualidade da produção segue impecável, pavimentando o caminho para uma próxima temporada bombástica.
Ao término dos 10 episódios, a sensação é de que não estamos prontos para nos despedirmos das histórias. Mesmo maratonando com calma, assistir a The Crown é um daqueles raros momentos em que desejamos que a temporada tenha mais episódios.
Nota: 5,0/5,0
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