A Nouvelle Vague começou devido à presença de duas pessoas especiais: um arquivista cinematográfico chamado Henri Langlois, cofundador da cinemateca francesa, e o crítico André Bazin, um dos fundadores da lendária revista Cahiers du Cinéma.
Os futuros e principais diretores do movimento frequentavam a Cinémathèque e conheciam Langlois. Geralmente passavam madrugadas discutindo os filmes que assistiam, afinal, o lugar era uma espécie de cineclube. Dentre os cineastas que iriam escrever mais tarde para a revista citada estavam nada menos do que François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer e Jacques Rivette.
Jean-Luc Godard e François Truffaut (1965)Sendo assim, os críticos da Cahiers du Cinéma se juntaram com outros frequentadores da Cinemateca para justamente realizarem seus próprios filmes e, dessa forma, começou a surgir uma mudança total na estética e na linguagem cinematográfica.
Sendo assim, o avanço da tecnologia se mostrou favorável ao movimento, uma vez que com equipamentos mais modernos seria possível realizar gravações em ruas e em outros ambientes que não fossem necessariamente um estúdio cinematográfico.
A ideia dos diretores franceses era romper com aquilo que o público estava acostumado, trazendo novidades na linguagem, como uma montagem bastante despreocupada com a linearidade da história, cenas filmadas na rua e sem ensaio que focam no psicológico dos personagens, suas relações cotidianas e banais. Takes com luz natural, som direto e os jump cuts (aquele corte rápido e abrupto) passaram a ser usados com mais frequência.
ESTÉTICA DA NOUVELLE VAGUE
Suas principais características estéticas eram filmes fluidos, narrativas sem linearidade, histórias focando o psicológico de personagens, que eram seres imperfeitos, mais humanos e reais. Os filmes passam a ter mais apelo intelectual, e a figura feminina começa a fugir das divas de Hollywood.
Na linguagem há a utilização de closes, cortes bruscos, montagem paralela, movimentos de câmera e câmera na mão, que acompanhava os personagens. Um exemplo da estética que seria adotada, carregando muito o estilo de seu diretor, está em Acossado (1960), de Godard. Linearidade e eixo são quebrados, a narrativa não tem o ritmo comum e passou-se a ver cortes bruscos. Esse é um exemplo clássico do estilo que pretendia ir contra as “regras” que tomavam conta da linguagem cinematográfica na época.
VALORIZAÇÃO DO “CINEMA DE AUTOR”
Foram muitas as novidades propostas por essa nova onda. Os artistas estavam interessados em fazer um cinema autoral, em que o roteiro e a direção fossem, de fato, valorizados, assim como a atuação.
Foi nesse contexto que a expressão cinema de autor foi criada.
FILMES ICÔNICOS E CINEASTAS DO MOVIMENTO
La Pointe Courte (1954), de Agnès Varda
Esse foi o primeiro filme da fotógrafa Agnès Varda (1928-2019). Misturando documentário e ficção, a cineasta ousou em uma produção cheia de elementos peculiares, considerada como precursora da Nouvelle Vague.
Pointe Courte é o nome de uma vila de pescadores na França e foi o local escolhido para as gravações. Agnès, que além de diretora também criou o roteiro do longa, quis registrar o ambiente, seus personagens reais e suas nuances.
A história fictícia de um casal também faz parte da trama, criando um filme que ultrapassa as barreiras do convencional.
Nas garras do vício (1958), de Claude Chabrol
Nas garras do vício (Le beau Serge, no título original, que significa “O belo Serge”) é considerado por muitos como o primeiro filme, de fato, do movimento Nouvelle Vague.
Realizado por Claude Chabrol (1930-2010), foi a estreia do diretor, que até então escrevia críticas de cinema para a revista Cahiers du Cinéma.
A trama conta sobre um jovem que retorna a sua cidade natal em busca de descanso, mas depara-se com uma realidade bem diferente. Um filme sobre as mudanças que ocorrem nas pessoas e nos lugares à medida que o tempo passa.
Acossado (1959), de Jean-Luc Godard
Um filme de destaque de Jean-Luc Godard (1930-) é Acossado, realizado em 1959. O primeiro filme do diretor é considerado uma obra-prima cinematográfica, causando surpresa por conta de sua inovação até hoje.
A montagem do longa conta com recursos impensados para a época, como cortes e enquadramentos com finalidade puramente estética. A atuação do casal protagonista é também incomum, exibindo uma história que mistura romance e perseguição, diálogos banais e a agitação das ruas.
Os Incompreendidos (1959), de François Truffaut
Produção de estreia de François Truffaut (1932-1984), Os incompreendidos entrou também para a lista de filmes icônicos da Nouvelle Vague. Recebeu o prêmio de melhor diretor em Cannes e nomeação à Palma de Ouro.
O enredo aborda a difícil relação familiar de um adolescente com seus pais, mostrando o ator Jean-Pierre Léaud interpretando, aos 15 anos, um garoto que é expulso de casa.
Hiroshima, Meu Amor, (1959), de Alain Resnais
A história começa com retratos da devastação causada pelas armas nucleares, seguida pela apresentação de uma personagem sem nome interpretada por Emmanuelle Riva, atriz francesa que foi ao Japão gravar cenas de um filme que fala sobre a paz. Ela se relaciona com um personagem também sem nome, interpretado por Eiji Okada, um arquiteto japonês, ao mesmo tempo em que relembra um grande amor de seu passado, enquanto vivia a tragicidade da Segunda Guerra Mundial.
A INFLUÊNCIA DA NOUVELLE VAGUE
A Nouvelle Vague realmente abalou as estruturas dentro do universo cinematográfico, trazendo um novo ânimo e soluções criativas na forma de contar as histórias. Por conta disso, muitos artistas do audiovisual beberam na fonte dessa “nova onda”.
No Brasil, por exemplo, o movimento intitulado Cinema Novo foi bastante impactado tanto pela Nouvelle Vague quanto pelo neorrealismo italiano. Podemos citar Cacá Diegues e Glauber Rocha como diretores brasileiros de destaque dessa vertente.
Nos EUA houve também grande inspiração na corrente francesa. Cineastas como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Steven Spielberg e Brian de Palma tiveram na vertente uma referência para muitos filmes.
Foi a Nouvelle Vague que inspirou centenas de pessoas a pegarem suas câmeras e filmarem. E muitas delas tornaram-se grandes cineastas. Os cineastas desse movimento mostraram que vale a pena romper com os paradigmas. É o ideal de liberdade, de que tudo pode acontecer num filme, o maior legado desse movimento, que extrapolou as fronteiras da França para influenciar o cinema mundial como um todo, contribuindo assim para o grande quebra-cabeça da Sétima Arte.
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