Cinema Noir: Entenda o fenômeno da década de 40

    Na literatura existem tantas descrições sobre o Noir quanto críticos e historiadores do cinema escrevendo sobre ele. Alguns argumentam que é um gênero, enquanto outros afirmam que o Cinema Noir é mais o tom ou humor do filme. Outros, ainda, afirmam que um filme noir se trata de um estilo visual. O fato é que o noir não é considerado um gênero, nem um movimento cinematográfico, mas sim um fenômeno que se expandiu a partir de 1940, que conta com padrões estéticos e narrativos próprios.

    A classificação foi cunhada em 1946 pelo crítico francês Nino Frank para se referir a um tipo de longa-metragem de suspense que estava em voga nos anos 1940, com ambientação urbana, temática criminal e anti-heróis.

    O visual costumava ter fortes influências da corrente cinematográfica conhecida como expressionismo alemão e da técnica de claro/escuro do pintor barroco Caravaggio (daí a escolha do termo “noir“, que significa “preto” em francês). Porém, esse termo (e o prestígio dos filmes noir) só se consolidou na década de 1970. Especialistas classificam como noir mais de 300 títulos produzidos entre 1940 e 1958.

    Em tempo: sua pronuncia correta é “noar“.

    CARACTERÍSTICAS DE UM FILME NOIR

    Os ambientes dos filmes noir são ambientes escuros, tomados por sombras. O contraste entre claro e escuro reflete a ambivalência dos seus personagens, que não são bons o suficiente para serem heróis, mas também não se caracterizam como vilões.

    Outra característica era a iluminação de três pontos. Havia uma fonte de luz para estabelecer o escuro (sombras), outra para o claro (contraste com o negro) e outra para criar um gradiente de cinza, regulada para criar a “atmosfera” da cena. Com frequência, os personagens eram banhados por longas sombras lineares, projetadas de barras da prisão, escadas ou venezianas nas janelas.

    Os protagonistas masculinos são ambíguos, como o anti-herói que vive uma vida vazia, não confia em ninguém e é frio, e usa isso como defesa. Há também o clichê do detetive, que é uma figura pouco confiável (nem mesmo os bandidos confiam nele); o policial corrupto, o marido ciumento e o herói. No figurino, a figura masculina era marcada por ternos, gravatas, chapéus, casaco e um cigarro.

    Mas talvez a principal característica do gênero seja a presença da femme fatalle. Ela é aquela mulher misteriosa por quem o protagonista – homem – é seduzido e muitas vezes levado a tomar atitudes que ele normalmente não tomaria.

    O PRIMEIRO E O ÚLTIMO FILME NOIR

    Historiadores consideram O Homem dos Olhos Esbugalhados (1940), como o primeiro filme noir e A Marca da Maldade (1958), como o último filme do período clássico. Desde então, de tempos em tempos surgem filmes que remetem à estética noir ou, de alguma forma, homenageiam o gênero.

    O noir e suas características são frutos de uma época, mas sua referência é visível até hoje, principalmente num subgênero conhecido como neo-noir.

    O NEONOIR

    Na década de 1960, cineastas como Sam Peckinpah, Arthur Penn, Robert Altman criaram filmes inspirados nos filmes noir originais e os melhores exemplos são: O Perigoso Adeus (1973), onde o detetive criado por Altman é apresentado como um idiota azarado que não consegue evitar sua derrota numa batalha moral; mas talvez o mais bem sucedido filme neo-noir tenha sido Chinatown (1974), de Roman Polanski.

    Muitos dos filmes de Joel e Ethan Coen são exemplos de filmes influenciados pelo subgênero noir, especialmente Gosto de Sangue (1984), além da comédia O Grande Lebowski (1998) e O Homem que Não Estava Lá (2001).

    Os irmãos Cohen também acrescentaram diversos elementos de filme noir, tanto na filmagem quanto no roteiro de Fargo (1996). Alguns críticos consideram-no um clássico moderno do gênero. O aclamado Los Angeles: Cidade Proibida (1997), de Curtis Hanson (adaptado do romance de James Ellroy) pode ser o filme que mais se aproxima do filme noir moderno, com suas histórias de policiais corruptos e femmes fatales que parecem ressurgidos dos anos 50.

    5 FILMES QUE DEFINEM O FENÔMENO NOIR

    Depois de conhecer e entender melhor o cinema noir, veja cinco produções icônicas que marcaram a sétima arte quando o assunto é noir.

    Relíquia Macabra (1941, John Huston)

    Um clássico do cinema noir, este filme inspirado no livro de Dashiell Hammet criou parâmetros reproduzidos e referenciados até os dias de hoje, fazendo dele o filme noir mais influente do cinema. Em meio a um tom sombrio e uma história pessimista, Relíquia Macabra se mostra um filme puro em sua simplicidade narrativa e no seu estilo precursor. Sem dúvidas, um clássico.

    SINOPSE: Um detetive particular (Humphrey Bogart) é procurado por uma mulher misteriosa (Mary Astor), que alega estar sendo ameaçada. Mas tanto o seu perseguidor quanto o homem encarregado de protegê-la aparecem mortos e tudo gira em torno de uma estátua de falcão de valor incalculável.

    A Sombra de Uma Dúvida (1943, Alfred Hitchcock)

    Apesar de filmes emblemáticos como Interlúdio (1946), Festim Diabólico (1948), Pacto Sinistro (1951) e Um Corpo que Cai (1958) terem ricos elementos do cinema noir, eles estão ali mais como aspectos da época do que um conceito estilístico. Em A Sombra de Uma Dúvida, Alfred Hitchcock usa sombras espessas para narrar a história de uma menina, encantada quando seu tio favorito vem visitar a família, que gradualmente começa a suspeitar que ele é de fato o assassino da “viúva feliz” procurado pelas autoridades.

    SINOPSE: Charlie Oackley (Joseph Cotten) é um serial killer de viúvas, ele primeiro as seduz e depois as mata. Para fugir do seu último assassinato, ele vai morar com sua irmã Emma (Patricia Collinge), que vive com o marido e a filha Charlie (Teresa Wright), que logo se encanta pelo seu tio e xará. Com a convivência e o passar do tempo, a inocente Charlie acaba por desconfiar de Oackley, que passa a se preocupar em não deixar lacunas no seu disfarce. No entanto, para a menina, ele já é seu tio suspeito, e ela vai ter que conciliar o amor que sente por ele com os seus medos.

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    Pacto de Sangue (1944, Billy Wilder)

    Billy Wilder é um diretor conhecido pela versatilidade com que transitou entre os gêneros do cinema, obtendo sucesso em vários deles ao longo de uma extensa carreira. Não seria exagero afirmar que sua obra se movimenta com as transformações do cinema, sendo possível traçar a evolução dentro da nona arte através de seus filmes.

    SINOPSE: Momom (Gérard Lanvin) é um homem pacato que leva uma vida simples voltada à sua família. Contudo, seu jeito humilde esconde um passado violento. Junto com Serge (Tchéky Karyo), um amigo de infância, ele fez parte de uma gangue que aterrorizou a França nos anos 1970. Quando Serge é sequestrado, ele precisa decidir se se esconde ou corre o risco de ajudá-lo.

    O Terceiro Homem (1949, Carol Reed)

    Não foi só na América que se fez grandes filmes noir. Na Europa também, e este é um dos melhores: uma produção britânica passada em Viena e dirigida pelo inglês Carol Reed, tem Joseph Cotten, famoso por Cidadão Kane (1941).

    SINOPSE: Após a 2ª Guerra Mundial, Holly Martins (Joseph Cotten), um escritor americano de 6ª categoria chega em Viena. Holly estava em crise e sem dinheiro, mas seu velho amigo de escola Harry Lime (Orson Welles) lhe prometera um trabalho. Holly tenta encontrar Harry e então fica sabendo que ele foi atropelado e teve morte instantânea. Intrigado, o escritor decide fazer sua própria investigação sobre o misterioso passado do amigo e descobrir o que de fato aconteceu.

    A Marca da Maldade (1958, Orson Welles)

    Neste emblemático filme do lendário Orson Welles, inspirado no livro Badge of Evil de Whit Masterson, um inspetor mexicano entra em rota de colisão com um policial norte-americano corrupto.

    O cenário é a fronteira entre México e Estados Unidos que serve de simbolismo para a exploração dos dois lados da lei: o policial honesto, legalista e incorruptível em atrito com o oficial que vive segundo suas próprias regras do que é certo e errado.

    Com a classe, a urgência e o suspense do cinema noir Orson Welles apresenta seu último grande filme ao levar para a fronteira uma trama sobre como a ganância e a contravenção motivam um esquema ilícito enorme, repleta de diálogos sobrepostos, enquadramentos perturbadores e ângulos de câmera vertiginosos.

    SINOPSE: Ao investigar um assassinato, Ramon Miguel Vargas (Charlton Heston), um chefe de polícia mexicano em lua-de-mel em uma pequena cidade da fronteira dos Estados Unidos com o México, entra em choque com Hank Quinlan (Orson Welles), um corrupto detetive americano que utiliza qualquer meio para deter o poder.


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