CRÍTICA – Britney vs Spears (2021, Erin Lee Carr)

    Britney vs Spears é o quarto documentário lançado este ano sobre a polêmica tutela involuntária de uma das maiores popstars mundiais. A produção original da Netflix é dirigida por Erin Lee Carr e desenvolvida em parceria com a jornalista Jenny Eliscu.

    SINOPSE

    A jornalista Jenny Eliscu e a documentarista Erin Lee Carr investigam a luta por liberdade de Britney Spears através de entrevistas exclusivas e documentos confidenciais.

    ANÁLISE

    Após o bombástico lançamento de Framing Britney Spears, documentário do The New York Times em parceria com Hulu e FX, a diretora Erin Lee Carr precisou modificar o caminho escolhido para a produção Britney vs Spears. Apesar desse desvio de percurso atrasar um pouco o lançamento, o documentário da Netflix teve a oportunidade de explorar informações pouco conhecidas pelo grande público.

    Como fã e comunicadora que acompanha cada passo desse processo há anos, confesso que não há nada de novo nesta produção. Ao contrário de Controlling Britney Spears, que traz depoimentos e provas inéditas, Britney vs Spears opta por apresentar os caminhos que levaram à consolidação da tutela e, principalmente, apontar para o público as principais figuras presentes nesse processo.

    Acredito que a escolha de Erin foi muito certeira nesse sentido. Poucas pessoas do grande público, que tem algum interesse nessa história, sabem de fato quem é Sam Ingham, Andrew Wallet, Vivian Lee Thoreen, Lou Taylor, Jeryll Cohen, Larry Rudolph, Geraldine Wyle e Sam Lutfi. Esses nomes são importantes e estão envolvidos, direta ou indiretamente, na consolidação da tutela.

    Britney vs Spears (2021, Erin Lee Carr)
    Os advogados milionários Andrew Wallet e Sam Ingham

    Ao contrário de Framing Britney Spears, que somente cita essas pessoas e foca bem mais nos altos e baixos da carreira de Britney, o documentário da Netflix faz questão de mostrar fotos e ações dessas figuras, construindo sua narrativa em torno de documentos oficiais do tribunal da Califórnia.

    Apresentar as responsabilidades de cada um durante a tutela é importante, pois não só Jamie Spears (pai de Britney) precisa responder por seus atos. Todos aqueles que, desde o princípio, estiveram envolvidos em um procedimento jurídico que não seguiu princípios básicos (como a notificação sobre a instauração de uma possível tutela) se tornam parte da perpetuação desse problema.

    Apesar de acompanhar os incidentes de 2007, Britney vs Spears não mostra cenas degradantes. Há um cuidado de preservar a dignidade da cantora, optando por apenas pincelar o que, dentro da cronologia, é importante para o entendimento do público sobre o caso.

    O documentário conta também com a participação de nomes que estiveram envolvidos em várias fases da vida da cantora. A “cara de pau” do médico James Spar é provavelmente a cereja do bolo na filmagem, pois reforça que algo de muito errado existe nesta tutela. O nome de Spar consta nos autos do processo como o médico responsável por oficialmente considerar Britney Spears como uma pessoa “incapaz” de tomar suas decisões por conta própria.

    Britney vs Spears (2021, Erin Lee Carr)
    Médico James Spar

    Revisitar o passado é um exercício necessário para entender como uma pessoa sã, em plenas faculdades mentais, está em situação como essa. Mesmo com documentos no tribunal alegando que a cantora possui demência, cujo laudo médico ficou por ser anexado futuramente, ela foi capaz de realizar diversas turnês, gravar álbuns e manter uma agenda cheia de trabalho durante mais de uma década.

    O documentário consegue preencher lacunas e mostrar, de forma respeitosa, os abusos sofridos por Britney pelas mãos de seu tutor legal, mesmo sem poder entrar a fundo em alguns assuntos, como o real interesse de algumas figuras no estabelecimento da tutela.

    Apesar do bom desenvolvimento, é inegável que muitas informações poderiam ser acrescentadas ao documentário. Principalmente quando falamos sobre o SJB Revocable Trust, fundo de proteção de bens que continha todos os assets de Britney antes da tutela e que já foi encabeçado por Bryan e Jamie Lynn Spears ao longo desses 13 anos. Talvez um episódio de Na Rota do Dinheiro Sujo seja o lugar ideal para uma investigação sobre esse tópico.

    Lou Taylor e Jamie Spears

    A parte mais surpreendente é, sem dúvidas, o depoimento de Jenny Eliscu sobre o documento entregue para Britney em um banheiro de hotel. É impossível não se emocionar com a situação e sentir que, mesmo com algumas pessoas tentando ajudar a cantora, a juíza Reva Goetz e o sistema judiciário americano falharam em seu dever.

    O encerramento do documentário, que traz o depoimento de Britney e todos os passos dados desde o dia 23 de junho de 2021, é poderoso e finaliza muito bem os 93 minutos de duração. Com a vasta distribuição da Netflix ao redor do mundo, Britney vs Spears tem força suficiente para converter ainda mais pessoas para o movimento #freebritney, além de causar impacto na audiência judicial que ocorre amanhã, dia 29 de setembro.

    VEREDITO

    Mesmo sem revelações bombásticas, Britney vs Spears é uma ótima produção. Explicando didaticamente todos os problemas jurídicos e conflitos de interesses envolvidos na tutela, a produção é respeitosa com a imagem da cantora e lança luz sobre figuras que precisam ser investigadas urgentemente.

    Nossa nota

    4,0/5,0

    Confira o trailer

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