CRÍTICA – Collective (2020, Alexander Nanau)

    Collective é um documentário romeno que está concorrendo ao Oscar 2021 na categoria Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário. O longa-metragem fez seu percurso no Festival de Veneza de 2019 e ganhou o European Film Awards. O documentário foi exibido no Festival É Tudo Verdade na plataforma Looke.

    SINOPSE

    Em Colective, como consequência de um trágico incêndio em um clube romeno, às vítimas de queimaduras começam a morrer em hospitais devido a ferimentos que não são fatais. Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado, abordando questões sobre propaganda e manipulação que até hoje afetam não apenas a Romênia, mas também sociedades em todo o mundo.

    ANÁLISE

    Atualmente muitos documentários se mesclam com o ficcional tornando algumas produções extremamente esporádicas. É o caso do documentário Collective que ao mesmo que lança um olhar jornalístico, buscando os fatos, também consegue ser sensacionalista em certos momentos. Logo, o que chama atenção no longa é o tom de denúncia que, infelizmente, vai morrendo aos poucos.

    Dessa forma, o diretor Alexandre Nanau acompanha de perto um grupo de jornalistas do jornal esportivo Gazeta Sporturilor. A equipe comandada pelo experiente jornalista Catalin Tolontan descobre um enorme furo na saúde pública romena. Em outubro de 2015, um incêndio na boate Colectiv matou 64 pessoas e deixou dezenas feridas.

    Assim como na tragédia da Boate Kiss em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a Colectiv também não obedecia a normas básicas de segurança e estava aberta apenas por incompetência e corrupção. Na Romênia, o caso foi motivo de protestos e levou à queda do governo. Isso porque, o jornal Gazeta Sporturilor, descobriu fraudes na saúde pública.

    Alexander Nanau.

    Os feridos do acidente estavam morrendo nos hospitais por causa de bactérias e falta de higiene. Os jornalistas descobriram que o desinfetante usado para a limpeza dos hospitais romenos estava sendo diluído em água. A história cresce a medida que o grupo vai descobrindo mais pistas e poderia ser um incrível roteiro fílmico, se não fosse real.

    Nessa perspectiva, o diretor escolhe a narrativa da observação sem entrevistas. Logo, a trama carrega um tom de denúncia que faz o espectador ficar impressionado e sem reação. Por isso, a necessidade de câmera de Nanau ser como uma espiã, sempre ao fundo documentando reuniões a portas fechadas.

    Sendo assim, no primeiro ato de Collective existe uma sensação de injustiça e descrença no governo romeno. O que evidencia a importância do trabalho jornalístico em qualquer lugar do mundo. Ainda mais o jornalismo independente que por não serem pautados pelos órgãos governamentais conseguem ser mais transparentes e éticos.

    Segundo ato é preocupante

    Se no primeiro ato de Collective, o diretor faz da figura do jornalista um herói que luta contra o sistema, no segundo ato, Nanau opta por deixar a investigação jornalística de lado dando foco para o ilustre Ministro da Saúde. O que parecia ser uma inversão de narrativa, jornalismo versus governo, se torna a procura por um herói para o povo romeno.

    Visto que a parte investigativa do documentário já estava no seu auge, Alexandre Nanau começa a seguir os passos do novo Ministro da Saúde, Vlad Voiculescu, que não era político, mas sim um ativista da saúde. Ao passo que também mostra momentos de uma sobrevivente do incêndio que teve perda parcial das mãos.

    Vlad Voiculescu.

    Fatos históricos mostram que a Romênia passou por períodos conturbados durante a Segunda Guerra Mundial ficando sob ocupação soviética. Foram 24 anos de um governo comunista autoritário que só terminou em 1989. Somente anos 90, o país teve as primeiras eleições democráticas.

    Essa ascendência à democracia tardia, enquanto os outros países da União Europeia cresciam cada vez mais, é vista no documentário na figura do novo ministro. Voiculescu parece querer mudar o sistema político por dentro, mas está sozinho na causa.

    É nítido que Collective de Nanau se atropela na busca por heróis. No segundo ato, o filme diminui o ritmo e entra em uma espécie de comodismo, diferente do seu início bombástico, apelando para frases de efeitos e sorrisos amarelos em meio ao caos da saúde pública romena. O que fica ao espectador brasileiro é um sentimento de familiaridade, afinal, ambos os países têm mais que um incêndio trágico em comum.

    VEREDITO

    O documentário Collective entrega uma verdadeira catarse em seu primeiro ato, mas diminui o ritmo no segundo ao buscar outras óticas. Contudo, é extremamente importante e atual ao fazer uma denúncia que com certeza não se aplica apenas a Romênia. Além disso, viva ao jornalismo independente!

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Assista ao trailer oficial (legenda em inglês):

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