CRÍTICA – Godzilla Minus One (2023, Takashi Yamazak)

    Desde a infância sempre gostei de obras onde existem monstros, lobisomens, vampiros, múmias e criaturas estranhas, mas nada me impactou mais quando criança do que os filmes onde o Rei dos Monstros aparece. Neste ano de 2023 foi lançado Godzilla Minus One, dirigido e roteirizado por Takashi Yamazak.

    Foi uma ótima notícia esta película vir para minha cidade, e pude prestigiar aquele que rasga o céu e a terra e deixa um mar de destroços onde passa. A surpresa foi maior ainda quando percebi que a obra ultrapassou todas as minhas expectativas, mesclando cenas de ação com um contexto histórico e sociológico de uma cultura diferente da nossa, abordando a culpa, desejo, obrigação e o papel designado que existe no teatro social onde o filme se passa.

    O elenco também contará com Ryunosuke KamikiMinami Hamabe, Yuki Yamada, Munetaka Aoki, Hidetaka Yoshioka, Sakura Andō e Kuranosuke Sasaki.

    SINOPSE

    O já conhecido kaiju aterroriza a cidade japonesa que se encontra devastada após a Segunda Guerra Mundial, na qual o país saiu perdendo e vai do zero ao negativo com a chegada do gigante.

    ANÁLISE

    A ficção científica é um gênero repleto de criaturas, todas carregadas de contexto e ideias. Entretanto, poucas são tão imponentes, tanto literal quanto figurativamente, quanto Godzilla, ou no seu sentido original Gojira. Mesmo 70 anos após sua criação, ele continua sendo um dos maiores ícones da cultura e do cinema, sendo ainda o maior de todos os kaijus.

    Kaiju se refere a um termo japonês que designa “besta gigante”, ou podemos entende-lo melhor ainda como uma “criatura dramática” pois sua história significa e ressignifica os traumas da guerra e o impacto das ogivas nucleares, sendo uma força imparável cuja você não pode se esconder ou escapar, sendo uma concretude das mazelas de um povo, sendo mais do que apenas um monstro, carregando consigo um simbolismo diverso.

    Em Godzilla Minus One vemos a retomada desses temas que marcaram a franquia. A história segue um caminho contrário ao de Shin Godzilla (2016), que levou a franquia para temas mais modernos baseados em eventos recentes. Godzilla Minus One resgata o tema da destruição por si só. O filme consegue ser belo com suas ótimas cenas e cenários; e devastador ao mesmo tempo, demonstrando a dor e o sofrimento causados na Segunda Guerra.

    O filme tem um orçamento baixo, feito com cerca de 15 milhões de dólares, que para padrões estadunidenses é extremamente pequeno, e mesmo assim ele se sobressai em cima das obras da Warner e Disney, por exemplo.

    O protagonista do filme, Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), carrega a obra em conjunto da sua dramaticidade humana, lidando com a perda e a culpa, sofrendo de um estresse pós-traumático que muitos soldados passam. Ele retorna da guerra para encontrar sua cidade destruída e se sente culpado por ter sobrevivido, pois como um piloto kamikaze ele deveria ter se suicidado em um combate aéreo. Ao longo do filme, sua mente é tomada de questionamentos, se perguntando por que não morreu na guerra, e como lidar com a própria sobrevivência.

    Os personagens coadjuvantes também são muito bons e trazem uma perspectiva interessante, tendo que lidar com a reconstrução de uma sociedade que foi abalada pela destruição. Eles representam a geração que sobreviveu e agora tentam ressignificar os acontecimentos e a nova geração do país representada por uma bebê, e agora os sobreviventes precisam reconstruir o país sem estrutura, sem casa e sem alimento.

    Impressionante como a película é carregada pelas relações interpessoais dos personagens, onde Godzilla encarna as mazelas e culpas dos que ali vivem. A obra vai mais além trazendo temas nipônicos para a sociedade ocidental, como a obrigação do dever e honra, que para nós pode por muitas vezes parecer algo “mitológico”, mas para aquela sociedade o simples fato do não comprimento de suas ações determinadas é uma vergonha que você deve carregar por toda a vida, e para Shikishima o não cumprimento de seu dever em sua cabeça significou mais morte, mais destruição.

    Colocando ainda o dilema de, para construir algo novo eu preciso viver, mas para fazer com os outros possam viver eu tenho que morrer, mas sem que eu possa estar vivo eu não consigo criar algo novo.

    E o Godzilla? você deve estar se perguntando, nas cenas em que o kaiju aparece é realmente uma desolação total, não existe para onde se esconder de forma efetiva, sua baforada atômica é tão destrutiva que causa cogumelos atômicos e uma chuva escura, esteticamente linda. Na cena que ele aparece tocando seu tema musical deixa tudo com um peso absurdo. A direção é sábia em gravar muitas cenas do ponto de vista da linha de visão das pessoas, que denotam presença e impacto para o monstro dando uma dimensão à escala da criatura.

    Talvez minha única ressalva seja a quantidade de falas expositivas, muitos vão apontar alguns problemas no CGI, mas em minha opinião é um saldo extremamente positivo tendo em vista o baixo orçamento da produção. E sendo sincero, Godzilla Minus One tem cenas melhores e mais impactantes que muitos filmes de herói que têm orçamento dez vezes maior. Talvez muitos ocidentais vão achar o filme estranho pois ele foca totalmente em experiências sociais japonesas, claro que isso não é um problema; pelo contrário isso enriquece todo o trabalho.

    VEREDITO

    Godzilla Minus One é um filme visualmente impressionante que traz uma mensagem poderosa sobre a valorização da vida e a reconstrução após a destruição. Ele desconstrói a ideia de que a guerra é gloriosa e mostra as consequências devastadoras desse tipo de conflito. O longa consegue equilibrar a ação, drama, terror e momentos cômicos.

    É um filme que vai além da superfície e provoca reflexões sobre os horrores da guerra e a importância de dar valor para a vida.

    Nossa nota

    5,0 / 5,0

    Assista ao trailer legendado:

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