CRÍTICA – No Táxi do Jack (2021, Susana Nobre)

    No Táxi do Jack (Jack’s Ride) faz parte da categoria Perspectiva Internacional na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O evento acontece entre os dias 21 de outubro e 3 de novembro e conta com 264 filmes vindos de mais de 50 países.

    Dirigido por Susana Nobre, No Táxi do Jack é um filme que mistura elementos de documentário e ficção, enquanto narra a vida do personagem principal Joaquim.

    SINOPSE

    Com 63 anos e próximo da aposentadoria, Joaquim precisa preencher os requisitos exigidos pelo centro de emprego para usufruir de seus direitos trabalhistas. Apesar de saber que não voltará à vida ativa, ele visita inúmeras empresas para pedir atestados que provem sua procura por trabalho.

    Nessas viagens, Joaquim relembra a vida de imigrante nos Estados Unidos, onde trabalhou como taxista em Nova York.

    ANÁLISE

    No Táxi de Jack começa ao mesmo tempo em que a primeira câmera de Susana Nobre é ligada. Ao conhecer Joaquim, Susana percebeu que ele seria a figura perfeita para essa produção que é parte documental, parte simulada.

    Joaquim retornou para Portugal há um tempo e quer se aposentar. Para isso, ele precisa demonstrar que está procurando emprego e provar essa busca, visitando diversos estabelecimentos que possam fornecer a documentação.

    Ao acompanharmos a jornada do personagem em busca dos “selos” exigidos pelo centro de emprego, conhecemos as histórias de cada local e revivemos lembranças de Joaquim, tanto do seu tempo nos Estados Unidos, como dos anos difíceis de crise que viveu em Portugal. Quando jovem, ele imigrou para os Estados Unidos, onde trabalhou como motorista de táxi e limusine durante a década de 1980.

    Portugal é, portanto, um personagem vivo e peça fundamental para o desenvolvimento do filme de Susana. É por meio das andanças de Joaquim em solo português que o roteiro se desenrola, dando espaço para que o personagem compartilhe com a audiência diversas de suas experiências.

    É preciso dizer que Joaquim, por si só, é uma figura digna de um filme. Com seu cabelo estilo Elvis Presley e suas roupas joviais, mas pertencentes à outra época, Joaquim é um achado e sua história é repleta de aprendizados. É quase impossível não se preocupar com seu destino e torcer para que ele consiga, enfim, se aposentar.

    Os personagens secundários, que aparecem em momentos distintos da história, não possuem grande aprofundamento. Por vezes fiquei um pouco confusa sobre quem eram e porque eram importantes naquele contexto. Entretanto, com o desenrolar da história, você acaba entendendo melhor essas adições, que servem para reforçar a narrativa em torno das desventuras de Joaquim.

    No Táxi do Jack consegue traçar bons argumentos sobre o sistema desigual em que vivemos, a falta de oportunidades, a solidão dos imigrantes e o abandono dos idosos. Todos esses pontos são capturados nos diversos monólogos e nas vivências de Joaquim.

    Outro ótimo ponto é como a diretora conseguiu unir tanto as experiências de Joaquim nos Estados Unidos, quanto suas memórias antigas em Portugal, sem que as mudanças de tempo se tornassem em algo confuso. O presente de Joaquim está totalmente entrelaçado com seu passado e sofre consequências dessas escolhas.

    Apesar da ótima condução de Susana, é difícil não estranhar algumas cenas que requerem uma certa atuação do personagem principal. Por não se tratar puramente de um documentário, há alguns momentos que Joaquim precisa mostrar sua desenvoltura em frente às câmeras, o que acaba parecendo um pouco deslocado.

    VEREDITO

    No Táxi do Jack é uma proposta interessante de Susana Nobre. Com um ótimo personagem para estudo de caso, o longa percorre diversos momentos da vida de Joaquim, expondo o descaso e a burocracia do sistema para com seus cidadãos.

    Nossa nota

    3,0/5,0

    Assista ao trailer:

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