CRÍTICA: ‘O Mal que nos Habita’ um álbum de death metal em formato de filme de terror

    Já faz algumas semanas que ouço um burburinho sobre o filme O Mal Que Nos Habita (ou em seu sentido original, Cuando Acecha La Maldad), este longa Argentino vem se espalhando via “boca a boca” como uma criatura que se espreita na escuridão até que consiga consumir a alma e o corpo de sua presa, e é exatamente disso que ele se trata. E como um grande fã de terror não pude deixar passar essa oportunidade, ainda mais porque ele estreou nos cinemas Brasileiros, e sempre é bom prestigiar o nosso cinema latinoamericano, que não deixa nada a desejar para os demais continentes.

    O Mal Que Nos Habita lançado em 2023 vem com a idealização de roteiro e direção de Demián Rugna, confesso que este é o único filme que vi desse diretor, mas para mim já se tornou alguém cuja devo ficar de olho. A trama é ambientada em uma pequena comunidade rural nos confins da Argentina onde podemos ver pastos descampados e inóspitos, cenas essas que trouxeram para mim uma grande familiaridade já que venho de uma pequena cidade no interior do norte do Brasil. Na história seguimos os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jaime (Demian Salomon), onde em uma noite intranquila ouve-se barulhos de tiros do interior da floresta.

    Ao adentrar na mata, para sua surpresa, eles encontram um corpo totalmente mutilado e os “rastros” nas proximidades do cadáver os levam até a casa de uma vizinha. E Quando lá chegam eles descobrem que um de seus filhos é um “Apodrecido” e está possuído por um demônio. Seu estado corporal está tão consumido pela “doença” que praticamente está implodindo de dentro para fora, com pustulosa, inchaço e pus escorrendo de sua pele e que agora serve como um receptáculo para algo.

    SINOPSE

    O Mal que Nos Habita mostra dois irmãos que moram em um sítio isolado no meio da Argentina. Eles ouvem barulhos estranhos no meio da noite e saem tentando descobrir o que está acontecendo. No caminho, eles encontram um corpo mutilado e itens que apontam que a vítima estava em busca de um demônio para eliminá-lo.

    ANÁLISE

    O Mal que nos Habita

    O filme traz algo interessante que foi visto outrora no longa espanhol Rec (Paco Plaza, Jaume Balagueró, 2007) onde une uma possessão com ares de doença contagiosa, o que enriquece o contexto da obra, já que a Argentina tal qual o Brasil sofreu bastante com a pandemia da Covid 19 nos últimos anos. Depois de verem o “apodrecido” os protagonistas tentam contatar as autoridades responsáveis, mas para seu desprazer os policiais lidam com total descaso com a situação, deixando ao léu as pessoas mais pobres que precisam de ajuda.

    Ao saber do acontecimento um outro vizinho entra no páreo, um fazendeiro de uma melhor condição financeira que trata a pobre senhora, mãe do “infectado” com total asco e desprezo, representando o que para mim significou alguém que não gosta dos que vem de “fora” um crítica ao descaso da população em situação carente. Agora os dois irmãos e este vizinho tentam levar para longe o homem que agora se desmancha em si mesmo, derretendo em fezes e purulência, no caminho o irmão mais velho some, fazendo com que não se complete o suposto modus operandi para que essa praga cesse.

    Pedro e Jaime voltam para casa, com o pensamento cheio de culpa e medo do não cumprimento do dever, as lentes da câmera com a tonalidade esverdeada trazem um sentimento de desolação para a cena, dando a sensação de vazio e medo e que estão completamente sozinhos contra um mal que se espreita.

    O Mal que nos Habita

    Logo após isto somos guiados para a propriedade do abastado fazendeiro, onde em uma manhã fria de coloração azulada sua esposa grita, as cabras estão agindo de forma estranha, uma prenúncio para o caos, onde não existe para onde correr e agora toda a região já foi “adoecida”, e ali vemos a capa do poster do filme, onde sua esposa acerta a própria cabeça inúmeras vezes com um machado.

    Os irmãos tentando sobreviver fogem para a cidade, mas não levam nada consigo, pois tudo do local pode estar infectado, tentando salvar seus filhos o mais velho dos dois, Pedro tenta buscar os seus filhos para longe de tudo, aí descobrimos a ausência paterna de um homem negligente, que pouco contatava sua ex-esposa. Mas existem protocolos a seguir, deve-se jogar todas as roupas fora pois elas podem estar banhadas com a essência do ser maléfico, um erro foi cometido, e tal qual uma pandemia o demônio se espalha novamente.

    O Mal que nos Habita

    Umas das cenas mais aterradoras da película é mostrada neste ato onde um cachorro de porte grande infectado pela “peste” cheira as roupas de Pedro e abocanha a cabeça de uma menina, ele a sacode como um tubarão tentando arrancar um pedaço de carne, lhes confesso que não consegui piscar neste momento nem me mover da poltrona do cinema.

    Fugindo dali, Pedro e seu irmão, sua mãe e seus filhos tentam procurar algo seguro para ficar, fugindo de uma praga que agora pode ser literalmente qualquer pessoa. Jaime contata uma senhora que diz que o único modo de terem paz é acabando com o “apodrecido” antes que ele finalize seu processo. Não existem para onde correr, e lidar com os problemas causados é a única opção.

    O Mal Que Nos Habita é um longa que cumpre bem sua proposta, não se deixando levar pelos jumpscare’s tão comuns e mal utilizados no cinema americano e demonstra que ainda hoje pode-se fazer um filme de terror frontal e de uma temática tão abordada como possessão demoníaca de forma ágil e impactante.

    Com um baixo orçamento, O Mal que nos Habita proporciona cenas fortes e criativas, se inspirando pelo boddy horror de mestres como John Carpenter e David Cronenberg nos proporciona, nojo, aflição e angústia, tudo aquilo que queremos ver em um filme de terror.

    Mas também o filme tem seus pontos negativos, por vezes as atuações parecem derrapar aqui e alí, o que realmente segura as pontas é o enredo que bebe muito do folk terror, se apropriando de elementos culturais próprios para criar um cenário aterrador. Lhes confesso que algumas cenas careciam de mais nojo, principalmente em alguns dos últimos momentos do filme, mas consegue ser efetivo naquelas que se propõe.

    Certos momentos do roteiro parecem de certa forma “jogados”, não sendo um furo de roteiro, mas na minha opinião precisavam de um melhor desenvolvimento.

    A utilização de câmeras na mão e colorações que vão do verde ao azul dão às cenas do filme um ar de desolação, onde nada pode te ajudar, onde a purulência pode estar em todo e qualquer lugar. Um ponto legal que gostei do filme é como os personagens principais agem, sempre angustiados e de certa forma atrapalhados, dando uma fidedignidade para suas ações.

    VEREDITO

    Para mim este filme pode agradar muito quem gosta de um terror mais visceral e pesado, sabendo dosar de forma, até mesmo desdosada, as cenas fortes que explora, como um bom álbum de death metal. Se utilizando de cenas práticas e um universo compacto para conduzir a trama. Talvez o filme não agrade a todos, onde em muitos momentos remeteram as capas dos álbuns do Cannibal Corpse. Talvez você não tenha gostado dos momentos do texto onde contei as partes do filme, mas fique tranquilo a lapada é seca.

    Nossa nota

    4,0 / 5,0

    Confira o trailer do filme:

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