‘O Menino e a Garça‘ é a mais nova animação de Hayao Miyazaki e dos Studios Ghibli. O filme é o responsável por tirar Miyazaki da aposentadoria e em seus 83 anos foi indicado pela quarta vez ao Oscar. O diretor japonês faz uso do filme como um profundo e longo desabafo, sobre o peso de criar mundos, seu legado, mas acima de tudo, a perspicácia humana ante desafios tão íntimos quanto o luto, a perda e a perseverança em viver.
Ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, acompanhamos a história do jovem Mahito, que vê sua vida mudar quando sua mãe internada morre em um acidente inesperado. Logo após o fato, ele se muda junto de seu pai para a casa da irmã de sua mãe, com quem o pai dele agora vai se casar. Enquanto tenta se acostumar com a vida no interior, Mahito testemunha estranhos fatos que giram em torno de uma misteriosa torre localizada nas cercanias da propriedade.
SINOPSE
Mahito, um menino de 12 anos, luta para se estabelecer em uma nova cidade após a morte de sua mãe. Quando uma garça falante conta para Mahito que sua mãe ainda está viva, ele entra em uma torre abandonada em busca dela, o que o leva para outro mundo.
ANÁLISE
Muito do subtexto de O Menino e a Garça vem de momentos específicos da vida de Miyazaki, acontecimentos recentes e o temor sobre o futuro dos Studios Ghibli. Pois graças ao flop que foi Aya e a Bruxa, o primeiro filme 3D do estúdio, que é dirigido pelo filho do próprio Hayao, Gorō Miyazaki, alguns alertas vermelhos e temores surgiram. O longa, atingiu a marca de 28% de aprovação no Rotten Tomatoes pela crítica especializada, passou a ser um medo para os fãs, que viam nele, o provável futuro do estúdio criado por Hayao Miyazaki (diretor de Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro, Vidas ao Vento), Isao Takahata (diretor de O Túmulo dos Vagalumes, O Conto da Princesa Kaguya e PomPoko – A Grande Batalha dos Guaxinins) e Toshio Suzuki .
‘O Menino e a Garça’ nos envereda por um mundo em que a guerra é um temor constante. Além da clara referência, Mahito cresce nos anos finais da Segunda Guerra Mundial, assim como Miyazaki. Mesmo tendo um bom coração, o jovem parece viver no limite quase sempre, como quem parece o tempo todo confuso com o que está vivendo e sentindo. Com partes obscuras de sua personalidade ressurgindo o tempo todo, Mahito se mostra como todos nós.
Quando se muda para o interior, o jovem precisa se adaptar e se entender como uma parte importante de uma nova estrutura familiar, capitaneada por seu pai, Shoichi – um importante engenheiro – e sua recém-descoberta madrasta Natsuko.
Quando a presença das figuras de sua vida parecem não fazer sentido, os dias de Mahito no interior mudam para sempre quando uma Garça Real o conta que sua mãe está viva, e logo depois, sua tia/madrasta desaparece. A Garça então revela saber onde elas estão, dando início à uma aventura cujo ritmo é dado por Hayao Miyazaki, sua história e seu desabafo.
Mesmo que muitos entrem na sala de cinema sem entender o atual panorama dos Studios Ghibli, ouso dizer que ‘O Menino e a Garça’ entregam uma divertida aventura. Mas não se mostra como o melhor filme de Miyazaki até aqui. Ao longo de sua jornada, Mahito é levado até um outro mundo, em que os perigos podem surgir das mais fantásticas maneiras possíveis.
Com arcos, arte e estrutura surrealistas, vemos que o filme semibiográfico aborda detalhes da história dos fundadores do Studio Ghibli, mais especificamente, o temor destes em relação ao futuro.
Quando adentram neste mundo fantástico, Mahito se vê longe de tudo que conhece e precisa realizar sua missão como pode, aos trancos e barrancos. Descobrindo mais sobre aquele mundo e sua origem como quem passou toda vida no escuro, mas agora, opta por tatear na escuridão um caminho, uma saída de um lugar completamente desconhecido.
VEREDITO
O longa talvez seja a magnum opus de Miyazaki, ou talvez eu a entenda assim, como o filme de sua vida. Em sua perfeição técnica, ‘O Menino e a Garça’ nos colocam na beira do assento à todo o tempo. Seja observando maravilhados o que vemos em tela, ou decepcionados com algum desenvolvimento da trama, mas vidrados, o tempo inteiro.
E esta maravilha talvez gire em torno do que nos torna essencialmente humanos. Já que mesmo sendo tão culturalmente distante de nossa realidade, o longa é acima de tudo identificável. Embora uma realidade fantástica e diferentes aspectos desta se desenrolem em tela a todo o tempo, com poderes magistrais, e grandes repercussões, fatos surrealistas, ao final deste, o longa acaba sendo sobre o que os personagens sentem e como eles viverão neste mundo, sendo ele fantástico, ou não.
Ainda que o filme funcione como um episódio inteiramente novo da já longeva carreira de Hayao Miyazaki, compreendê-lo como o que ele é, um desabafo, talvez seja o mais cauteloso. Na animação, o diretor aborda no subtexto sua relação com o homem que descobriu seu talento – seu mentor e parceiro Isao Takahata -, como era viver em tempos de guerra, e sua relação com aqueles com quem trabalhou ao longo dos anos. (Isso mesmo, o Rei Periquito é baseado em uma pessoa específica, o próprio Miyazaki.)
Sem pegar na mão dos espectadores sendo autoexplicativo, Hayao Miyazaki nos envereda em um primeiro ato lento, mas rapidamente dá ritmo à sua história. Ao fugir dos temas aos quais está habituado, Miyazaki não aborda a natureza como o tema central – como fez em suas outras obras. Ele aborda o que é viver e navegar entre pessoas tão diferentes, em um mundo tão real que chega a beirar o surreal.
5,0 / 5,0
Confira o trailer:
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