É possível gostar de um filme sem entendê-lo por completo?

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Recentemente assisti a Aniquilação (Annihilation, 2018), filme da Paramount comprado e distribuído pela Netflix, que é escrito e dirigido pelo excelente Alex Garland (Ex Machina, 2014). Após terminar, fiquei diante de mais uma daquelas situações onde, por mais que eu me esforçasse, não conseguia entender a obra por completa. Após ler e assistir algumas explicações – leia nossa crítica -, fui traçando a minha própria análise, no entanto precisarei de mais tempo para conclui-la.

Isso me fez pensar em outras obras que me causaram o mesmo efeito e me fizeram questionar se é possível gostar de um filme sem entendê-lo, e me fizeram também concluir que sim, é possível. Uma das obras que me ajudaram a chegar a essa afirmação foi Interestelar (Interstellar, 2014). O longa de Christopher Nolan dividiu opiniões quando foi lançado, mas, ao mesmo tempo, conseguiu fazer muitas pessoas passarem horas discutindo sobre teoria da relatividade, buraco de minhoca, entre outros. Além disso, o final deixou muita gente confusa, inclusive eu, por outro lado, fiquei encantado com o filme e até hoje me pego pensando nele. Mas como explicar isso?

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Para começar, é preciso deixar claro que uma obra cinematográfica é um conjunto de detalhes que, unidos harmonicamente, conseguem alcançar o seu propósito, seja ele fazer rir, chorar, aterrorizar, as emoções são diversas e essa ligação emocional com o espectador é graças à direção, roteiro, trilha sonora, montagem, fotografia, atuações e muitos outros aspectos técnicos.

Neste texto não iremos nos aprofundar nos detalhes de cada aspecto técnico de uma obra cinematográfica seja ela curta ou longa-metragem, mas em como esses aspectos cinematográficos podem alcançar esses propósitos individualmente, sem necessariamente precisar de outro. Obviamente, sabemos que quando há um “casamento” entre eles a experiência se torna ainda mais inesquecível. Tenho certeza que há alguma cena inesquecível na sua memória e que ficou registrada graças à uma atuação, uma música, ou até mesmo uma paisagem que foi mostrada por um ângulo diferente. Qual fã de Harry Potter não sente uma nostalgia ao ouvir aquela trilha clássica do John Williams? E qual fã de Star Wars não fica arrepiado ao escutar a marcha imperial?

No meu caso, quando assisti a Interestelar pela primeira vez, o que mais me marcou foi a música do Hans Zimmer, a relação do Cooper (Matthew McConaughey) com a filha e a representação do espaço, ou seja, uma parte do roteiro, as atuações, a trilha sonora e os efeitos especiais e práticos conseguiram me conectar ao filme de maneira incrível. Mesmo sabendo que o longa não é perfeito, eu tenho uma relação muito forte com ele e não entendê-lo por completo não diminuiu minha experiência.

Se você buscar no Google por “filmes difíceis de entender” com certeza irá encontrar dezenas de listas e no topo de todas delas vai estar 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), do Stanley Kubrick, um dos filmes mais complexos de todos os tempos. Entretanto, também vai perceber que ele tem muitos fãs e, boa parte deles, não conseguiu entender a obra por completa até hoje, mesmo assim ficam encantados independente da quantidade de vezes que assistam ao filme, seja pela fotografia, pela perspectiva, pelos enquadramentos ou pelo perfeccionismo do diretor. Isso só comprova o quanto a afirmação presente no título deste texto é verdadeira.

Outra produção que, com certeza, vai estar nessas listas é Donnie Darko (Donnie Darko, 2001). Escrito e dirigido pelo estadunidense Richard Kelly, enquanto tinha apenas 26 anos, esse trabalho rendeu dezenas de textos e vídeos de pessoas tentando explica-lo (se é que isso é possível), pois a maioria dos espectadores não entenderam, mas isso não é de se espantar já que o roteiro é um dos mais confusos já escritos. Ainda assim, muitos daqueles que não entenderam o defende com unhas e dentes.

Outro fator que deve ser analisado é como esses filmes mais complicados de entender e com finais ambíguos conseguem dar margem para interpretações das mais variadas. Saímos da projeção discutindo teorias, e esses debates duram horas, dias e até meses. Um dos exemplos mais recentes foi a discussão sobre o peão de A Origem (Inception, 2010), afinal ele caí ou não? Para alguns sim, para outros não, e isso que é interessante, pois todas as interpretações são válidas, e com isso passamos a gostar ainda mais da obra.

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Em Aniquilação também tem um final ambíguo, deixado em aberto para que o público crie as suas próprias análises, além de deixar um gancho bem interessante para uma futura continuação.

Portanto, posso concluir que, depois dessa breve análise, tenho ainda mais certeza que não entender um filme de verdade não nos impede de aprecia-lo, o cinema nos permite isso. Seria essa a tão famosa “magia do cinema”?

Conte pra nós aí nos comentários, quais filmes você não entendeu e ainda assim não perde uma reprise. E se curtiu o tema, não deixe de compartilhar com seus amigos em suas redes sociais 😉

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CRÍTICA – Aniquilação (2018, Alex Garland)